(*)Geraldo de Majella
O cronista e memorialista Carlito Lima tem dado
reiteradas demonstrações de amor pela cidade de Maceió. Essa paixão brota da
sua alma boêmia e bem humorada. Não é um ato forçado, artificial, é espontâneo
e despretensioso, por isso mesmo é autêntico. Ao declarar publicamente que ama
a cidade e a defende com todo ardor, simbolicamente é como se estivesse
erguendo uma barricada em favor das praias, dos coqueirais, da lagoa, tudo isso
na comunhão dos amigos, curtindo o pôr-do-sol na enseada da Pajuçara, de
Aldemar Paiva, “onde o mar beija as areias, com mais alma e mais amor.”
O seu livro Carinho
só de Mulé, Capitá só Maceió é um canto a cidade em que nasceu e vive, é a
expressão lírica em defesa de causas importantes e de interesse coletivo. O
Acadêmico, membro da Acadêmica Alagoana de Letras, Carlito Lima, há muito tempo
tem bradado na defesa do meio ambiente. Ao se posicionar favorável as causas
ecológicas, ainda na década de oitenta, do século passado - olha que faz tempo
- era verdadeiramente ele e seus poucos companheiros, espécies exóticas, bicho
grilo, para usar uma expressão comum da época, motivavam por suas atitudes risos
e chacotas.
Mas convenhamos: quem defendia a preservação dos
recursos naturais como os ambientalistas, contrariavam interesses econômicos
grandiosos. Nada convencional naqueles tempos. Os empresários de um modo geral se
apresentavam como os construtores do “desenvolvimento e do progresso”. Os
ambientalistas representavam, na visão daqueles vetustos senhores, uma trava
barulhenta. Mas que tipo de desenvolvimento era esse que intensificava as queimadas,
aterrava manguezais, instalava indústrias poluentes sem os cuidados necessários
com a saúde dos trabalhadores e menos ainda com a população, poluía rios e
mares.
Toda essa lógica perversa de desenvolvimento parecia ser
eterna. Qual o que, estamos vivendo o fim, o esgotamento desse ciclo de “desenvolvimento”.
Estamos vivenciando mudanças radicais pela preservação da espécie humana.
É incrível, mas estamos em meio a uma revolução,
muitos ainda não se deram conta, mas essa revolução será tão ou mais significativa
que a revolução industrial. Pois se trata, agora, de salvarmos o planeta Terra. Mais uma vez os ambientalistas, os pesquisadores
estão denunciando, ou melhor, continuam denunciando que a vida corre sérios
riscos em meio ao crescente processo de destruição dos recursos naturais da
terra.
O resultado parcial das lutas, algumas
relatadas pelo Carlito no livro e outras serão um dia publicadas, trouxe ganhos
ambientais, paisagísticos, arquitetônicos e econômicos que a geração a que
pertencem Carlito Lima, José Roberto da Fonseca, José Geraldo Marques, Eduardo
Normande, Regina Celi e tantos outros proporcionaram à cidade de Maceió e a
Alagoas.
Muitas vezes me pergunto: essa gente, a elite alagoana,
algum dia parou para pensar nos ganhos alcançados quando foi definido no Plano
Diretor da cidade o teto máximo de oito andares para edificações a serem
construídas na orla e nas ruas posteriores? A criação de uma faixa intermediária
entre a maior maré e o limite dos loteamentos à beira-mar? Seria muito bom
refletir sobre esses fatos. Principalmente avaliando os ganhos econômicos e
ambientais e o quanto isto significou para o ordenamento da orla marinha de
Maceió. Esses dois pontos citados contribuíram para melhor ordenar o litoral
alagoano.
Eu não posso imaginar que só os iniciados ou curiosos
se dêem conta desses fatos históricos e o quanto inteligente foram essas medidas.
Observando tudo isso numa perspectiva histórica, é sempre bom lembrar que essas
mudanças foram se consolidado com muita luta e com muitos argumentos,
inteligentes é bem verdade, que se contrapuseram à ganância desenfreada da
especulação imobiliária. Maceió, naquele momento, ganhou a batalha.
É natural não percebermos mudanças quando elas
estão em curso. Não faz muito tempo, Carlito recorreu ao Ministério Público
Estadual, num gesto solitário em defesa da orla de Maceió. Na ocasião, a
prefeitura de Maceió estava negociando a ocupação de espaços públicos, claro,
com a BR Distribuidora, subsidiaria da Petrobrás. A empresa construiria na orla
de Maceió postos de combustíveis e em troca forneceria asfalto para que fossem
pavimentadas as ruas da cidade.
Ideia pouco inteligente por se tratar do principal
cartão postal da cidade. Se essa negociação fosse em outras áreas da cidade,
todos achariam excelente a negociação. Ao provocar o Ministério Público, Carlto
Lima colocou água no chopp da municipalidade, como se diz no jargão popular. A
negociação foi desfeita e a cidade ficou com suas praias livres dos postos e de
outros empreendimentos que certamente viriam no rastro dos lucrativos negócios
do comércio de combustíveis.
A campanha em defesa da Avenida da Paz foi outra iniciativa
do Carlito Lima. Esse ato para muitos soa como uma defesa saudosista de um
cidadão que se criou à beira-mar, exatamente nas areias e águas mornas da
Avenida da Paz. Pra não esquecer: O Coreto da Avenida também esteve na mira dos
demolidores de prédios históricos de Maceió, mais uma vez a voz que se levantou
foi a de Carlito Lima. O Coreto foi salvo, mas está completamente abandonado,
servindo de dormitório à beira-mar de moradores de rua.
A revitalização do bairro de Jaraguá foi iniciada na
administração do prefeito Ronaldo Lessa, numa parceria com o Banco
Interamericano – BID, na gestão seguinte, da prefeita Kátia Born, as obras
avançaram e o bairro foi revitalizado. A continuação do projeto de
revitalização e despoluição do Salgadinho foi garantida apelo presidente Lula e
as obras estão em andamento. É verdade que o riacho Salgadinho ainda não foi
despoluído, que a Praia da Avenida continua imprópria para banho, pesca,
caminhadas matinais e namoros aquáticos, em alguns trechos, mas algumas mudanças
ocorreram.
Maceió tem fornecido régua e compasso para o
engenheiro Carlito Lima. Mas o que ele mais tem usado, que os engenheiros seus
colegas não saibam, é o computador. Essa moderna ferramenta tem sido a arma não
letal utilizada para divulgar Maceió.
O livro Carinho
só de Mulé, capitá só Maceió, é uma declaração de amor. É a defesa necessária
da cidade feita por quem nasceu e se criou e um dia saiu, rodou o mundo, depois
voltou, mas não retornou apenas para rever os parentes e os amigos, mas para
viver em paz e a beira-mar como diz Lourival
Passos: “Recordando essas coisas tão boas, / Sou feliz, não me sinto tão só! /
Toda gente que sai de Alagoas, / Coração deixa em Maceió!
(*) Historiador
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