(*) Geraldo de
Majella
Após servir a sobremesa do jantar,
a minha companheira Vânia Assumpção, colocou sobre a mesa cinco álbuns de
fotografias, coloridas e preto-e-branco, de sua coleção.
Olhei com a curiosidade dos que procuram
descobrir preciosidades. Vejo-me, muitas vezes, como se fosse um garimpeiro à
procura de esmeraldas, ouro ou pedras preciosas de valor. Os historiadores, em
grande medida, são seres com essas características.
Não demorou muito, abri um dos
álbuns e me deparei com duas joias raras: cartões fotográficos de Roberto
Stuckert.
Fiz uma inevitável pergunta:
− Vânia, onde você comprou?
− Não comprei, ganhei de presente.
E me explicou, detalhadamente, que havia
recebido de Dona Alma, uma imigrante octogenária russa. Dona Alma havia chegado
a São Paulo após a revolução socialista de 1917. Em 1984, Vânia alugou um dos
quartos de sua casa, onde viveria por um ano enquanto fazia um curso de
especialização em paisagismo.
Quando estava retornando a Maceió
recebeu como presente os dois Stuckert. Passamos um tempo falando sobre
fotografia e sobre o Stuckert e outros importantes fotógrafos alagoanos ou que
por aqui estiveram.
Num gesto de desprendimento, recebo das
mãos de Vânia os dois cartões. A partir de agora vão para a minha coleção, e
como não sou fominha, vou disponibilizá-los através da internet, pelo Blog do Majella, Jornal da Besta Fubana
e pela minha página no Facebook.
Mas, afinal, quem é o fotógrafo R.
Stuckert, que assina os cartões fotográficos ou postais?
Os Stuckert são originários da Suíça, tendo
chegado ao Brasil pelo porto de Cabedelo, em João Pessoa (PB), em 1900. O
patriarca da família, Eduard Francis Rudolf Deglon Stuckert, um homem de
múltiplos ofícios profissionais, era fotógrafo, desenhista, escultor e
intérprete em oito línguas estrangeiras.
A viagem entre o continente europeu e o
Brasil durou quase um mês. Eduard Stuckert foi o responsável pela elaboração
das cartas náuticas. Em João Pessoa, fixa residência e começa a trabalhar como
fotógrafo, em companhia dos filhos Manfred, Gilberto e Eduardo Roberto. Criou o
Foto Íris, que posteriormente mudou de nome e passou denominar-se Foto Stuckert,
na rua Duque de Caxias. Entre 1900 e 1930 realizou um importante registro fotográfico
da cidade, e em 1942, no Rio de Janeiro, expôs a sua coleção de desenhos de
bico de pena e nanquim no Museu de Belas-Artes.
O filho caçula, Eduardo Roberto, na
década de 1950 deixa João Pessoa e ao passar por Maceió (AL), emprega-se no
jornal Gazeta de Alagoas e se torna o
precursor do fotojornalismo. É dessa época a coleção de cartões fotográficos ou
postais impressos e distribuídos nacionalmente.
Ao deixar Maceió, dirige-e à então
Capital federal, Rio de Janeiro, e passa a trabalhar no jornal O Globo. Em 1957, durante o governo
Juscelino Kubitschek, é destacado pela direção do jornal para fazer uma longa reportagem
da construção de Brasília.
Eduardo trabalhou durante um ano
fotografando a construção da nova capital do país e registrando o cotidiano da
construção e dos trabalhadores. Quando é chamado de volta ao Rio de Janeiro,
deixa o filho Roberto Stuckert a documentar a construção de Brasília.
Roberto depois se tornou conhecido
também como fotógrafo, recebendo o apelido de Stukão. É a terceira geração da
família a fotografar profissionalmente. Ao filho não restou outra alternativa a
não ser permanecer em Brasília, onde criou raízes.
Poucos meses antes de Brasília ser
inaugurada, Eduardo Roberto retorna com toda a família para o Planalto Central,
onde fixa residência. Na década de 1970, com os filhos Roberto, Rodolfo,
Eduardo e Rosiane, funda a Stuckert Press, empresa de fotojornalismo.
Roberto Stuckert foi o fotógrafo oficial da Presidência
da República no governo do general Figueiredo, trabalhou para jornais e
revistas e realizou a cobertura de três copas do mundo.
A quarta geração da família Stuckert é representada
por Ricardo Stuckert, brasiliense, fotógrafo desde os 19 anos de idade.
Iniciou-se no jornalismo no jornal O Globo, passou pelas redações das
revistas “Caras”, “Veja” e “IstoÉ”. Trabalhou na campanha presidencial de Luiz
Inácio Lula da Silva e, durante os dois mandatos do presidente Lula, foi o
fotógrafo oficial da presidência da República.
A família Stuckert continua em destaque no
prestigioso trabalho de fotografar a presidência da República. Agora, quem está
nessa função é Roberto Stuckert Filho, fotógrafo da presidenta Dilma
Rousseff.
(*)
Historiador