Roberto Menezes, Renato, Ademir, Zé Roberto, Lourival e Pompeia.
Agachados: Roberval, Rinaldo, Canavieiro, Jaildon e Mano.
Cláudio Canuto*
Lembro-me, como uma das mais arrebatadoras das minhas lembranças infantis, a elegância majestosa do seu futebol. O prazer voluntarioso e apaixonado com que a bola deixava-se levar, submetida a seus pés, à sua volúpia, a seus caprichos de jogador refinado, elegante e objetivo.
As nossas ruas confluíam, apontando para a Praça Sinimbu, onde fomos criados quase maloqueiros, jogando pelada em um campo vasto, pois a Praia da Avenida era nossa, e Roberto Menezes, futuro engenheiro e já ídolo de futebol, mostrava-nos gratuitamente o engenho de sua arte, para nós mais que complicada, insondável. Hoje eu sei o porquê: as bolas do mundo inteiro tinham uma grande paixão por ele, que as tratava com respeito e indiferença. Na verdade, submetia-as ao seu talento desinteressado e sem limites. No fundo, ele sabia. E é desta convicção que vinha a sua tranqüilidade quase tímida, o sorriso de quem perdoava a traquinagem que iríamos cometer, os abusos de jogadores limitados que viam no nosso objeto de lazer apenas couro e ar, que não sentíamos o seu pulsar, a sua alma feminina.
Objetivo, como disse, o seu futebol era matemático; os seus dribles, curtos, e longos os seus lançamentos. Desarmava com facilidade e cometia poucas faltas, como cavalheiro que era. Não lembro se foi expulso algum dia. E se o foi, culpo o juiz ou o adversário. Ou ambos. Defensor, quarto-zaqueiro ou volante, tinha noção clara que o futebol ideal era fazer muitos gols e não levar nenhum. Daí, a sua objetividade. Normalmente falava pouco e desconheço se algum dia foi capitão. Se não o foi, deveria ter sido, pois se impunha em campo, mesmo em silêncio, que era a sua atitude habitual.
Para mim, o seu jogo antológico foi contra o Cruzeiro de Minas, de Dirceu Lopes, Tostão e, sobretudo neste momento, de Piazza. Ambos Roberto Menezes e Piazza, disputavam a Bola de Prata do Campeonato Brasileiro, cuja preferência era determinada pelos votos de torcedores do Brasil inteiro. Roberto liderava com uma pequena margem de diferença. O troféu estava guardado lá em casa, aos cuidados do meu irmão, Márcio.
Jamais esquecerei o duelo, jamais esquecerei a elegância da disputa. Jamais esquecerei que o troféu foi levado lá de casa como quem cometiam um furto, como quem levavam um bem precioso cujo dono morava na rua ao lado, a cem metros de onde ele estava:” Deixe-o aqui, senhor. Eu mesmo o levarei. O dono mora ali e está em casa”.
Nós, seus amigos mais próximos, sabíamos, desde um tempo insuportavelmente indesejado, que o “galego” já tinha encontro marcado com o mundo desconhecido e que, em sua espera, sofria padecimentos terríveis.
Deixo-me arrastar pelos sentimentos e obscureço, talvez, o compromisso da objetividade que um dos mandamentos jornalísticos impõe. Mas eu o vi jogar e sei que não estou só, sei que outros torcedores anônimos, amantes do futebol sem os artifícios de uma retórica vazia expressa por fanáticos atuais, mas elevado à categoria de arte – a sua verdadeira morada -, encontrou em Roberto Menezes um dos seus ícones mais expressivos e respeitáveis. E estes, como eu, velam para que ele descanse eternamente em paz.
*É azulino.
As nossas ruas confluíam, apontando para a Praça Sinimbu, onde fomos criados quase maloqueiros, jogando pelada em um campo vasto, pois a Praia da Avenida era nossa, e Roberto Menezes, futuro engenheiro e já ídolo de futebol, mostrava-nos gratuitamente o engenho de sua arte, para nós mais que complicada, insondável. Hoje eu sei o porquê: as bolas do mundo inteiro tinham uma grande paixão por ele, que as tratava com respeito e indiferença. Na verdade, submetia-as ao seu talento desinteressado e sem limites. No fundo, ele sabia. E é desta convicção que vinha a sua tranqüilidade quase tímida, o sorriso de quem perdoava a traquinagem que iríamos cometer, os abusos de jogadores limitados que viam no nosso objeto de lazer apenas couro e ar, que não sentíamos o seu pulsar, a sua alma feminina.
Objetivo, como disse, o seu futebol era matemático; os seus dribles, curtos, e longos os seus lançamentos. Desarmava com facilidade e cometia poucas faltas, como cavalheiro que era. Não lembro se foi expulso algum dia. E se o foi, culpo o juiz ou o adversário. Ou ambos. Defensor, quarto-zaqueiro ou volante, tinha noção clara que o futebol ideal era fazer muitos gols e não levar nenhum. Daí, a sua objetividade. Normalmente falava pouco e desconheço se algum dia foi capitão. Se não o foi, deveria ter sido, pois se impunha em campo, mesmo em silêncio, que era a sua atitude habitual.
Para mim, o seu jogo antológico foi contra o Cruzeiro de Minas, de Dirceu Lopes, Tostão e, sobretudo neste momento, de Piazza. Ambos Roberto Menezes e Piazza, disputavam a Bola de Prata do Campeonato Brasileiro, cuja preferência era determinada pelos votos de torcedores do Brasil inteiro. Roberto liderava com uma pequena margem de diferença. O troféu estava guardado lá em casa, aos cuidados do meu irmão, Márcio.
Jamais esquecerei o duelo, jamais esquecerei a elegância da disputa. Jamais esquecerei que o troféu foi levado lá de casa como quem cometiam um furto, como quem levavam um bem precioso cujo dono morava na rua ao lado, a cem metros de onde ele estava:” Deixe-o aqui, senhor. Eu mesmo o levarei. O dono mora ali e está em casa”.
Nós, seus amigos mais próximos, sabíamos, desde um tempo insuportavelmente indesejado, que o “galego” já tinha encontro marcado com o mundo desconhecido e que, em sua espera, sofria padecimentos terríveis.
Deixo-me arrastar pelos sentimentos e obscureço, talvez, o compromisso da objetividade que um dos mandamentos jornalísticos impõe. Mas eu o vi jogar e sei que não estou só, sei que outros torcedores anônimos, amantes do futebol sem os artifícios de uma retórica vazia expressa por fanáticos atuais, mas elevado à categoria de arte – a sua verdadeira morada -, encontrou em Roberto Menezes um dos seus ícones mais expressivos e respeitáveis. E estes, como eu, velam para que ele descanse eternamente em paz.
*É azulino.
Colaborador do Blog.
Adorei este texto Majela. Por onde anda o Cládio Canuto?
ResponderExcluirRapaz, bateu uma saudade de Maceió e de tudo que agente vive nesta cidade linda, porém tão maltrada por estes vagabundos que dizem administrá-la.
Pessoas sensíveis como Claúdio e você para nos brindar com tão refinada escrita e descrição da nossa convivência e amizade construída ao cheiro da maré de Maceió.
Antonio Jacinto Indio.
BRASÍLIA -DF.
Indio, o Claudão esta morando em Riacho Doce. É uma grande figura.
ResponderExcluirObrigado
Geraldo de Majella