O general Mourão Filho com o governador Magalhães Pinto
(*) Geraldo de
Majella
O general Olympio Mourão Filho,
comandante da 4ª Região Militar e da 4ª Divisão de Infantaria, e o general
Carlos Luiz Guedes da Divisionária/4, tinham pressa. Mourão, experiente golpista, decide descer a serra de Juiz de Fora [MG],
na madrugada de 1º de abril de 1964, em direção ao Rio de Janeiro, comandando a
sua tropa, antecipando o golpe militar.
O general Carlos Guedes fica em Minas,
e em Belo Horizonte, juntamente com o governador Magalhães Pinto, articula a
adesão dos políticos, dos empresários e dos militares mineiros contra o
presidente João Goulart.
O golpe tem origem na embaixada
norte-americana no Rio de Janeiro, onde o embaixador Lincoln Gordon, seu estrategista
e coordenador, cuidava dos detalhes de como e quando seria deflagrado o golpe e
a consequente deposição do presidente constitucional João Goulart.
No dia 20 de março, Gordon viaja a
Washington para se reunir na Casa Branca com o presidente Lyndon Johnson.
Estiveram presentes à reunião o secretário de Estado Dean Rusk e o chefe da Agência
Central de Inteligência (CIA), John McCone. Oito pessoas participaram desta
reunião.
Informado, o presidente dos Estados Unidos
toma a decisão de enviar a força naval para intervir no Brasil, com a ressalva:
caso houvesse necessidade. Como ouvia rumores de que poderia haver reação dos
governistas, preventivamente os EUA despacham navios para a costa brasileira. Não
houve resistência alguma e não foi necessário o uso da força naval.
O Rio de Janeiro ainda era o centro dos
acontecimentos políticos. Em 1961, há três anos Brasília passara a ser a
capital e se encontrava em fase de estruturação. O presidente João Goulart, o
deputado Tancredo Neves, líder do governo na Câmara Federal, e o secretario de
Imprensa da Presidência, Raul Ryff estavam no Rio de Janeiro, no dia 30 de
março. Jango se aprontava para discursar
para suboficiais e sargentos das Forças Armadas reunidos no salão do Automóvel
Clube do Brasil.
Os golpistas também estavam na cidade
do Rio de Janeiro. Em Ipanema, na Zona Sul, encontravam-se os generais Castelo
Branco, Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, que mantinham contatos com
militares e civis, à espera da melhor oportunidade para o golpe.
Na praia do Flamengo, o embaixador
Lincoln Gordon se abastecia de informações transmitidas pelos seus agentes e
pelos golpistas nacionais e as enviava à Casa Branca, ao presidente Lyndon
Johnson. Este, horas antes do golpe, descansava em seu rancho no Texas, sendo
informado pelo secretario de Estado da démarche
no Brasil.
No final da noite, às 23h35 do dia 30 de março,
pelo telefone o presidente Lyndon Johnson recebe uma ligação de Dean Rusk,
secretário de Estado: “A coisa pode estourar a qualquer momento. [...] Pedi ao
Bob McNamara que apronte alguns navios-tanque para suprimentos. [...] Esta é
uma oportunidade que pode não vir a se repetir. Acho que é possível que esse
assunto brasileiro exploda de hoje para amanhã, e estarei em contato com o
senhor sobre isso, para que o senhor possa se planejar” (Gaspari: 2002:66).
Antes, em 1962, na manhã do dia 30 de
julho, no salão oval da Casa Branca, o presidente John Kennedy e o embaixador
Lincoln Gordon trataram do golpe no Brasil. A audiência foi gravada pelo
presidente Kennedy. O dialogo anos depois é revelado e faz parte do acervo do
ex-presidente:
[Gordon] – Creio que uma de nossas
tarefas mais importantes consiste em fortalecer a espinha militar. É preciso
deixar claro, porém com discrição, que não somos necessariamente hostis a
qualquer tipo de ação militar, contanto que fique claro o motivo.
− Contra a esquerda – cortou Kennedy.
− Ele está entregando o país aos...
− Comunistas – completou o presidente.
− Exatamente. Há vários indícios de que
Goulart, contra a sua vontade ou não [inaudível]... ( Gaspari 2002:60).
A partir desse momento o golpe entrou
efetivamente na agenda do governo norte-americano, visando à sua efetivação
através de apoios logísticos, financeiros e políticos. A CIA e o IBADE passaram
a financiar campanhas eleitorais, a comprar espaços na imprensa nacional, a
financiar estudos e pesquisas. A Igreja Católica foi uma aliada dos golpistas
desde os primeiros momentos, mobilizando seus fiéis em diversas capitais e
cidades do país.
Dá-se tanto nos EUA quanto no Brasil a
difusão de noticias na imprensa dando conta de que João Goulart estava
preparando a criação de uma “Republica Sindicalista” e vinha se tornando um
aliado de Cuba e da União Soviética.
A Guerra Fria travada entre EUA e URSS
dividia o mundo em dois blocos políticos e econômicos e inspirava essa ardilosa
campanha externa e interna contra Jango e sua política intitulada genericamente
de Reforma de Bases. Aos olhos dos EUA as reformas de bases e o controle da
remessa de lucros das empresas estrangeiras eram os sinais do comunismo
anunciado pelo governo João Goulart.
No dia 1º de abril o golpe é anunciado.
O presidente João Goulart é deposto do cargo e milhares de prisões são
realizadas em todas as regiões. A ditadura militar tem duração de 21 anos.
(*)
Historiador
Gaspari,
Elio. A Ditadura envergonhada, São Paulo, Companhia das Letras, 2002, p. 66,60.
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