Rubens Colaço discursando na inauguração da rua Jayme Miranda
(*) Geraldo de Majella
As
articulações golpistas civis e militares vinham acontecendo nos estados e nas
principais cidades há tempo. Desde o suicídio de Getúlio Vargas os militares
das três armas procuravam a melhor oportunidade para deflagrar o golpe, não foi
possível impedir a posse de Juscelino Kubitschek, a oportunidade se apresenta alguns
anos depois no governo de João Goulart, em abril de 1964.
A
partir de 1962 o golpe entra na agenda política do presidente John Kennedy,
tendo o embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, como o idealizador e
estrategista mais qualificado.
Contava
com a participação de políticos udenistas e de outras siglas, governadores,
senadores e deputados, empresários, religiosos e da quase totalidade da grande
mídia nacional fartamente subsidiada por recursos oriundos da Agência Central
de Inteligência (CIA), Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês).
O
comandante da 4ª Região Militar, general Mourão Filho, sem que houvesse combinado
com os líderes golpistas, desce a serra de Juiz de Fora (MG) em direção ao Rio
de Janeiro, na madrugada do dia 1º de abril de 1964, antecipando o golpe.
Em
Maceió, distante 1.948 km, o governador de Alagoas, general Luiz Cavalcante,
amanheceu o dia transmitindo e recebendo informações. O aparelho de
radiotelegrafia do Palácio dos Martírios funcionou durante a noite e a madrugada
do dia 31 março e 1º de abril.
Os
secretários de Estado foram convocados pelo governador em caráter
extraordinário. Em depoimento ao autor, o então secretário da Fazenda, Divaldo
Suruagy, recebeu em sua residência, no bairro da Cambona, o chefe do gabinete
militar coronel Cícero Argolo, convocando-o para uma reunião em palácio.
Suruagy, testemunha privilegiada dos
acontecimentos, disse: “[...] O comandante do 4º Exército, general Justino
Alves Bastos, através de rádio, tinha aderido à revolução, e o Major Luiz, da
UDN, correligionário de Carlos Lacerda, adversário do Jango, decidiu pela
Revolução. Era uma questão política. [...] Nós ficamos de 31 até o dia 1º no
palácio, reunidos, batendo papo, conversando. Quem comandou o processo das
prisões foi o coronel João Mendes de Mendonça, secretário de Segurança Pública,
com o apoio do Rubens Quintela e do (Albérico Barros) Barrinhos. Eles
transformavam as ordens de prisão em realidade”[1].
O presidente do sindicato dos
motoristas de Alagoas, Rubens Colaço Rodrigues, foi o primeiro preso político,
no amanhecer da manhã de 1º de abril.
Do livro Rubens Colaço: Paixão e Vida – A trajetória de um líder sindical
(Edições Bagaço, 2010), publicamos este trecho.
Você foi preso no dia 1º de abril? Como
se deu a sua prisão?
− Sim. Foi no dia 1º de abril e foi o Rubens Quintela quem
executou a minha prisão. Ele parou o carro em que vínhamos de Pernambuco, no
Tabuleiro do Martins, por volta das três horas da madrugada, dizendo:
– Você é Rubens Colaço?
– Às suas ordens.
– Está preso?
– Por quê?
Ele falou grosso:
– Nós fizemos uma revolução e vocês perderam; desça, venha
cá.
Foi me escorando numa guarita, ali onde foi a Petrobras,
Tabuleiro do Martins, e perguntou:
– Onde estão as fardas de guerrilheiros que você foi buscar
no Recife, vindas de Cuba?
Falei sério:
– Devem estar aí no carro. Seus homens já devem ter achado.
Mas eu falei aquilo por pura ironia; aí ele engatilhou a
metralhadora e disse:
– Olha, a sua vida está nas minhas mãos. Não tome deboche
não, que você morre. Eu calado estava, calado fiquei. Ele olhou para mim uns
trinta segundos e desengatilhou a metralhadora, botou no ombro e disse:
– Olha, Colaço, vou lhe dar uma oportunidade. Sabendo que se
eu estivesse em suas mãos você não me daria.
Ordenou para os seus esbirros que estavam parados em pé,
observando o diálogo:
– Levem o homem.
O que ocorreu em seguida?
− Nos levaram direto para a Secretaria do Interior e
Segurança Pública, na Praça dos Martírios, depois para a penitenciária.
Estranhei o fato do Expedito, o Expedito de..., era um rapaz funcionário da
Petrobras, não me lembro o sobrenome dele. Nós ficamos presos e ele foi num
carro especial para casa, onde os pais dele moravam, na usina Utinga Leão.
E vocês foram levados presos para a
penitenciária?
− E nós fomos levados para a penitenciária, já amanhecemos o
dia na cela 12. Fomos os primeiros a chegar. Quando foi às oito horas da noite,
a cela 12, onde nós estávamos, que só cabia 24 homens deitados marcando cartão
um no outro, tinha 28; então 12 ficaram na grade, na porta de entrada, e 12
ficavam na janela, que dava para o sanitário, acordados; aí depois, quando
cansavam, iam para lá, fazíamos um revezamento, tinha sempre quatro acordados e
24 marcando cartão um no outro. O mesmo acontecia nas demais celas, na 13, em
todas, enfim. No dia 4 de abril éramos 151 presos.
(*) Historiador.
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