A disputa política permite toda sorte de
retórica. Populistas, insensíveis, reacionários, porra-loucas, o vocabulário é
abrangente, da linguagem culta à chula.
Em todos esses anos acompanhando e
participando de polêmicas, jamais vi definição mais sintética e arrasadora do
que a do jurista Celso Antônio Bandeira de Mello sobre Joaquim Barbosa: “É uma
pessoa má”.
Não se trata se julgamento moral ou
político. Tem a ver com distúrbios psicológicos que acometem algumas pessoas,
matando qualquer sentimento de compaixão ou humanidade ou de identificação com o
próximo. É o estado de espírito que mais aproxima o homem dos
animais.
O julgamento da bondade ou maldade não se
dá no campo ideológico. Celso Antônio Bandeira de Mello é uma pessoa generosa,
assim como Cláudio Lembo, cada qual com sua linha de pensamento. Conheci
radicais de lado a lado que, no plano pessoal, são pessoas extremamente doces.
Roberto Campos era um doce de pessoa, assim como Celso Furtado.
A maldade também não é característica
moral. O advogado Saulo Ramos, o homem que me processou enquanto Ministro de
Sarney, que conseguiu meu pescoço na Folha em 1987, que participou das maiores
estripulias que já testemunhei de um advogado, nos anos 70 bancou o
financiamento habitacional de um juiz cassado pelos militares. E fez aprovar uma
lei equiparando direitos de filhos adotados com biológicos, em homenagem ao seu
filho.
A maldade é um aleijão tão virulento, que
existe pudor em expô-la às claras. Muitas vezes pessoas são levadas a atos de
maldade, mas tratam de esconde-los atrás de subterfúgios variados, com o mesmo
pudor que acomete o pai de família que sai à caça depois do expediente; ou os
que buscam prazeres proibidos.
Joaquim Barbosa é um caso de maldade
explícita. Longe de mim me aventurar a ensaios psicológicos sobre o que leva
uma pessoa a esse estado de absoluta falta de compaixão. Mas a natureza da sua
maldade é a mesma do agente penitenciário que se compraz em torturar
prisioneiros; ou dos militares que participavam de sessões de tortura -- para me
limitar aos operadores do poder de Estado. Apenas as circunstâncias
diferem.
A natureza o dotou de uma garra e
inteligência privilegiadas. Por mérito próprio, teve acesso ao que de mais
elevado o pensamento jurídico internacional produziu, a ciência das leis, da
cidadania, da consagração dos direitos.
Nada foi capaz de civilizar a brutalidade
abrigada em seu peito, o prazer sádico de infligir o dano a terceiros, o sadismo
de deixar incompleta uma ordem de prisão para saborear as consequências dos seus
erros sobre um prisioneiro correndo risco de morte.
Involuntariamente, Genoíno deu a
derradeira contribuição aos hábitos políticos nacionais: revelou, em toda sua
extensão, a face tenebrosa da maldade.
Espera-se que nenhum político seja louco
a ponto de abrir espaço para este senhor.
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