quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Jardim Selvagem



(*) Luiz Carlos Figueiredo

Os novos poemas de Marcos de Farias Costa, em “O Jardim Selvagem”, vejam bem, leitores, nasceram em velhos tempos, nos momentos de etílica vigília, durante quarenta anos molhados em cachaça. Nada de falação boêmia. Entre um gole e outro, o silêncio, a conversa interior, viagem interna do eu-poético na maçaranduba do tempo. Daí resultaram os quase quatro elementos fundamentais do nosso cosmos: a água, a terra, o fogo e o éden (céu? ar?). Mas o que impressiona é esse Marcos Farias Costa, gigante do eterno inconformismo contra as injustiças, a hipocrisia, a gatunagem, os preconceitos, toda essa miséria humana – do aqui e do agora, do passado e do lá fora –, mostrar descara-damente, apesar dos aparentes escudos, a sua fraqueza. Não nos calcanhares ou no cotovelo, mas no coração, nos sen-timentos românticos e nobres, principalmente ao fazer rasgada e doce declaração de amor a Maceió: Pertenço a Maceió, sou o seu marido, somente nesta terra encontro abrigo... Em vez de caçador, serei a caça da cidade que fisgou meu coração. Que belo! Invejosamente, repito a mesma coisa. E tem mais: As ruas de Maceió agitam-se dentro de mim, com um barulho maior que a popu-lação de Pequim. Não desespera-damente, mas conscientemente, Marcos de Farias Costa desata-se em paixão pela água – vida – gentil que se bebe... Tudo enfim é água, e sem água tudo é fim, porém nas águas de mim, toda água é feliz.

Nem sempre Marcos de Farias é sincero, ou se comporta exageradamente irônico. Ele adora livros, vive entre livros, certamente deve acariciá-los, beijá-los ou lambê-los, quando ninguém, nem mesmo a Soninha, estiver por perto. Vejam, leitores, se tem cabimento o Marcos cantar: Seja o Bluteau ou o Moraes, dos livros já me escafedo, e falo, morrendo de medo: quem morou não mora mais! No fim, ele acaba confessando, já sincero, por que foge dos livros, glossários ou dicionários: Desculpe a sinceridade, mas é que o meu salário, de tão chinfrim, na verdade, nem dá pra comprar dicionário. Este aí, que está dentro deste livro, é um pedaço falante do interior do Marcos de Farias Costa, ora esperneando quase contra tudo, ora abrindo uma porta generosa, boa, romântica, numa voz que me lembra o tão querido e vibrante Orlando Silva.
(*) jornalista e escritor.
 

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