Edson Bezerra, Paulo Poeta e César Rodrigues
(*)
Geraldo de Majella
A luta contra a ditadura em Alagoas se
deu em diversos campos. Os estudantes organizaram passeatas e manifestações denunciando
prisões de líderes estudantis, bem como a censura à imprensa, ao teatro, a
música e ao cinema. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade
Federal de Alagoas (UFAL), presidido por Radjalma Cavalcante, estudante de
economia, em abril de 1967 criou o Cinema de Arte de Maceió.
A ideia foi do crítico de cinema
Imanoel Caldas, numa reunião onde estiveram presentes o estudante Gildo Marçal
Brandão, o jornalista Bezerra Neto e Radjalma Cavalcante, fato conhecido e
documentado pelo ex-dirigente estudantil. As sessões foram realizadas por dez
anos no Cine São Luiz, da Empresa Luiz Severiano Ribeiro, a principal sala de
cinema de Maceió.
A parceria firmada entre o DCE e a empresa
definiu atribuições: a empresa, em conjunto com a comissão do cinema de arte,
escolhia os filmes e custeava a publicação semanal da folhetaria distribuída na
entrada, com uma resenha crítica escrita por Imanoel Caldas e Gildo Marçal,
sobre o filme a ser exibido. O jornalista Bezerra Neto, no Jornal de Alagoas, onde trabalhava, realizava os comentários
semanais.
O Cinema de Arte de Maceió passou a ser
um polo aglutinador de jovens intelectuais; ao final de cada exibição ocorriam
debates sobre o filme. A afluência ao cinema de arte cresceu e obrigou a
comissão e a empresa a criarem mais duas sessões, desta feita no Cine Rex, no
bairro de Pajuçara.
O movimento estudantil atraiu público
para as suas atividades culturais, iniciando pelo cinema e, no ano seguinte, em
1968, foram lançados os festivais de música. A ditadura militar exercia cada
vez mais o domínio e a coerção. Enquanto foi possível, as manifestações culturais
passaram a ser uma atividade significativa do DCE e de outras instâncias do
movimento estudantil.
O Teatro Universitário de Alagoas (TUA)
e o DCE promoveram em maio de 1968 uma palestra no Teatro Deodoro com o
dramaturgo paulista Plínio Marcos, na época já considerado pelo regime militar como
um maldito, pelas suas posições críticas à ditadura militar. Os estudantes
lotaram o teatro. Este fato motivou o TUA e o Departamento Cultural do DCE a
contatarem a produção da peça do Plínio Marcos, Dois perdidos numa noite suja, em exibição em várias cidades e
capitais, interpretada por Emiliano Queiroz e Nelson Xavier.
O 1º Festival de Música Popular
Brasileira foi realizado em novembro de 1968. A final aconteceu no Ginásio do
SESC. As três músicas classificadas foram: 1º lugar: “Carta”, de Josimar Franca;
2º lugar: “Batuque no Banzo”, de Flávio Guido Uchôa; 3º lugar: “Manchete”, de
Marcondes Costa. Menos de um mês após a final do festival é editado o Ato
Institucional nº 5 (AI-5); a censura prévia é instituída, o habeas corpus foi suspenso e houve o
recrudescimento da ditadura militar, com prisões, torturas, assassinatos e
desaparecimentos.
O 2º Festival foi realizado em junho de
1970, um ano e oito meses após a realização do primeiro, desta vez sob a égide
do AI-5. Trinta e seis músicas foram inscritas, duas censuradas pela Polícia
Federal. A música vencedora foi “Casa Nova para André”, de Vera Romariz e Wilma
Miranda.
No 3º Festival, realizado em dezembro
de 1971, no Ginásio do Colégio Estadual, o vencedor foi o cantor César
Rodrigues, interpretando a música “América, América”. Os festivais passaram a
ter visibilidade na mídia, mesmo sob censura, e as composições tinham caráter
político, tornando mais visíveis as ligações entre os festivais internacionais
da canção e os regionais. As atividades culturais levaram adiante as ações da
política estudantil, dando-lhe visibilidade e também mobilizando os estudantes
em torno das atividades culturais. Este foi o último festival.
O 1º
Encontro de poetas universitários foi mais uma tentativa do TUA e do DCE,
em 1969, de manter uma sequência de atividades culturais num clima de repressão
e censura. A articulação realizada pelas duas entidades estudantis era legal e
contava com o apoio da Reitoria e do governo do estado, além do Jornal de Alagoas e da Rádio Progresso.
O vencedor foi o poeta José Geraldo Marques com a poesia “Cristo ou Marvel”.
O cerco vai se fechando sobre o movimento
estudantil, os lideres estudantis são cada vez mais observados pelos órgãos de
repressão e prisões são realizadas em 1969, 1970, 1971 e 1973. O controle das
entidades estudantis é executado, a partir das prisões, com intervenções nos
diretórios e, sobretudo, com as prisões das lideranças.
Em outubro de 1971 foi organizada a 1ª Caravana de Cultura, focada na música
e no teatro como meio de expressão e difusão da produção artística
universitária alagoana. A caravana apresentou-se em Aracaju. Três espetáculos
foram mostrados ao público sergipano: um show musical baseado nas músicas
apresentadas nos três festivais realizados em Maceió; outro de música erudita
comandado por Fred Marroquim, e a encenação da peça “O Amor do Soldado”, do
escritor Jorge Amado, dirigida por Sabino Romariz.
Os festivais de música organizados
pelos estudantes universitários ressurgiram, novamente por iniciativa do DCE.
Nesse momento as mobilizações estudantis e operárias no Brasil integram a
agenda da política nacional.
O 4º Festival ocorreu em janeiro de
1983. Deste festival as doze músicas finalistas comporão um long-play (LP) gravado pelo DCE, fato
inédito no movimento estudantil brasileiro. O presidente do DCE, Edberto
Ticianeli, é o diretor-geral do festival e um dos idealizadores do registro
fonográfico.
Dois outros festivais foram realizados,
o 5º em 1984 e o 6º em 1985; o último se realizou nos estertores da ditadura
militar, com a eleição de Tancredo Neves e José Sarney, no Colégio Eleitoral, no
início da transição da ditadura para a democracia.
O TUA ressurge em 1980, numa ação
política dos estudantes da UFAL e da Escola de Ciências Médicas, sob a
liderança de Denisson Menezes, afastado pelos militares que o prenderam em
1973. A peça “Ponto de Partida”, do dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri, teve
inicialmente a direção de Cláudio Barradas, posteriormente substituído por Dário
Bernardes.
A formação do grupo contou com Denisson
Menezes, Cláudio Barradas, Rita de Cássia, Paulo (Poeta) Pedrosa, Hermé
Miranda, Roberto Lúcio, Graça Cabral, Suetônio Sarmento e Jorge Barbosa. Essa
formação se apresentou em Porto Alegre, Curitiba e Antonina (PR).
O TUA, sob a direção de Jorge Barbosa,
tornou-se um grupo de teatro de rua, cumprindo um papel importante na renovação
do teatro e até mesmo mudando o formato do que se realizava tradicionalmente em
Alagoas.
Fontes: Oliveira, José Alberto Saldanha de. A Mitologia Estudantil, Uma abordagem sobre o movimento estudantil alagoano.
Maceió, Sergasa, 1994.
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Edberto
Ticianeli, ex-presidente do DCE
Paulo
Poeta, ator e ex-membro do TUA
(*)
Historiador