quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A beleza feminina desfila na sorveteria Bali

Carlito Lima e Majella na sorveteria Bali

Geraldo de Majella


Faz alguns anos que eu escolhi a sorveteria Bali como o meu escritório, e em suas cadeiras e mesas tenho passado as tardes, na maioria das vezes. É para mim o melhor lugar que encontrei na cidade de Maceió. A sorveteria fica na praia de Pajuçara, de onde se pode contemplar a beleza do mar esverdeado e sentir a brisa que sopra do oceano para a terra.

Sentado, tomando sorvete, café e jogando conversa fora − essa tem sido a minha gostosa rotina nos últimos treze anos em Maceió. Uma ressalva: quando saio do trabalho, claro. Os amigos que passam, sentam e conversam; fala-se de coisas interessantes da vida de cada um e da vida alheia, lógico.

Entre os meus muitos e queridos amigos há um com quem religiosamente sento para conversar e tomar sorvete: é o escritor e cronista Carlito Lima. O mais entusiasta entre os amigos pelas coisas de Alagoas, pelo mar, pelas comidas, pelos bens imateriais e, mais que qualquer um de nós, um admirador da beleza feminina.

No dia 23 de dezembro, antevéspera de Natal, telefonei para ele, como faço diariamente, e perguntei: − Capita, vamos à Bali, olhar as mulheres bonitas?

Ouvi a resposta pronta: − Vamos, meu irmãozinho.

Tomamos sorvetes de sapoti, mangaba e pitanga, pedimos depois café com leite e arrematamos com pão de queijo. Passamos uma boa parte da nossa tarde e início da noite refletindo sobre uma situação que já tínhamos observado, mas nunca havíamos nos debruçado sobre o tema, seriamente.

Talvez por estarmos na antevéspera do Natal e nos acharmos mais atentos para o movimento da sorveteria, o entra-e-sai de crianças, jovens, mulheres e casais. Em menos de vinte e cinco minutos, quatro homens − um italiano, um alemão, um francês e um português − acompanhados de lindas mulheres brasileiras e negras.

Esse fato realmente chamou a nossa atenção; talvez haja acontecido outros encontros, mas num espaço de tempo maior e não tínhamos notado como hoje.

A satisfação e o encantamento deles − dos gringos − pelas mulheres era visível, indisfarçável. Não havia possibilidade de fingimento. Mas não foram apenas esses quatro casais que estivemos, eu e Carlito, a observar extasiados como se fôssemos fiéis defensores da mulher brasileira, e da alagoana em especial, uma espécie de defensores tardios de uma exclusividade imaginária.

Sem que combinássemos, cada um de nós ergueu muros intransponíveis para que os estrangeiros, mesmo os portugueses, fossem impedidos de escalar, ou seja, namorar as “nossas ‘mulheres; no meu caso, particularmente, as mulheres negras, e muito menos ainda namorar em nossa presença. Pairou um sentimento de ciúme extremo.

Esse delírio ou crise de ciúmes tardio pode ser imputado aos cafés. As nossas imaginações, sonhos; posso falar sem pudor para os internautas: os nossos ciúmes chegaram ao ápice durante a tarde.

Silenciosamente passamos a tarde da antevéspera namorando aquelas belíssimas mulheres negras, e nenhuma delas nos dirigiu o olhar, nem por compaixão; balbuciávamos palavras de afeto, até juras de amor eterno; prometemos em voz baixíssima e nem assim elas percebiam a nossa presença. Estavam cegas para nós dois, e mesmo sentados em posição estratégica na sorveteria, de nada valeu.

Ensaiamos um concurso particular e estipulamos notas por atributos anatômicos. Os quesitos obrigatórios, como bumbum, seios e coxas, foram votados na maioria dos casos com notas máximas: dez, com louvor e distinção.

A noite foi caindo, os casais felizes com suas negras saradas e ditosas foram saindo em direção as suas alcovas, imagino, e nós, membros de um júri fictício, pagamos a conta e fomos cada um para a sua casa, assistir ao Jornal Nacional e à novela das oito.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Sebage, um roqueiro alagoano

Jorge Barboza - Sebage


Sebage e Júnior Almeida


Geraldo de Majella

Sebastião Jorge Lins Barboza (Sebage) [1961], jornalista, compositor e cantor, nasceu em Maceió no dia 23 de janeiro de 1961 − apenas isso, como diz. A cidade que considera sua terra natal é Porto Calvo, onde viveu a infância e parte da adolescência. Filho de Geraldo de Gusmão Barbosa e Maria Stela Lins Barbosa.

As primeiras letras, aprendeu no grupo escolar Guedes de Miranda, em Porto Calvo, aos sete/oito anos; no antigo curso primário, estudou no grupo escolar Tavares Bastos, em Maceió [praça Centenário, Farol]. A família retorna a Porto Calvo e, durante os anos 1970, fez o curso ginasial no ginásio N. S. da Apresentação; depois, em Maceió, para onde retornou, concluiu o ginásio e fez o cientifico no Colégio Sagrada Família.

Aprovado no vestibular de comunicação da Universidade Federal de Alagoas – UFAL, cursou jornalismo e fez parte do movimento estudantil na década de 1980, quando os estudantes ampliaram a sua participação na vida política de Alagoas. O movimento estudantil influiu decisivamente nas eleições de parlamentares, tanto para as Câmaras de vereadores em Maceió e em outras cidades do estado, como para a Assembleia Legislativa e para a Câmara Federal.

Ao se filiar ao Partido Comunista do Brasil – PCdoB passou a vivenciar as mobilizações estudantis e delas faz parte, mas foi como jornalista de periódicos alternativos que mais é identificado, e passa a participar dos festivais de músicas organizados pelo Diretório Central dos Estudantes − DCE.

No início dos anos 1980 participou do grupo Caçoa Mas Num Manga, que tem a seguinte composição: Gal Monteiro, Aline Marta, Rosália Brandão, Júnior Almeida, Emídio Magalhães. Alguns desses músicos depois (1984) fizeram o show “Babe Bicho”, no Teatro de Arena e em outros palcos ao ar livre em Maceió. A participação no Babe Bicho foi de Zé Barros, Zé Carlos e Baygon, Nelson Braga, Mirna Porto e Eliane Vielmond.

Esse período, a década de 1980, foi produtivo e de muita criatividade. Bandas surgiam e logo se subdividiam com outras formações; foi uma época de afirmação de uma geração de músicos talentosos que nem sempre continuaram nos palcos alagoanos, pois alguns se dedicaram a outras atividades profissionais, como o jornalismo, a arquitetura, a carreira jurídica etc.

Sebage conta que: “O Sangue de Cristo já era o rock que eu queria fazer. Os integrantes do Caçoa foram fazer outra coisa − a Rosália e a Aline criaram uma banda, Pensão Familiar, mas eu, naquela época, era menos sertanejo do que hoje; era, como se dizia então, dark. Muniz Falcão na bateria, Sílvio Marne na guitarra e Jatiúca no baixo. Não tinha teclado, canções e letras meio punks, meio apaixonadas. "’A Galinha Sangra' e o ‘O Montepio dos Artistas’ estão entre elas”.

A música não é o que se poderia afirmar como uma influência da família, pois em sua casa ninguém é músico, mas a “mosca” da música picou-o e desde a juventude tem dividido o seu tempo e emoções entre os palcos e as redações de jornais.

As influências musicais têm mudando ao longo do tempo. Houve época em que Roberto Carlos, Ronnie Von, Wanderléia, Rita Lee, Raul Seixas, Secos & Molhados e Ney Matogrosso catalisavam os seus interesses. Mas sem renegá-los foi se aproximando de outros grupos e cantores brasileiros e internacionais como: O Som Nosso de Cada Dia, Arnaldo Baptista, Beatles, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, John Lennon, Joan Baez, Suzi Quatro, Genesis, David Bowie, Alice Cooper, Elton John, Diana Ross, Fagner, Beto Guedes, Milton Nascimento, Silvio Rodrigues, Serge Gainsbourg, Jacques Brel, Patti Smith, Siouxsie and the Banshees, The Smiths e New Order.

A efervescência cultural oriunda do movimento estudantil é fecunda e permite que jovens talentosos transitem da música para o teatro e vice-versa. O rock foi o gênero musical com que mais se identificou; a política foi deixada para trás e o interesse pela música, pela agitação cultural e pela profissão de jornalista o absorveu.

A banda Sangue de Cristo foi mais uma experiência vivida em Maceió, mas que não durou muito tempo. A banda, de nome esquisito para a época, se apresentou no Teatro de Arena Sérgio Cardoso com o show ‘Sangue de Cristo contra o Plano Cruzado” e em barzinhos da cidade.

A maioria das suas músicas foi composta com os parceiros paulistas Guatá e Leandro Woyakovski, e em menor número com Marcelo Cordeiro, Rosália Brandão, João Américo e Aline Marta. Não tem registrado em seus arquivos o número exato de quantas músicas compôs, sabe apenas que são mais de 100, sendo cerca de 30 gravadas, algumas delas mais de uma vez. O guitarrista paulista Beto Levèfre foi quem mais gravou suas músicas.

O menino tímido e bem-comportado na infância se torna quase irreconhecível com as suas performances nos palcos, liderando grupos de jovens roqueiros. Percebe que Maceió ficara pequena e, desejoso de outros ambientes, em 1988 vai morar em São Paulo, onde trabalha e canta na noite paulistana, adotando Sebage como nome artístico.

Como diz: “Em Sampa, no final dos anos 1990, criei uma banda de covers, The Ziggy Soundz, para cantar coisas de David Bowie, T. Rex e Echo and the Bunnymen nas espeluncas underground da noite paulistana, mas chegamos até o Café Piu Piu, templo roqueiro do tradicional bairro boêmio Bixiga. E viramos outra banda, +Jesuítas+, que circulou por aí mesmo, no underground”.

A banda +Jesuítas+ fez o show “Jesuítas no Paraíso” e a trilha sonora do filme “Amazonas”, do cineasta e fotógrafo boliviano Joakin Carvajal. O show as “Wandeca’s Closet”, em homenagem à cantora Wanderléia, símbolo da jovem-guarda, foi um momento marcante da banda e contou com a produção de Moisés Santana.

Outra participação em coletânea aconteceu em Maceió após retornar da capital paulista, em 2006, no projeto Palco Aberto, que resultou num cd em que a faixa “One More Night”, de sua autoria, é incluída.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Nelson Rodrigues

Nelson Rodrigues com a camiseta dos eu Fluminense


Nelson trabalhando na redação








“ A bola sabe quando vai ser gol e se ajeita para o gol.”

A bola tem um instinto clarividente e infalível que a faz encontrar e acompanhar o verdadeiro craque. Sim, amigos: há na bola uma alma de cachorra.”

“ O tempo é uma convenção que não existe, nem para o craque nem para mulher bonita.”

“ Djalma Santos põe, no arremesso lateral, toda a paixão de um Cristo Negro.”

“ Sou tricolor, sempre fui tricolor. Eu diria que já era Fluminense em vidas passadas, muito antes da presente encarnação.”

“ Nossa literatura ignora o futebol, e repito: nossos escritores não sabem cobrar um reles lateral.”

“ O escrete é a pátria em calções e chuteiras.”

“ Pelé podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumprimenta-lo com íntima efusão: - Como vai, colega?”

“ O supercraque não precisa jogar bem. O perna-de-pau é que tem de se matar em campo.”

“ Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.”

“ A base sentimental da torcida é o ódio, e não o amor. Sem ódio não há torcida possível.”

“ No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio.E, se quiserem acreditar, vaia-se até mulher nua.”

“ Tenho dito e repetido que Zico é o maior jogador do mundo. Há os que negam, cegos pelo óbvio ululante. Mas, se a evidencia quer dizer alguma coisa, não cabe dúvida, nem sofisma.”

“O Flamengo tem mais torcida, o Fluminense tem mais gente!”

"Grandes são os outros, o Fluminense é enorme.”


Fonte: Maurício, Ivan [ Seleção e organização] 90 minutos de sabedoria – A filosofia do futebol em frases inesquecíveis,

Nelson Falcão Rodrigues (Recife, 23 de agosto de 1912 — Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980) foi um importante dramaturgo, jornalista e escritor brasileiro.
Nelson Falcão Rodrigues nasceu em Recife no ano de 1912. Mudou-se em 1916 para a cidade do Rio de Janeiro. Quando maior, trabalhou no jornal "A Manhã", de propriedade de seu pai. Foi repórter policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. Sua primeira peça foi A Mulher sem Pecado que lhe deu os primeiros sinais de prestígio dentro do cenário teatral. O sucesso mesmo veio com Vestido de Noiva, que trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista em nossos palcos. A consagração se seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no grande representante da literatura teatral do seu tempo, apesar de suas peças serem taxadas muitas vezes como obscenas e imorais. Em 1962, começou a escrever crônicas esportivas, deixando transparecer toda a sua paixão por futebol. Veio a falecer em 1980, no Rio de Janeiro.


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nelson_rodrigues

domingo, 19 de dezembro de 2010

Lula e o povo

Lula no estádio da Vila Euclides

Lula com o povo

17/12/2010 - 08h12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou o ritmo de viagens pelo Brasil no último mês de governo. As despedidas ao estilo Silvio Caldas têm sido criticadas. Para alguns, Lula estaria quebrando a liturgia do cargo, comportando-se como um caudilho que não consegue suportar a perda das mordomias presidenciais. Na opinião de outros, ele seria emotivo demais para um cargo que exigiria maior compostura. Fala-se até em desrespeito institucional.

São críticas injustas. Mais uma vez, o presidente é subestimado. Atribuem a ele intenções menores, como se o contato com a população fosse uma manipulação e não um sentimento real.

Ora, Lula é um presidente com uma trajetória pessoal e política diferente dos que governaram antes. É o primeiro metalúrgico eleito para comandar o país. Não esconde que é emotivo, chorão. Fala que governa com o coração. Nunca quis se comportar como um intelectual ou um lorde na Presidência.

Nos dias 13 e 14 de dezembro, em viagem ao Ceará, Paraíba e Pernambuco, Lula fez discursos e gestos civilizadores do ponto de vista político.
Em Missão Velha (CE), falou para uma multidão que aguardava sua chegada numa estação de trem. Ele havia andado no vagão de passageiros VIPs da ferrovia Transnordestina. Encontrou homens e mulheres sorrindo e chorando ao ver um presidente com o qual se identificavam.

No característico estilo informal, deixou o discurso escrito de lado e improvisou. Disse que os nordestinos tinham o direito de ambicionar ser mais do que serventes de pedreiro em São Paulo. Subiu o tom de voz para afirmar que podiam sonhar em ser médicos, arquitetos, advogados. Retratava a sua própria história. Desceu do palanque e foi abraçar, beijar e tirar foto com quem quisesse.

Na visita a São José de Piranhas (PB), andou dentro de um túnel que está no começo da construção. Quando ficar pronta, em 2012, a obra servirá de leito à transposição das águas do rio São Francisco. Terá 15 quilômetros.

Informado de que um grupo aparecera fora do roteiro, ele, mesmo atrasado, foi falar com cerca de 100 pessoas _a maioria funcionários da obra e seus familiares. Um adolescente veio com o pai e a mãe de João Pessoa (horas de carro em estrada ruim) para conhecer o presidente. Os dois se abraçaram e choraram.


Lula discursou sobre a emoção de um "filho de dona Lindu" executar algo que o imperador Pedro 2º sonhara realizar. Mais uma vez, repetiu que as mudanças inegáveis no Nordeste, região que tem crescido acima da média nacional, criaram oportunidades para melhorar de vida de todos ali. Incentivou nordestinos a ter orgulho de sua origem. Reconheceu que faltava muito por fazer, mas que todos deveriam ajudar Dilma Rousseff a fazer mais e melhor. Disse que, fora da Presidência, gostaria de voltar ali e participar da inauguração do canal.

Nesse mesmo dia, em Salgueiro (PE), numa tarde com 38ºC, entregou títulos de propriedade a famílias que serão reassentadas numa área rural beneficiada pela transposição. O discurso das outras solenidades se repetiu em linhas gerais, mas despertou atenção uma conversa entre uma moça e o presidente ao final, quando ele tradicionalmente desce do palanque para atender aos pedidos de fotos, beijos e abraços.


Sem os incisivos superiores, ela pediu a Lula que lhe arrumasse os dentes. Quando um repórter se aproximou, ela fechou a boca.


Passou a falar com Lula aos murmúrios. Olhos marejados, o presidente chamou o prefeito da cidade. Perguntou se ele havia recebido verba do programa "Brasil Sorridente". O prefeito disse que sim.

O presidente pediu, então, que o prefeito cuidasse pessoalmente do caso da moça, que ele iria acompanhar mesmo depois de sair do Palácio do Planalto. Virou-se para ela e deixou claro que não seria preciso pagar nada. Repetiu que era um direito dela e que ela fazia muito bem em querer colocar dentes novos, para ficar mais bonita.

Despediram-se com um beijo e um abraço daqueles de urso que Lula costuma dar. Ela se afastou e sorriu. O repórter quis saber seu nome. Envergonhada, ela tapou a boca e disse que não queria conversa.


Antes de entrar no carro para outro ato, Lula falou com Júlio Bersot, assessor que pega todos os bilhetes e pedidos nos eventos. Pediu que acompanhasse o caso da moça e que cobrasse o prefeito.

Nesses dois dias, Lula discursou e chorou muito. Não consta que tenha dito algo impróprio para um presidente com a sua biografia.

Regra do jogo

As críticas sobre o comportamento de Lula em relação às instituições devem ser vistas pelos dois lados. É fato que ele passou a mão na cabeça de muitos companheiros acusados de crimes, o que é um erro para quem deve ser o primeiro a dar o exemplo. Mas tem a seu favor, pelo menos, duas atitudes que valeram mais do que palavras.

Nomeou quatro vezes para procurador-geral da República o candidato mais votado na lista do Ministério Público. Esse cargo tem o poder de pedir abertura de investigação contra o presidente no STF (Supremo Tribunal Federal).
Também fugiu da tentação de mudar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato.

É salutar que Lula seja criticado, mas ele tem o direito de espernear e de apresentar seus argumentos. Tem o direito de ir aonde o povo está. Tem o direito de defender o seu governo. Não faz nada contra a regra do jogo. Está fazendo política.

Se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os tucanos tivessem feito o mesmo em relação ao bom trabalho do PSDB entre 1995 e 2002, não estariam no mato sem cachorro em que estão.

Lula deixa Brasília com popularidade recorde. A fotografia na história será bem mais positiva do que negativa. Cumpriu a promessa básica de melhorar a vida dos mais pobres. Ampliou a relevância do Brasil no mundo. Elevou a auto-estima dos brasileiros. Errou na política, sobretudo ao contrariar a pregação ética do PT, como mostrou o mensalão. Houve excesso de pragmatismo nas alianças políticas, mas ele precisou delas para governar um país complexo, ainda atrasado em muitos aspectos.

No balanço geral, fez um bom governo. Se comparado às expectativas que o cercavam na eleição de 2002, realizou uma ótima administração.


Kennedy Alencar, 43, colunista da Folha.com e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve na Folha.com às sextas. É comentarista do telejornal noturno RedeTVNews. E apresenta o programa de entrevistas "É Notícia", às 0h15 na noite de domingo para segunda.



quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Testamento Diante da Morte

Geraldo de Majella

Paulo Décio e Majella

Álvaro Guimarães, o cardiologista José Wanderlei e Majella
O escritor Carlito Lima, Majella e a médica Cidinha Madeiro

Aos 14 anos

Com Isabela na praia do Sonho Verde em Maceió

Geraldo de Majella


A morte é uma ave agourenta que vive sobre as nossas cabeças. É uma certeza que temos, e ninguém duvida que um dia vai morrer. É a única certeza na vida. No meu caso em particular, venho espantado esse bicho de tempos em tempos, que se aproxima e tenta me bicar. É um bicho feio, sem nenhum ponto de candura ou beleza. É tristeza pura. Voos rasantes, confesso, sobre a minha cabeça, essa ave agourenta fez, mas não logrou êxito, até o momento, evidentemente.

O primeiro encontro com a morte. Quando eu tinha quase 15 anos, num carnaval em Anadia, num gesto em que misturei afoiteza e irresponsabilidade, montei num cavalo em pelo, sem arreios e cela, açoitando o animal, que desabalou como se estivesse competindo numa raia do Jóquei Clube. Ao tentar fazê-lo parar, ocorreu o pior: bruscamente o cavalo parou, e o “jóquei” anadiense se desequilibrou e caiu de cabeça no chão. O resultado foi a quase morte: um corte profundo entre a testa e o meio da cabeça, restando uma poça de sangue em terra batida e um corte de grande profundidade. Levei 22 pontos.

Perda dos sentidos, remoção para Maceió e o fim dos festejos carnavalescos para a minha família; preocupação, dor, sofrimento, tudo causado por mais umas das minhas peraltices. A morte andou pertinho. Vi-a pessoalmente. Dei um chega pra lá e sobrevivi sem sequelas. Restou o trauma de andar a cavalo.

O segundo encontro. Adulto e morando em São Paulo, no dia 14 de maio de 1993, no Hospital do Servidor Público Municipal, nascia Isabela Camargo, minha filha. Apreensivo para que não houvesse troca do bebê – crime usual nos hospitais brasileiros –, me informei antecipadamente por onde a criança passaria obrigatoriamente e em posição de sentido me postei. Naquele momento não era um pai, mas um soldado, um guarda pretoriano.

Isabela nasceu, a enfermeira gentilmente me mostrou e pediu que olhasse a pulseira que a identificava. O meu contentamento era incontido, a enfermeira se dirigia para o berçário e o pai, “tonto e babão”, sem se aperceber acompanhava até ser educadamente impedido de entrar no ambiente dos recém-nascidos.

Tudo era alegria, em companhia dos amigos Luiz Augusto Cannizzaro [Guto] e Paulo de Tarso Dutra, o PT, fomos à noite a boate Blue Note, na Avenida São Gabriel, assistir ao show do músico Muri Costa. Tomei todas, e lá pelas três da manhã saímos eu e Guto. Qual não foi a nossa surpresa, no escuro da rua tropeçamos num assaltante que agia calmamente. A nossa alegria, a minha mais do que a dos amigos, se transformou num tormento.

O bandido, que tentava arrombar um automóvel de arma em punho, nos acusava de bandidos e com a arma engatilhada apontou na direção do Guto e o atingiu pouco abaixo do olho esquerdo. O sangue escorreu pelo rosto, molhando a camisa; ato contínuo, se vira para mim apontando o trabuco e vociferando impropérios e as gírias paulistanas.

Esses poucos segundos duraram uma eternidade. A alegria do nascimento da filha, a possibilidade de morrer de graça por um assaltante que se arvorava em autoridade, e nós, dois jovens bêbados e cheios de vida, iríamos ficar estendidos no asfalto de uma das ruas do Jardins paulistano− bairro nobre, nós pobres. Quanta coisa passou pela minha cabeça naqueles instantes fatídicos. O desespero contido diante da ameaça de morte me ocorreu, interrompendo “respeitosamente” a falação do bandido, quase pedindo licença.

Entrei na dele e falei calmamente: “Ô mano, nós somos da área, você tá fazendo o seu, cara. Estamos indo pra casa, deixa a gente.” O dialogo foi curto, da minha parte; na deixa, o Guto, que estava com as mãos no rosto e tinha muito mais conhecimento das gírias paulistana, também falou, suplicando diante da fera. O resumo da quase tragédia foi o seguinte: saímos com vida, como bandidos, e em direção ao hospital 9 de Julho para cuidar do ferimento do amigo.

Ás 5 da manhã, mais ou menos, tomamos a última cerveja numa padaria perto do hospital e fomos cada um para a sua casa.

O terceiro encontro. Acordei cedo, como é meu hábito, tomei banho e me dirigi para o Flat do Hotel Jatiúca às 6h30, para o café da manhã com o amigo Ricardo Aragão. O café foi tomado, conversamos, e como Ricardo tinha pressa para chegar a Delmiro Gouveia, cidade localizada no sertão, a 320 km de Maceió, nos despedimos e marcamos novo encontro para o dia seguinte.

Dirigi-me ao estacionamento e encontrei um dos pneus do meu carro baixo. Iniciei o trabalho para a troca do pneu, senti uma dor no peito, mas na hora não a identifiquei bem. Mesmo assim continuei a troca, suado, e fui para casa tomar banho e trocar a roupa.

A dor persistia; tomei banho, troquei a roupa, pensativo e tenso, senti que poderia ser algo sério. Vi-me diante da possibilidade de que a dor poderia ser sinal de um infarto. Mantive a calma, aparente, fui ao quarto da Isabela, acordei-a e pedi que fosse comigo ao hospital, porque estava me sentindo mal.

Fui dirigindo para o hospital da Unimed. Durante o percurso, passei a minha carteira com os documentos e cartões de crédito para Isabela, e pedi-lhe que anotasse o número das contas e as senhas dos cartões de créditos. Iniciei o que eu estou denominando de testamento oral. Aos dezessete anos, Isabela anota as informações que vou passando. Percebo que os seus olhos vão ficando vermelhos e lágrimas descem pelo rosto. Situação dura para ela, uma adolescente que foi acordada para vivenciar tal situação.

A intenção era não criar nenhum tipo de revoada de amigos ou parentes até o hospital. Por isso mesmo recomendei à Isabela que não avisasse aos nossos parentes de Alagoas e que não telefonasse para São Paulo, onde mora a sua avó [minha ex-sogra] materna, sua mãe e seus tios. Nada de alarme. Serenidade era tudo o que eu estava querendo. Ainda no trajeto até o hospital da Unimed, pedi que ligasse para o meu colega de trabalho, Rodrigo Marques; é um cara “safo” e poderia, como de fato ocorreu, me ajudar naquele momento quase desesperador.

Fui atendido pelo Dr. Cid, amigo dos tempos em que estudávamos no Colégio Marista. Rapidamente me socorreu e diagnosticou o infarto. Perguntou quem era o meu cardiologista, e eu lhe disse que era o Dr. José Wanderley Neto. Sem perder tempo ligou para o setor de cardiologia da Santa Casa de Misericórdia de Maceió, avisou ao Dr. Mário Martiniano, médico da UTI coronariana, que eu estaria chegando para os procedimentos médicos necessários.

Deitado num leito do hospital da Unimed, continuei o meu testamento oral, para Isabela. Pedi a Rodrigo que ligasse para o camarada Júlio Bandeira, médico e amigo, pois ele também se encarregaria de me ajudar. Imediatamente Júlio se comunicou com o Dr. Wanderley, que estava em Palácio, pois havia assumido interinamente o Governo de Alagoas. Mesmo assim ligou para o grupo de colegas que trabalha com ele na Santa Casa, recomendando o meu caso e se dirigiu para a Santa Casa. Isto vim a saber quando estava indo para a UTI.

A notícia foi rapidamente se espalhando, a partir dos colegas de trabalho, que foram avisando os outros, e não demorou muito os irmãos Lauro e Petrúcio Bandeira estavam junto a mim, no hospital da Unimed, acompanhando-me até a Santa Casa.

Continuei ditando o meu testamento. Em caso de morte, disse, não quero missa, reza, qualquer ato religioso. Que fique claro, não sou religioso, mas também não sou militante contra as religiões. Respeito todas. Tenho muitos amigos padres, evangélicos, espíritas, umbandistas. O meu desejo é que haja no meu enterro muita música, bebida alcoólica, dança, alegria, enfim, que seja uma manifestação profana. Se houver condições, levem o Wellington para tocar tudo que ele sabe de samba, choro, baião, frevo, maxixe...

Quanto aos meus livros, você, Isabela, escolha o que deseja ficar, e os demais doe para a biblioteca da Universidade Federal de Alagoas. As fotografias − são milhares −, entregue ao Dr. Luiz Nogueira Barros, meu amigo e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas – IHGAL, pois ele saberá dar um destino adequado para o acervo fotográfico.

A minha fala naquele momento aparentava ser calma, para os que estavam me ouvindo em volta da cama do hospital, mas em minha cabeça a ideia de morte era muito concreta. Intimamente eu me debatia contra essa ave agourenta, sentindo que poderia vencê-la mais uma vez. Mas corria contra o tempo. O meu pensamento a cada momento ia ficando mais sereno; o oxigênio colocado em meu nariz abria uma fenda na rocha.

Viver sempre foi um prazer para mim; nunca tive ideias de suicídio e muito menos de morrer antes dos oitenta anos e dormindo, depois de uma noitada intensa de amor e boemia. Mas naquele instante nada disso acontecia, nem havia acontecido na noite anterior. O que de fato ocorreu na noite anterior, no dia 30 de setembro: eu compareci, em companhia do poeta Sidney Wanderley, ao lançamento do livro Saudação Noturna – Crônicas de José Aragão, personagem do mundo cultural da cidade de Viçosa - Alagoas, livro organizado pelo Denis Portela de Melo.

Os quase quarenta minutos passados no hospital da Unimed até a chegada da ambulância que me levou para a Santa Casa de Misericórdia me deixaram no limite da ansiedade. O que pensava era numa velocidade surpreendente; nunca havia estado em tal condição de impotência absoluta quanto ao meu destino. Ao meu lado, sempre, a minha filha, e eu a pensar nela desde o seu nascimento e principalmente no que poderia lhe ocorrer no futuro a partir da minha morte.

Continuei a ditar os meus desejos, sem conter a minha volúpia para transmitir-lhe conselhos de como proceder na vida. Agora, revendo o momento, tentei permanecer calmo, com a racional intenção de tranquilizar Isabela, diante daquela circunstância. A ambulância chegou com uma médica e um enfermeiro que se apresentaram simpaticamente e me conduziram até aquele ambiente esquisito. Nunca havia entrado numa ambulância, a não ser como acompanhante.

Quando o motorista deu partida, senti intuitivamente que não morreria mais. Isabela, sentada na frente, ao lado do motorista; eu, conversando com a médica e com o enfermeiro. No trajeto feito, rápido, fui descrevendo com acerto cada curva da ladeira Geraldo Santos; quando entrou na rua Barão de Atalaia, comentei algo; depois passamos pela praça dos Palmares e finalmente adentramos a rua Pedro Monteiro.

Os relatos de memória que fiz na ambulância serviam como uma espécie de relato de partida. Fui aproveitando a ocasião para contar sucintamente fatos ocorridos na minha juventude, na avenida dom Antonio Brandão, onde se localiza o Colégio Marista, lugar em que havia estudado por quatro anos. As lembranças vinham aos borbotões.

A entrada da ambulância no setor de cardiologia da Santa Casa renovou as minhas convicções. Quais eram essas convicções? Se até aquele momento eu não havia morrido, os profissionais da cardiologia resolveriam esse problema. Isso, cheguei a falar para a médica e para o enfermeiro. Mudei radicalmente, inclusive o humor; era a certeza de que continuaria a viver e a criar a minha filha. Em todo tempo nunca desacreditei da ciência e dos que a manejam. Dito e feito.

Fui entregue a três gentis profissionais, simpáticas e bem-humoradas. Permaneci deitado; apenas mudaram-me de maca e ocorre o inusitado: barbeador, esparadrapo, toalha, iniciaram a depilação, procedimento obrigatório para se fazer a angioplastia. Dei-me conta da cena e iniciei um dialogo surrealista, fantástico. Perguntei o nome de cada uma das enfermeiras. A que estava com o barbeador disse que se chamava Jovelina.

Falei: − Jovelina é o nome de uma sambista carioca, Jovelina Pérola Negra. Foi quando ela disse que o pai gostava da cantora e resolveu colocar esse nome nela. Prontamente cantarolei um pagode que a Jovelina gravou: “Fui no pagode/ acabou a comida/ acabou a bebida/ acabou a canja/ sobrou para mim o bagaço da laranja/ [...] Toma cuidado, pretinha, que a polícia te manja [...].”

Voltei-me para a que estava em frente e perguntei: − Como é o seu nome? − Nara. − Ah, só tem artista cuidando de mim: Jovelina Pérola Negra e Nara Leão − brinquei. A outra logo disse: − O meu é Luciene. Não deixei por menos: eu tenho uma amiga de Pão de Açúcar, presidente de uma cooperativa, que se chama Luciene.

Familiarizado, fui dizendo o que estava sentindo: − Olha, se eu morrer, morro feliz. Nunca imaginei que teria três mulheres cuidando de mim. Vocês, com a maior intimidade e profissionalismo, pegam o meu pinto, levantam, baixam de um lado para o outro, e eu quase morto, mas muito satisfeito, nesse instante. Muitas vezes, conversando com amigos, disse que gostaria de morrer dormindo, depois de uma noitada de sexo, mas vejo que também essa maneira de morrer é boa. Boa, não, maravilhosa; seria, não nego, uma glória para mim.

Brinquei mais uma vez: − Agora eu quero arrancar um compromisso: se eu morrer, quero que os meus órgãos sejam doados (isso eu já havia falado para a Isabela); o meu pinto tem de ser lançado ao mar, mas na praia de Jatiúca; naquele mar ele saberá se salvar. A minha alma, essa já tem destino certo: vai direto para o Pernambuco Novo, rua onde ficava o cabaré de Anadia. Junto às putas, ela certamente ficará bem, não tenho dúvidas.

Todas riram, e nenhuma delas deixou baixar o astral. Decididamente eu estava preparado para espantar a morte. Mas tudo isso só poderia ser verdadeiro devido aos procedimentos que o Dr. Gilvan Dourado conduziu, desobstruindo duas artérias, salvando-me e deixando indelevelmente a marca da ciência em meu coração: dois estentes.

Nos poucos mais de cinquenta minutos em que estive de olhos fixos no monitor do computador, em permanente diálogo com o Dr. Gilvan Dourado, vendo o pulsar do meu coração que estava sendo reparado, espetado por um cateter, ouvi da boca dele: − Desse você não morre. Intimamente, quase gritei: − Eureca!

Nunca alguém havia sido tão categórico para mim e eu, claro também, jamais havia estado em tão precária situação. Encontrava-me, como se diz em Anadia, “nas mãos do último dono.”

Lembrava-me resignado do meu pai, da minha mãe, que morrera dragada pelo câncer, de muitos amigos, um deles em particular: Gildo Marçal Brandão, que travou uma “luta corporal” com a morte por 61 anos. O coração sempre foi o seu ponto frágil, não porque deixasse de amar a vida, as mulheres e a humanidade, mas por complicações congênitas.

Eu, através das mãos habilidosas do Dr. Gilvan Dourado, estava impondo mais uma derrota à morte. Pode parecer pretensioso, mas é assim mesmo que me sinto, não sou hipócrita. Vade retro, Satanás!

Dois fragmentos de sambas me ocorriam em meio ao turbilhão de lembranças, desejos, recomendações e paúra. Mas foi depois da angioplastia, quando ouvi “desse você não morre”. Foi uma explosão interior de alegria. Cantarolei para mim Cartola e Paulinho da Viola, meus preferidos.

O do Cartola foi “Preciso Me Encontrar”, Sabiamente o sambista da Estação Primeira de Mangueira diz:

“Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar.
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver [...]”

O samba do Paulinho da Viola foi “Argumento”. Essas duas músicas sempre me acompanharam, e eu, se soubesse cantar, teria saido da cama onde foi realizada a angioplastia cantando-as em alta voz pelos corredores e, quando chegasse na UTI, realizaria um show, solo, evidentemente, mas transbordante de alegria.

“Sem preconceito ou mania de passado
Sem querer ficar do lado de quem não quer navegar
Faça como um velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Leva o barco devagar [...]”

domingo, 5 de dezembro de 2010

Sr. Brasil


O cantor e compositor alagoano Eliezer Setton [1957] foi a principal atração no palco do programa “Sr. Brasil”, no dia 2 [quinta-feira], com reapresentação no domingo, dia 5, na TV Cultura.

A versatilidade de Setton e a inovação por ele apresentada ao Brasil, através da TV Cultura de São Paulo, cantando hinos brasileiros gravados no cd “Brasil – hinos à paisana”, abrem um caminho para Eliezer e para os músicos.

A entrada do artista alagoano no cenário nacional por intermédio de uma importante Rede de TV pública tem como foco a cultura, na mais ampla concepção do termo.

A presença no palco, conhecida dos alagoanos − mas para o grande público nacional, quero crer, nem tanto −, foi mais um ponto positivo na apresentação de Eliezer Setton e dos músicos no “Sr. Brasil”.

Sou telespectador de carteirinha do programa faz muitos anos, aliás de todos os programas apresentados por Rolando Boldrin, onde quer que ele estivesse trabalhando, desde a Band, a Globo, o SBT, a CNT, até atualmente na TV Cultura.

Boldrin tem se notabilizado como um Quixote brasileiro, moderno evidentemente, que conduz há décadas o mais importante programa de música popular na televisão brasileira.

Ficha Técnica: Eliezer Setton [voz], Tião Marcolino [acordeão], Elton Setton [percussão], Jaques Setton [cavaquinho], Everaldo Borges [flauta] e Ronalso Cirino [percussão].

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Rubens Colaço: Paixão e Vida - A trajetória de um líder sindical - noite de autógrafo

Armazém Guimarães

Dulce, o médico Abnadar Lirio, o advogado Mendes de Barros e o autor

Lauro Bandeira, Ricardão e Petrucio Bandeira conversando com o autor

Ângela, o acadêmico Luiz Nogueira, Adriano Jorge e Roland Benamor

Sonia Farias, Roland Benamor e Adriano Jorge

O secretario do Planejamento de Alagoas, Sérgio Moreira, Rudson Sarmento, Aline Vieira e Poliana.

O escritor Luiz Carlos Figueiredo, Melquesedeque Colaço e o autor

Sérgio Moreira e Majella

Isabela comandando as vendas

O médico Pedro Falcão

A gerente do Banco do Brasil Julieuza Gadelha

O sub-secretario de Planejamento Antonio Carlos Quintiliano



















quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Eder Jofre, O Galo de Ouro


Geraldo de Majella

O primeiro título mundial de boxe conquistado por Eder Jofre [1936] faz 50 anos, quando o brasileiro de 24 anos, 50 kg e 1,64 m de altura, se apresentou para o mundo como um gigante. Em menos de 20 minutos e no sexto assalto, na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, derrotou o mexicano Eloy Sanches.

O Gigante do Parque Peruche volta para São Paulo, sua terra natal, onde será recebido por uma multidão de mais de 20 mil admiradores.

O dia 18 de novembro de 1960 entrou para o calendário esportivo mundial como um grande dia, um dia inesquecível para Eder e para o boxe brasileiro.

Eder Jofre é filho de Aristides Jofre [Kid] e Angelina Zumbano, nascido numa família de boxeadores. Eder aprendeu muito cedo a gostar do boxe e seguiu a tradição da família, pois seu pai, seus irmãos e uma irmã, seus tios e seus primos foram lutadores de boxe.

O pai, Kid, aos cinco anos de idade levou Eder para brincar no ringue da academia, e este aos dezesseis anos se tornou profissional. Corria o ano de 1957.

Aristides (Kid) era argentino e veio morar no Brasil ainda na década de 1920. A família se dedicou ao boxe e ao trabalho como estofadores na periferia de São Paulo. A união da família Jofre com a Zumbano deu origem à maior dinastia do esporte brasileiro. Os tios de Eder eram sete; à exceção de Valter, todos foram pugilistas: Higino, Waldemar, Erasmo, Antonio [Tonico] Ricardo,Valter e Ralph. Erasmo morreu muito moço, de tuberculose.

Tonico foi campeão brasileiro de médio profissional; Ralph se destacou nas Olimpíadas de 1948, em Londres. Os descendentes de italianos tanto do lado dos Jofres quanto dos Zumbanos tiveram de trabalhar no pesado para sobreviver.

Waldemar Zumbano foi, durante décadas, militante do Partido Comunista Brasileiro [PCB], em São Paulo. A política, muitos anos depois, foi um caminho de passagem do bicampeão mundial de boxe, Eder Jofre, que se elegeu vereador na cidade de São Paulo.

Eder Jofre é muito mais conhecido internacionalmente que em sua pátria. Faz parte da lista dos melhores pugilistas de todos os tempos, mas vive quase no anonimato no Brasil.

O pugilista japonês Masahiro Fighting Harada derrotou Eder em duas lutas, por pontos − Eder nunca perdeu lutas por nocaute −, e na disputa do titulo de peso galo, em 1965. Em outra categoria Eder sagrou-se campeão mundial em 1973, em Brasília, como peso pena.

Os números na carreira de Eder Jofre não têm registro oficial definitivo, vejamos:

O Record Book, de Nat Fleischer, editado em Nova Iorque, registra:

78 lutas
72 vitórias por nocaute e 13 por pontos
4 empates
2 derrotas por pontos

A Federação Paulista de Pugilismo registra:

81 lutas
75 vitórias, 53 por nocaute, 22 por pontos
4 empates
2 derrotas

Saúde e paz, Eder Jofre.

domingo, 14 de novembro de 2010

A voz que não se cala

Mendonça Neto




Geraldo de Majella

Antonio Saturnino de Mendonça Neto [1945 - 2010], jornalista, advogado, professor, político e escritor. Nasceu no dia 10 de março de 1945, em Rio Novo – Minas Gerais, filho do casal Antonio Saturnino de Mendonça Júnior e Cloripes Matos Mendonça. Morreu no dia 10 de novembro de 2010.

Mendonça Neto passou a infância entre Minas Gerais e Alagoas; a adolescência e juventude, viveu-as no Rio de Janeiro, e foi na antiga capital federal que ele se aproximou do ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda. A influência política do udenista carioca moldou a sua vida como jornalista e político.

Ao regressar a Alagoas em 1973, Mendonça Neto se filia ao antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e, nas eleições de 1974, candidata-se a deputado estadual e se elege como o mais votado do estado de Alagoas.

A força dos seus discursos, a coragem em denunciar as violências cometidas pelos militares e seus seguidores civis em Alagoas, rapidamente o colocaram no centro da cena política local.

As tardes no plenário da Assembleia Legislativa de Alagoas eram de um marasmo tumular. Esse clima foi quebrado com os discursos do jovem e elegante deputado oposicionista.

As denúncias feitas contra o sindicato do crime, organização clandestina que assassinava políticos e quem mais os chefes políticos entendessem como obstáculos em suas vidas. A voz do bravo Mendonça Neto se voltou contra esses antigos donos da vida e da morte nas Alagoas do século XX.

Quando ninguém no plenário da Casa de Tavares Bastos falava pela Anistia aos presos políticos, a voz que ecoou foi a de Mendonça Neto. E quando os crimes prosperavam sob o comando dos agentes da segurança pública era Mendonça Neto que cobrava, exigia, denunciava aos gritos e se postava ao lado das famílias enlutadas.

Foi assim que ocorreu quando assassinaram o estudante Jailton dos Santos, pelo fato de casualmente ter presenciado a execução de José Cândido, portador de deficiência mental e seu amigo. Ambos foram assassinados por policiais civis. Ao lado das famílias, lá estava o deputado Mendonça Neto.

O clima de violência dominava Alagoas. As eleições de 1978 foram fraudadas, como de resto as anteriores. O candidato da oposição ao Senado, José Moura Rocha, comandou a campanha da oposição e o MDB; foi derrotado pela soma dos votos de legenda. Mesmo assim, individualmente foi o mais votado. A bancada de deputado federal foi formada por Mendonça Neto e José Costa, os dois mais importantes parlamentares de Alagoas, naquela época, com origem na oposição ao regime militar.

A mesma coragem demonstrada em Alagoas foi vista no Congresso Nacional. As denúncias de violações dos direitos humanos e de corrupção continuaram a ser parte da sua plataforma parlamentar. Aliás, essas questões durante toda a vida pública do deputado e jornalista Mendonça Neto foram temas obrigatórios.

Em 1982, Mendonça desiste de ser deputado federal, mas continua na vida parlamentar, elegendo-se agora deputado estadual, cumprindo mandato de 1983 a 1987. Esta legislatura foi uma das melhores da história republicana pela sua composição e pelo clima de embate mais aberto contra o regime militar. O PMDB elege uma bancada significativa na sua composição e na representação, sendo eleitos democratas de vários matizes ideológicos: socialistas, comunistas e peemedebistas históricos.

Foi nessa eleição que José Costa e José Moura Rocha foram derrotados em suas pretensões de ser governador e senador, respectivamente. A máquina de corrupção e intimidação continuava organizada e a serviço dos candidatos governistas.

A voz que não se cala continuou a bradar do plenário da Assembleia Legislativa de Alagoas. A força da juventude aliada ao aprendizado com o guru carioca Carlos Lacerda intimidavam os adversários pela contundência dos argumentos e pela coragem em manter-se fiel aos princípios políticos e pessoais de militante oposicionista.

Mendonça Neto foi um desses políticos que nunca se dariam ou estariam bem no Poder Executivo. A sua alma foi moldada para se colocar na trincheira da oposição e, justiça seja feita, pelo menos historicamente, no curtíssimo período em que exerceu um cargo executivo não conseguiu êxito. Em 1987, durante o governo Fernando Collor, foi secretario de Planejamento de Alagoas. Aí ficou poucos meses e saiu brigando com o governador.

Antes, em 1986, havia disputado uma vaga de senador, e pelo menos os que estão mais vinculados à militância política sabem que mais uma vez a fraude institucionalizada que ocorria nas eleições roubou o seu mandato popular.

Deixa o PMDB em 1988, filia-se ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), legenda pela qual de 1991 a 1995 exerce novamente um mandato de deputado federal. Sua ira e seu destemor são lançados da tribuna do Congresso Nacional, desta vez em franca e aberta oposição ao seu arqui-inimigo Fernando Collor de Mello. Tanto no grande expediente como no pinga-fogo da Câmara dos Deputados, quase que diariamente Mendonça Neto discursava denunciando algum ato por ele considerado incorreto do presidente da República. Assim agiu até os últimos instantes, quando foi votado o impeachment de Collor.

O seu último ponto de passagem no universo partidário foi a sua filiação ao Partido do Socialismo e Liberdade (Psol), candidatando-se a deputado estadual, mas já sem nenhuma condição de fazer campanha, por estar muito debilitado pelo câncer. As suas poucas aparições no horário eleitoral mantiveram a sua tradição de denúncias contundentes. Não conseguiu se eleger.

O jornalismo foi aos poucos sendo deixado de lado, pois foi em certa medida sufocado pela política, que o ocupou todo o tempo durante as últimas três décadas. Mas nos últimos anos voltou, mantendo o mesmo estilo, sempre combativo e mordaz nas críticas aos governos, aos governantes e às elites de Alagoas.

A derivação temática ou de gênero resultou na crônica e no conto. O cronista e o contista Mendonça Neto deixaram marcas talvez não tão profundas como o político, mas os que desejam estudar os temas encontrarão, por exemplo, em “Um olhar no coração” material substancioso.

Os “Contos de Alagoas − uma Antologia”, organizado por Mendonça e editado pela Editora Catavento, pode ser considerado um salto para um ambiente que o atraia. Não houve, creio, tempo para se dedicar à literatura, pois a política o consumia integralmente.

O legado político de Antonio Saturnino de Mendonça Neto é o de extremo combate a todas as formas de injustiças e desigualdades. Acrescente-se a isso o grande orador que foi − sem dúvida, o maior de sua geração.

Que a terra lhe seja leve, Mendonça Neto.




sábado, 6 de novembro de 2010

Robson Amaral Amorim

Rocha e Robson Amorim

Marcos de Farias Costa e Robson Amorim
Robson, Marcos de Farias Costa e Sonia
Robson Amorim e violão


Geraldo de Majella


Robson Amaral Amorim (1948), músico e compositor. Nasceu em Recife no dia 13 de novembro de 1948. Filho de Aderson Evaristo Amorim e Diva Amaral Amorim. Estudou no Colégio Marista de Recife. Aos dez anos, acompanhado dos pais e das irmãs, deixou a cidade e foi morar em São Paulo, cidade onde passou a viver com a família.

O pai, Aderson, trabalhava como vendedor da Guararapes Tecidos em Recife. Chegando em São Paulo, continuou trabalhando como atacadista de tecidos. A mãe, dona Diva, trabalhava como cabeleireira.

Robson continuou os estudos em São Paulo no Colégio Mackenzie. Ao sair da adolescência, procurou um trabalho. Deixou, assim, por falta absoluta de tempo, os estudos. Trabalhou em várias empresas, mas foi na Crusoé Discos – época de vinil – onde trabalhou duro por dezoito anos.

Ter trabalhado como vendedor em uma loja de discos influenciou Robson para a música. No entanto, alguns anos depois, reconheceu que sua formação musical e também o gosto pela composição foram moldados no trabalho na loja Crusoé Discos.

As conversas frequentes com clientes, músicos, colecionadores, professores e gente simples que cultuavam um bom gosto musical definitivamente abriram um novo horizonte na sua vida, e até mesmo a perspectiva de um dia viver como músico profissional.

A música sempre esteve presente em sua casa. A mãe e as duas irmãs tocavam piano. O trio musical da família era composto pela mãe Diva e pelas irmãs Rose Mary e Sonia Maria do Amaral Amorim.

Mesmo com a influência musical na família, o verdadeiro interesse pelo violão surgiu por meio dos festivais de músicas da TV Record e da TV Tupi nos anos de 1960, período de efervescência da música popular brasileira.

São aproximadamente 130 composições musicais, compostas desde o tempo em que trabalhou na loja de discos em São Paulo, onde começou a compor e encontrou o seu primeiro parceiro, o músico Paulo Viana. A maioria das composições com letras foi feita com Paulo Viana. A outra parte são músicas instrumentais. Até o ano de 2010 foram gravadas 10 composições deste tipo.

Robson Amorim tem como influência musical o músico Baden Powell, definido como seu “mestre auditivo”. Robson continua, incansavelmente, ouvindo as composições de Baden. Seja dia ou seja noite, na varanda ou no quarto, com ou sem o acompanhamento do inseparável violão.

Em Maceió desde novembro de 2004, encontrou um ambiente musical ricamente favorável, bem como a receptividade dos músicos e compositores locais, o que tem contribuído para enriquecer as suas produções.

Integrado à vida cultural, reaproximou-se do choro, gênero musical pelo qual, desde muito jovem, nutre grande paixão. Durante os últimos seis anos [2004-2010], produziu como nunca havia feito e com vários e diversificados parceiros, como os irmãos Marcos e Marcondes de Farias Costa, Stanley Carvalho, Ubirajara Almeida, Ricardo Cabús e Gustavo Gomes.

A maturidade musical e o crescimento da produção musical o fizeram apresentar seu trabalho em festivais e mostras, tanto em Alagoas como fora do Estado. Participou, em 2006, com a música autoral “Marisol”, da 3ª edição do Palco Aberto, projeto da Secretaria de Estado da Cultura (Secult).

Outro evento em que também conseguiu classificar músicas autorais foi na Mostra do SESC, nos anos de 2006, 2007 e 2008. Em 2006, a música classificada foi “Pequena Suíte Alagoana”, composta com Marcos de Farias Costa e interpretada pelo cantor alagoano César Rodrigues, com participação de Robson Amorim no violão, Ricardo Lopes na guitarra, Van Silva no baixo, Herbeth Vieira na bateria, Luizito no pandeiro, Ronalso na percussão e Uruba na flauta.

Em 2007, foi a vez da música “Chorei”. Composta por Robson em parceria com os irmãos Marcos e Marcondes Costa. Interpretada por Micheline Almeida, acompanhada de Van Silva (baixo), Wilbert Fialho (violões), Everaldo Borges (flauta), Josivaldo Jr. (teclado) e Herberth Vieira (bateria).

No terceiro ano seguido, 2008, voltou a classificar uma canção no Festival do SESC. “Malicioso”, composta em parceria com Marcos de Farias Costa, interpretada por Micheline Almeida, Robson Amorim (violão), Toni Augusto (guitarra), Van Silva (baixo), Josivaldo Jr. e Juliano Gomes (teclados), Everaldo Borges (flauta), Ronalso (percussão) e Pantaleão (bateria).

Maceió consolidou-se como grande palco para Robson Amorim. Na capital alagoana, vem se apresentando em festivais ou em eventos organizados por órgãos estatais, como ocorreu no 1º Festival de Música do Instituto Zumbi dos Palmares (IZP).

A música “Chorar Simplesmente”, de sua autoria com Paulo Viana, foi gravada no 1º cd do Choro Alagoano, “Chorano”. Participou da trilha sonora do filme “Lá vem Juvenal”, curta-metragem produzido e dirigido pelo cineasta Hermano Figueiredo.

Robson Amaral é autor da vinheta da Secretaria de Estado da Saúde (SESAU) veiculada em rádios e televisões, campanha de combate a hanseníase.

Tem se apresentado semanalmente em casas noturnas e também em encontros vesperais dos sábados e domingos. O repertório é composto de músicas instrumentais e das suas composições e de autores alagoanos.

Em 2010, Robson classificou-se para o projeto “Quinta instrumental”. A apresentação aconteceu em 7 de outubro, no Teatro de Arena Sérgio Cardoso. Na oportunidade, foram mostradas músicas de sua autoria e choros de consagrados músicos brasileiros. Nessa apresentação, esteve acompanhado de Zailton Sarmento, Mikla, Wagner e Wilbert Fialho.

Fontes:
Marise Leão Ciríaco e Robson Amaral Amorim.

sábado, 30 de outubro de 2010

Pelé setentão

Majella e Pelé

Douglas, ex-jogador do Santos F.C., marcou o primeiro gol no Estádio Rei Pelé

Isabela e Pelé

Com Pelé

Geraldo de Majella

O dia 25 de outubro de 1970 transformou-se para os alagoanos numa data importante, pois foi inaugurado o Estádio Rei Pelé, o Trapichão. A Seleção Alagoana de futebol enfrentou o Santos Futebol Clube, o melhor time do século. O jogo inaugural terminou com a vitória esmagadora do Santos de Pelé, por 5x0, sobre a Seleção Alagoana.

O Estádio estava lotado, foram mais de 40 mil espectadores que pagaram – criança entrava de graça, por isso afirmo que havia mais espectadores. Um desses expectadores mirins era um menino de nove anos, que havia chegado de Anadia, com a família, para estudar em Maceió, em 1969. Esta criança era eu.

A minha mãe permitiu que eu fosse sob os cuidados de um vizinho, adulto, e de outros amigos. Saímos de casa logo após o almoço. Tínhamos de chegar cedo para pegar um lugar onde de pudéssemos ver o jogo bem. Ficamos na arquibancada central – depois transformada em território do CSA, que tem no CRB o maior adversário. Enfrentamos filas enormes, conseguimos entrar, sentar e ficar de frente para o sol escaldante.

A alegria de criança nunca é esquecida, e a minha, em especial, jamais será. Nem com Alzheimer esquecerei aquele jogo e as jogadas de Pelé. Enquanto esteve em campo, deixou embevecido mais de 40 mil súditos.

O Estádio Rei Pelé durante alguns anos figurou como um dos mais modernos estádios de futebol do Brasil. Outros craques estiveram jogando por aqui. Vi muitos grandes jogadores, como Paulo César Caju, Ademir da Guia, Rivelino, Zico, Dirceu Lopes, Piazza, Roberto Menezes, Nei Conceição, Pedro Rocha, Silva, Soareste, Reinaldo, Joãozinho Paulista, Djair, Espinosa... É infinita a relação de bons jogadores que vi jogando no Trapichão.

Mas nada foi tão marcante quanto o jogo Santos x Seleção Alagoana.
Muitos anos depois, já adulto e pai, anos 1990, numa noite de boemia em São Paulo, saindo do Bar Biroska, na Avenida Pedroso de Moraes, em Pinheiros, em companhia do amigo Gilson Souza Leão, demos de cara com o rei do futebol. Ele estava muito bem acompanhado com duas lindas loiras. Ninguém encostava, os seguranças não permitiam. Mesmo assim tentei um autógrafo, não foi possível. Levei um drible, claro.

Em junho de 2010, Alagoas recebeu por algumas horas o rei do futebol. Pelé foi convidado pelo governador Teotônio Vilela Filho para a reinauguração do Estádio Rei Pelé. Os dois principais clubes de Alagoas, CSA e CRB, fizeram a festa em campo. No entanto, foi Pelé quem atraiu as atenções do público, dos políticos, dos atletas e ex-atletas. Esteve presente na solenidade o ex-ponta direita Douglas, autor do primeiro gol no Trapichão. Douglas também foi homenageado na calçada da fama, deixando junto com Pelé as marcas dos seus pés para sempre.

Em meio a uma multidão de jornalistas, políticos, crianças, filhos dos presentes, estava eu e minha filha Isabela, tietando o Rei Pelé. O empurra-empurra foi grande, mas conseguimos chegar perto do Rei. O nosso objetivo era tirar uma fotografia ao lado de Pelé.

Conseguimos! Confesso que contamos com a ajuda dos seguranças do governador e com a solicitude de Pelé, que atendeu a todos indistintamente, tanto se deixando fotografar como autografando camisas, bolas, livros, pedaços de papel, em qualquer objeto que lhe fosse chegando às mãos.

Essa figura mítica que é Pelé completou, no dia 24 de outubro, 70 anos de glória e amor ao esporte. Continua dando exemplos de decência e cidadania por onde tem passado no planeta Terra.

Pelé é brasileiro, nosso irmão, o cidadão mais querido do nosso planeta. Isto não é pouco: é o atleta do século.

Vida longa ao Rei do futebol.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aposentadoria

Relaxando na praia

Paraty - RJ


Rapaziada curtindo música em Viçosa - Alagoas



Geraldo de Majella
O lugar onde se nasce tem significado especial; é comum a exaltação, cada pessoa fala da cidade onde nasceu – seja grande, média, pequena ou até mesmo uma aldeia; lugar distante, ermo da zona rural −, mas nem por essas circunstâncias, esquecido.

Se o indivíduo é um andarilho, viajante, marinheiro mercante ou funcionário de companhia aérea, andou por mares, desembarcou e conheceu portos e aeroportos em lugares distantes e exóticos, nunca deixa de pensar em sua terra; quando não deseja retornar, mesmo que fosse em férias.

Essa criação humana chamada cidade tem mudado rápida e intensamente. É comum encontrar, e não são poucos, os que nasceram na zona sul do Rio de Janeiro, por exemplo. Outros nasceram na periferia, mas o cidadão é carioca. O nascido na periferia diz logo que é suburbano.

É “lúdico”: grandes figuras do samba que nasceram lá, cantavam e cantam as suas origens com reverência. Essa região apartada da cidade se liga através da música, no caso do Rio de Janeiro. Mas não se identifica como periferia.

Há sutilezas na identificação do território. O suburbano não é, e não quer ser, identificado como morador da periferia. As dificuldades materiais de cada morador ou da maioria deles indica em determinado momento da vida o grau de animosidade com a cidade.

O atraso no transporte coletivo, a violência urbana, a falta de emprego ou o baixo salário fazem com que o cidadão extravase uma certa dose de raiva da cidade. Maldiz a vida que vai levando.
É comum sentar num botequim ou em outro lugar qualquer e alguém dizer: “É impossível continuar morando aqui.” Ou coisas do tipo: “Viver nessa selva de pedra, aguentar o barulho, a poluição, a violência, chega! Estou contando os dias para me aposentar e ir morar numa cidade sossegada.”

Há momentos de desagradáveis notícias, quando a ira e até mesmo os ressentimentos predominam. Mas esse sentimento humano, da raiva, do desprezo é substituído por lembranças afetivas; brotam então do pensamento as memórias da infância já distante, mas que não são e que jamais serão esquecidas.

Muitas vezes os versos da Canção do Exílio, do maranhense Gonçalves Dias, rompem o silêncio imposto pela saudade e pela distância da terra amada, maltratada, nunca esquecida − versos tantas vezes recitados na infância, que lembrados, retornam com a força de um furacão:

“Minha terra tem palmeiras,
onde canta o sabiá;
as aves, que aqui gorjeiam,
não gorjeiam como lá”.

Essa briga constante com a cidade é comum; não significa uma ruptura total, mas um desabafo dos que amam e também odeiam; uma relação ambígua que segue vida afora. Nessa relação não é permitido bater. Isso nunca.

O trem que atrasa, a greve de ônibus, as rebeliões nos presídios, os apagões frequentes, tudo enfim de ruim ocorre e, no mais das vezes, quase simultaneamente. A denúncia do atraso dos trens que vão e vêm do e para o subúrbio, no caso carioca, é um tema recorrente de sambas. O Trem atrasou, de Paquito, Estanislau Silva e Artur Vilarinho, serve como meu apoio.

“Patrão, o trem atrasou
Por isso estou chegando agora.
Trago aqui um memorando da Central
O trem atrasou, meia hora
O senhor não tem razão
Pra me mandar embora”.

Até o dia em que o sujeito se aposenta e vai embora da cidade. Aliviado, diz orgulhoso: “Vou comprar um molinete, anzóis, todos os apetrechos para me dedicar à pesca.” Mas o zumbido da cidade permanece como se fosse um despertador rebelde que todos os dias dispara.
A cidade, seja metrópole ou não, permanece presente, num sinal evidente de um mundo vivido que resiste em abandonar o pescador aposentado, o caminhante de todas as manhãs ensolaradas à beira-mar.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O poeta Zé da Feira

De frente a médica e ex-presa política Selma Bandeira, o poeta e repórter fotográfico José Feitosa e jornalista Freitas Neto.

Geraldo de Majella

José Alves Feitosa, jornalista profissional (repórter fotográfico) e poeta. Nasceu em 29 de março de 1951 na cidade de Paulo Jacinto, Alagoas. Filho do cearense Antonio Alves Barbosa e de Rosa Feitosa Barbosa. O pai “seu” Antonio, trabalhador, passou parte da vida entre Alagoas e o Ceará, mas em 1960 o velho artesão toma uma decisão definitiva na vida: fixou-se em Paulo Jacinto, região serrana no agreste alagoano. Estabelecido na cidade montou uma pequena fábrica de calçados de couro.

A produção da semana era vendida aos sábados nas feiras de Viçosa e aos domingos em Paulo Jacinto. Os chinelos, as alpercatas e os sapatos eram de boa qualidade, rapidamente formou uma boa clientela nas duas cidades. O negócio era pequeno, não dispunha de capital suficiente para comprar matéria prima em quantidade suficiente para obter maior lucro. Mas mesmo assim criou a família com o suor do seu trabalho.

José, o segundo dos filhos, depois de perambular como cigano com o pai entre Alagoas e juazeiro do Ceará, e também após o falecimento da mãe, dona Rosa em 1963, foi estudar em Viçosa, cidade vizinha onde morava o avô paterno “Seu” Camilo. O contato com os cantores, a música popular e a poesia de cordel, abriu uma janela na vida do adolescente que mais tarde se tornaria poeta.

O ambiente de boemia em Viçosa, terra de grandes figuras, como o músico Zé do Cavaquinho, Teotônio Vilela, Octavio Brandão, José Maria de Melo, José Pimentel, José Aloísio Brandão, Alfredo Brandão, Sidney Wanderley, Denis Melo, Eloi Loureiro Brandão, Nelson Almeida e outros. Feitosa, diz sempre que: “Foi em Viçosa que iniciou o aprendizado do jornalismo e de minha profissão de repórter fotográfico.”

Trabalhou como repórter fotográfico em todas as redações de Alagoas, dos extintos Jornal de Alagoas, o mais antigo do Estado, que pertencia a cadeia dos Diários Associados e Jornal de Hoje, até os atuais Gazeta de Alagoas, Tribuna de Alagoas, na primeira fase do jornal, quando foi inaugurado e pertencia ao saudoso senador Teotônio Vilela. Novamente está trabalhando como repórter fotográfico na redação do jornal Gazeta de Alagoas.

O fotógrafo desenvolveu habilidade e apurou a sensibilidade no dia-a-dia: cumprindo pautas, fotografando a seca, a miséria no sertão de Alagoas ou em Maceió, captando cenas cruéis de crianças saciando a fome catando resto de comida no lixo para comer em bairros periféricos. O olho de repórter e a sensibilidade de poeta caminharam juntos, sempre e desse feliz casamento nasceu um grande fotografo e cidadão.

O dia-a-dia na redação de um jornal é, para muitos, enfadonho, sem grandes perspectivas, mas para José Feitosa, essa rotina foi superada com os projetos que desenvolveu. O afastamento temporário das redações aconteceu em vários momentos. Primeiro vieram as campanhas eleitorais, ao ser tratado para cobrir campanhas de candidatos majoritários tanto ao governo de Alagoas como ao senado da República, em 1982 e 1986.

Nas eleições de 1982 entregou-se de corpo e alma, passou a ser fotógrafo e poeta oficial dos candidatos José Costa e José Moura Rocha. O Brasil desde 1966 não elegia os governadores dos estados, a ditadura militar havia acabado com as eleições diretas através do voto popular, os governadores passaram a ser escolhidos pelas assembléias legislativas.

A década de 1980 entrou com esperanças de que o país superaria a ditadura militar. José Feitosa foi eleito dirigente sindical, em diversas oportunidades e para diversos cargos na diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas. O movimento sindical brasileiro havia crescido, greves eram proibidas, mas os trabalhadores vinham realizando movimentos paredistas em vários estados e categorias, os jornalistas de Alagoas também fizeram a sua em 1979.

A luta contra censura nas redações era uma das principais bandeiras dos jornalistas. Em todos esses momentos esteve presente o jornalista e poeta José Feitosa, o Zé da Feira.