sexta-feira, 28 de junho de 2013

Resistência à ditadura em Alagoas VII






Carlos Pompe, jornalista, Pedro Luiz, presidendo do sindicato dos Urbanitários de Alagoas, José Cícero, presidnete do Sindicato dos Trab. Rurais de viçosa, o médico Sérgio Barroso e o advogado Ulisses Riedel.

           O movimento sindical em Alagoas em 1980 já contava com alguns sindicatos comprometidos com a luta por liberdades sindicais e democráticas. Resistindo às pressões e ameaças, organizaram o 1º Encontro da Classe Trabalhadora (Enclat).

           Os trabalhos de abertura foram conduzidos pelo líder sindical Pedro Luis da Silva, presidente do Sindicato dos Urbanitários de Alagoas, Carlos Pompe, jornalista paulista radicado em Alagoas, José Cícero, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Viçosa, pelo médico Sérgio Barroso e pelo advogado Ulisses Riedel.

           O encontro aconteceu no auditório da reitoria da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), na praça Visconde de Sinimbu, e contou com a participação dos dirigentes sindicais eleitos, delegados escolhidos pelas categorias e de ativistas e membros das oposições aos sindicatos em que as direções eram pelegas, com fortes vínculos com o patronato e o regime militar.

           A ressalva a ser feita nesse caso é pertinente: os dirigentes sindicais vinculados ao regime militar, muitos deles, não todos evidentemente, prestavam serviço ao regime de exceção, passando informações de atividades e sobre trabalhadores. Eram o que no jargão policial se denomina de alcaguetes, dedos-duros, e alguns deles empregaram parentes em órgãos públicos como recompensa pelos “serviços prestados”.

           O advogado trabalhista radicado em Brasília Ulisses Riedel proferiu a conferência de abertura do 1º Enclat. O operário baiano Renildo Souza foi convidado pela comissão organizadora para participar e ser um dos palestrantes no segundo dia do encontro.  A presença de uma delegação de operários têxteis de Rio Largo ao encontro deu visibilidade e fez com que os  oradores na abertura se referissem aos trabalhadores que lutavam para manter os postos de trabalho, pois os empresários − descendentes do comendador Gustavo Paiva − anunciavam o fechamento da fábrica de tecido. A demissão em massa representaria mais fome e miséria para aquelas famílias da cidade de Rio Largo, o que de fato aconteceu meses depois.  

          A mobilização em torno da manutenção dos empregos e para que a direção da fábrica não continuasse a demitir, e muito menos encerrar as atividades fabris, contou com o apoio e o acompanhamento de várias lideranças de esquerda filiadas ao PMDB, a saber: o engenheiro Ronaldo Lessa, o advogado Eduardo Bomfim, a médica e ex-presa política Selma Bandeira, o jornalista Freitas Neto, o deputado estadual Renan Calheiros e os políticos locais Antonio Lins de Souza, Francisco Rocha, Manoel Ciríaco Neto e o deputado estadual Walter Figueiredo.

          Entre os operários, dois se destacaram: um jovem, Gabriel Correia, e José Graciano dos Santos, um veterano nas lutas políticas e sindicais, aposentado depois de trabalhar quarenta anos na Companhia Alagoana de Fiação e Tecido.

          As intervenções vibrantes e destemidas partiram de quem já acumulava experiência de perseguições e prisões, no caso, o dirigente comunista José Graciano. O jovem operário também interveio com veemência e teve destacada participação, principalmente nas articulações com os dirigentes sindicais que ainda não haviam ido às reuniões em Rio Largo.

          O Enclat atraiu alguns ex-dirigentes sindicais destituídos das funções nos primeiros dias após o golpe de 1964 e durante os anos seguintes. Estiveram presentes e contribuíram debatendo com a nova geração de sindicalistas, assessores sindicais, dirigentes políticos e militantes de partidos políticos clandestinos e do PMDB.  Os ex-dirigentes eram: Rubens Colaço Rodrigues, ex-presidente do Sindicato dos Rodoviários de Alagoas; Nilson Miranda, ex-presidente do Sindicato dos Radialistas, há poucos meses chegado do exílio; Alan Rodrigues Brandão, ex-presidente do Sindicato dos Petroleiros; José Gomes da Silva, ex-dirigente do Sindicato dos Ferroviários de Alagoas e Pernambuco; e Teófilo Lins, ex-dirigente do Sindicato dos Jornalistas.

 

domingo, 23 de junho de 2013

Resistência à ditadura em Alagoas VI


João do Vale (ajoelhado) e Miucha cantando para uma multidão na Praia de Pajuçara, em Maceió.

A campanha eleitoral realizada em 1982 para governador e senador foi uma das maiores, senão a maior mobilização de massas desde o golpe militar de 1º de abril de 1964. O partido de oposição à ditadura militar, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que se converteu no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), lançou o então deputado federal José Costa como candidato a governador e o advogado José Moura Rocha como candidato a senador, em substituição a Teotônio Vilela.

O velho senador Teotônio ficou impossibilitado de concorrer à reeleição por motivo de saúde; meses antes do início da campanha, descobriu que estava com um câncer. Os estudantes, os jornalistas, os trabalhadores, as lideranças sindicais que resistiam à ditadura e muitos outros que haviam sido perseguidos, presos e exilados foram às ruas, viajaram pelas cidades do interior de Alagoas voluntariamente, trabalhando para eleger bancadas de deputados comprometidos com a redemocratização do Brasil e com a liberdade.

Artistas como Djavan, João do Vale, Miúcha e Carlos Moura participaram de alguns dos principais comícios realizados em Maceió. A oposição perdeu para a fraude eleitoral.

 

 
 

sábado, 15 de junho de 2013

. Resistência à ditadura em Alagoas V






Manifestação Estudantil em Maceió

A resistência à ditadura militar em Alagoas ocorreu de várias formas. O movimento estudantil foi aos poucos se reestruturando, ganhando as eleições nos diretórios acadêmicos, até reconquistar o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Manifestações foram organizadas no campus A. C. Simões, bem como campanhas de solidariedade aos povos da América Central que lutavam contra a presença norte americana, denúncias de tortura aos presos políticos brasileiros, passeatas e o total engajamento das lideranças estudantis mais comprometidas com a redemocratização do país na memorável campanha pela anistia para os presos e perseguidos políticos brasileiros.

Os parlamentares, alguns poucos, se destacaram na luta contra a ditadura; entre eles, o deputado federal José Costa, o deputado estadual Mendonça Neto, o jovem deputado estadual Renan Calheiros, e o mais destacado de todos, o senador Teotônio Vilela. Mas outras importantes personalidades a exemplo dos advogados José Moura Rocha, Mendes de Barros, José Verres Domingues, Mércia Albuquerque, que a partir de Recife defendia os presos políticos de Alagoas, empunharam a bandeira da luta contra a ditadura.

Em meio à repressão e ao terror, numa nova geração de dirigentes sindicais surgiram no cenário alagoano o jornalista João Vicente Freitas Neto, o radialista Adelmo dos Santos, o urbanitário Pedro Luiz da Silva, o ex-petroleiro Alan Rodrigues Brandão, o operário da construção civil José Gomes da Silva, o jornalista Denis Agra e tantos outros.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Resistência à Ditadura em Alagoas IV

 
 

O vereador Josias de Souza Marques e o candidato a senador Mendes de Barros, em Anadia-Alagoas, em 1970.


Resistência à Ditadura em Alagoas IV   

 
           A campanha eleitoral de 1970 foi o primeiro momento de mobilização eleitoral após a edição do Ato Institucional nº 5 [AI-5], em 13 de dezembro de 1968. A partir desse instante o Brasil passou a viver a institucionalização do terror de Estado.

A campanha eleitoral contou com dois bravos candidatos ao senado pelo Movimento Democrático Brasileiro [MDB], naquela eleição duas vagas estavam sendo disputadas. O MDB escolheu o professor Aurélio Viana e o advogado Mendes de Barros. A ditadura apresentou dois ex-governadores, Luiz Cavalcante e Arnon de Mello. Vitória eleitoral do governistas. Pressão, prisões e cassações de mandatos parlamentares e suspensão dos direitos políticos eram a armas da ditadura. O segundo momento foi em 1974; novamente o MDB apresentou como candidato ao senado o vereador de Maceió, Pedro Marinho Muniz Falcão.

A campanha foi bastante disputada. Em Maceió a oposição ganhou com folga, perdendo no interior. Com o voto controlado e a falta de estrutura do MDB não foi possível derrotar o candidato governista, Teotônio Vilela. Em 1978, o MDB, depois da proibição dos discursos na televisão, apresentou o advogado José Moura Rocha, que disputou a eleição com três candidatos da ditadura: Luiz Cavalcante, José Sampaio e Rubens Vilar. As vitórias eleitorais aconteciam modestamente; em 1974 o MDB elegeu dois grandes parlamentares: o deputado estadual Mendonça Neto e José Costa, federal.

Os dois valiam por uma bancada. Denunciaram tortura em presos políticos e em presos comuns, assassinatos de presos custodiados. Foram as vozes e os ouvidos do povo trabalhador das Alagoas. Em 1978 foi eleito deputado estadual o estudante Renan Calheiros, Mendonça Neto se elegeu deputado federal e José Costa se reelegeu deputado federal. Moura Rocha foi derrotado. Mas a traição do deputado Vinicius Cansanção influenciou bastante no resultado final: ao desistir de se candidatar ao Senado federal, o somatório dos votos das sublegendas facilitou a reeleição do general Luiz Cavalcante.

A ditadura militar foi derrotada nas eleições para o Senado em 1974, quando 16 senadores foram eleitos em vários estados. Colocou as barbas de molho. Para garantir 1/3 das vagas o regime militar criou um canhestro artifício: o da “eleição” do senador biônico. No caso alagoano a vaga ficou com Arnon de Mello. Como registro histórico eis alguns dos senadores da oposição eleitos em 1974: Orestes Quércia em São Paulo, Paulo Brossard no RS, Marcos Freire em PE, Itamar Franco em MG, entre outros.

 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Resistência à ditadura em Alagoas III



 

     
  O deputado Marcelo Cerqueira e o senador Teotônio Vilela saindo de um dos presídios no rio de Janeiro em 1979.
 
Teotônio Brandão Vilela nasceu em Viçosa-AL no dia 29 de maio de 1917 e morreu em Maceió-AL no dia 27 de novembro de 1983. Empresário, escritor, político e boêmio, exerceu os cargos públicos no Poder Legislativo, foi deputado estadual e senador, e no Poder Executivo foi vice-governador de Alagoas. Em pouco mais de trinta anos de vida política esteve filiado a três partidos políticos: UDN, Arena e MDB, depois PMDB. Teotônio Vilela como deputado estadual pela UDN foi defensor do impeachment do governador Sebastião Marinho Muniz Falcão.
 
O deputado Teotônio Vilela foi uma raridade no cenário político da segunda metade do século XX, apresentando na Assembleia Legislativa vários projetos, sendo, o mais significativo deles, o Operação Alagoas. Um dos traços mais importantes da sua carreira parlamentar foi a vontade em estudar a realidade local e nacional e apresentar projetos consistentes e viáveis.
 
No Senado federal apresentou alguns grandes projetos: o Projeto Brasil, o Projeto Emergência, e trabalhou incansavelmente como presidente da Comissão Mista do Congresso Nacional na Lei da Anistia para os presos e perseguidos políticos. Rompeu com a Arena e filiou-se ao MDB no dia 25 de abril de 1979.
 
Teotônio Vilela é um caso raro de autocrítica na prática de um político brasileiro com origem na elite econômica. Em discurso no antigo Clube Português de Alagoas, em 1980, diante de um auditório lotado de estudantes, trabalhadores, profissionais liberais, dividindo a mesa com o ex-governador Miguel Arraes, em alto e bom som se desculpou por ter participado do golpe militar em 1964. O nome de Teotônio Vilela é um marco na história nacional.
 

sábado, 8 de junho de 2013


 
 
 
José Costa candidato a governador de Alagoas em 1982
 
 
Resistência à ditadura  em Alagoas II

 

A ditadura civil-militar que se implantou no Brasil em 1º de abril de 1964 teve como alvos prioritários o parlamento e os parlamentares. Ao criar os Atos Institucionais (Ais), cassou mandatos parlamentares e executivos (governadores, prefeitos e  o presidente João Goulart) e extinguiu os partidos políticos. Os primeiros parlamentares cassados em Alagoas foram os vereadores de Maceió: Nilson Miranda, Jorge Lamenha Lins (Marreco) e Claudenor Sampaio. Em seguida, os deputados estaduais: Cláudio Albuquerque, Claudenor Albuquerque, e os suplentes Sebastião Barbosa de Araújo e Jayme Miranda. 

O prefeito Sandoval Caju foi destituído do cargo e teve o mandato e os direitos políticos suspensos por dez anos, assim como os demais cassados. Os deputados federais Abraão Fidelis de Moura, Aloísio Nonô e o general Henrique Cordeiro Oest foram cassados ainda no mês de abril.

O segundo momento de cassações foi após as eleições de 1965. O então estudante de medicina Moacir Andrade e Elísio Maia tiveram os mandatos cassados. Por motivos diferentes. Moacir Andrade foi considerado de esquerda, e Elísio Maia por suas implicações em atos violentos. Os golpistas empalmaram o poder lançando mão dos preceitos de moralidade.

O parlamento foi durante os 21 anos de ditadura uma trincheira importante de luta legal. As perdas dos mandatos nos primeiros anos de implantação da ditadura e os bons mandatos que foram conquistados não devem ser esquecidos.

A ação parlamentar de Rubens Canuto, deputado estadual prematuramente morto, é merecedora de registro. Rubens Canuto se comprometeu com a articulação do partido de oposição possível, o MDB. José Costa, Mendonça Neto, Renan Calheiros, Djalma Falcão, Pedro Camucé Falcão e Alcides Falcão integravam essa legenda.

As eleições de 1982 devolveram à Assembleia Legislativa a condição de parlamento com representação dos segmentos sociais que resistiam à ditadura. Dos deputados eleitos pela oposição (PMDB), vários deles tinham compromissos com as lutas democráticas. Agripino Alexandre, Ismael Pereira, Ronaldo Lessa (ex-preso político), Eduardo Bomfim, Selma Bandeira (ex-presa política), Mendonça Neto (que desistiu de ser deputado federal para se candidatar a deputado estadual) e Moacir Andrade (que recuperara o mandato quase duas décadas depois da cassação do seu primeiro mandato, em 1966).

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Resistência à ditadura em Alagoas I


 
Freitas Neto e Lula em 1979 no salão Nobre da Academia Alagoana de Letras


O golpe civil-militar de 1º de abril de 1964 atingiu a todos, parlamentares, juízes, ministros, religiosos,  advogados, operários, trabalhadores rurais, portuários. Em Alagoas a antiga Cadeia Pública “hospedou” centenas de patriotas, homens e mulheres. As prisões, as cassações de mandatos parlamentares, a suspensão dos direitos políticos e as torturas tiveram início nas primeiras horas e se seguiram por 21 anos [1964-1985]. O jornal A Voz do Povo foi destruído, os jornalistas, gráficos e diretores foram presos e outros passaram a viver na clandestinidade. É o caso de Silvio Lira, secretário de organização do PCB e diretor do semanário comunista.  
 

O Sindicato dos Jornalistas, fundado em 1958, havia elegido diretores comprometidos com as causas democráticas e favoráveis às reformas de base, inclusive a reforma agrária. O golpe prendeu os principais dirigentes; a Delegacia Regional do Trabalho [DRT] e o comando golpista em Alagoas passaram a controlar as atividades sindicais dos jornalistas. Não só dos jornalistas, mas de todos os sindicatos.
 

Em dezembro de 1968, quando entra em vigor o Ato Institucional nº 5 [AI-5], o terror é estendido para todos os setores, e só em 1978/1979 os jornalistas mais comprometidos com as liberdades democráticas retomam o controle político do sindicato ao eleger uma diretoria negociada, na base, entre os jornalistas conservadores e os combativos. O jornalista João Vicente Freitas Neto é o nome escolhido pelos seus companheiros.

É o passo inicial para as mudanças na categoria e na campanha por liberdades em Alagoas. Nesse mesmo período os radialistas também conseguiram se articular e retomam a diretoria das mãos pelegas. Os radialistas elegeram Adelmo dos Santos e uma diretoria combativa. Os dois principais dirigentes sindicais das categorias (jornalistas e radialistas) se tornaram em poucos meses as referências para os democratas que estavam se rearticulando na Universidade Federal (movimento estudantil) e em várias categorias de trabalhadores. É o caso dos urbanitários, que elegem Pedro Luiz da Silva para presidir o Sindicado dos Urbanitários de Alagoas.

Outros sindicatos foram ressurgindo das cinzas. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Viçosa e Capela, cujos presidentes foram assassinados por motivação política. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pão de Açúcar é outro bom exemplo de resistência. O fato de estar localizado numa região violenta e onde a última liderança do coronelismo dominava a cidade e uma imensa região do sertão alagoano diz bem de sua relevância. 

Os jornalistas, em 1979, realizaram em Maceió o XVII Congresso Nacional da categoria. Este evento converteu-se num importante palanque para que fosse denunciada a censura à imprensa e as prisões de jornalistas; no encerramento do congresso foi lida a Carta de Maceió. O jornalista e radialista Haroldo Miranda, irmão mais velho do dirigente do PCB, jornalista Jayme Miranda, leu uma carta em nome da família, na qual denunciava o desaparecimento do líder comunista.