Geraldo de Majella
Andar em Ouro Preto, subindo e descendo
ladeiras, é aconselhável para manter o equilíbrio, apurar o olhar no casario
colonial, além, claro, do exercício físico. As ladeiras íngremes, quando
molhadas, são escorregadias. A prudência é a melhor conselheira, dizem os mais
velhos.
Andar devagar, sem pressa, parando em frente
às igrejas, capelas, museus. A máquina fotográfica é um equipamento essencial.
Num tempo em que o aparelho celular tem múltiplas funções, a tradicional
máquina fotográfica ganha nas mãos dos mais jovens um papel secundário.
Ao caminharmos pelas ruas estreitas, de
pavimento irregular, ficamos atentos mais ao chão que ao casario. Seja morador
ou turista, o movimento cotidiano em alguma medida se perde ao andarmos de
olhos fitos no chão. Algumas ruas são de pedra rachão; outras de paralelepípedo.
A cidade é diferente de tudo o que
conhecemos, parecendo um cenário cinematográfico. Tudo é bonito. Os detalhes
sobram, e para onde olharmos veremos o conjunto arquitetônico constituído no período
colonial. É, sem exagero, um monumento a céu aberto encravado entre as
montanhas das Minas Gerais.
Ao olhar, como eu olhei pela primeira
vez, as obras do genial Aleijadinho, vi-me diante do inexplicável e do
incompreensível. Perguntei-me inúmeras vezes como uma pessoa com tantas e tão
graves dificuldades físicas conseguiu produzir obras inigualáveis em qualquer
tempo. Coisa de gênio é a única explicação encontrada.
Os olhos dão o zoom, aproximam o passado barroco nos detalhes da cantaria lavrada,
no azulejo que adorna os casarões seculares.
As pernas estão firmes – a idade
ainda ajuda –, mas não é para abusar. É recomendável, é prudente – digo com
prazer − escolher um dos tantos cafés para sentar, jogar conversa fora e
saborear um comprido ou curto, de preferência com leite. Afinal, estamos em
Minas Gerais, e o leite é o principal produto. O café é também um dos bons
produtos das Gerais. Assim como as cachaças − no plural −, pela qualidade e pela
variedade.
As comidas não são nada dietéticas (light), pois tudo que é bom engorda e em
geral é saboroso. Não é permitido entrar e sair de Minas Gerais sem apreciar as
comidas tradicionais. O leitão à pururuca, os torresmos e as carnes. É tão só a
entrada; em seguida, é a vez das sobremesas: os doces são bons, maravilhosos.
Eu, apesar de diabético, me fiz no doce de mamão verde com cravo e canela. Houve
algumas variações, e às vezes parcerias entre doces de leite, mamão e abóbora
no mesmo prato, com queijo minas.
A culpa, essa eterna perseguidora,
me acompanhou durante as minhas andanças pelas Minas Gerais. Antes que fosse
consumido por ela, caminhei sempre em companhia de Vânia mais que o necessário
para queimar o açúcar consumido nas sobremesas.
Após as minhas extravagâncias,
vali-me do poeta Fernando Pessoa. Valeu a pena? “Tudo vale a pena se a alma não
é pequena.”
Ouro Preto, até a próxima.
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