(*) Geraldo de Majella
O
historiador uruguaio René Armand Dreifuss, em 1987, publicou 1964: A Conquista do Estado – Ação Política, Poder e Golpe de Classe. Logo
se tornou uma referência para os estudiosos do golpe civil-militar brasileiro. As
revelações contidas nas 814 páginas desnudaram os golpistas brasileiros, civis
e militares e os norte-americanos estimuladores e mantenedores do golpe.
Dreifuss
mosta os caminhos, veredas e as veias que irrigaram as redações de jornais e
rádios, as campanhas eleitorais, os militares, num mergulho profundo em fontes documentais até então inéditas. O
centro de financiamento da conspiração foi exposto como nunca havia sido antes.
O que se sabia eram apenas indicativos. Dreifuss disponibiliza com suas
pesquisas as comprovações.
Em
seu livro constam a contabilidade e as atividades do Instituto Brasileiro de
Ação Democrática (IBAD), organização anticomunista fundada em maio de 1959 por Ivan Hasslocher. O IBAD
contava com inumeros empresários brasileiros
e estrangeiros como membros, apoiadores, contribuintes e outros como ativistas full time.
O Instituto de Pesquisas e
Estudos Sociais (IPES), fundado em novembro de 1961, dois anos
e meio depois do IBAD, por Antônio Gallotti e Augusto Trajano de Azevedo Antunes e outros, serviu como um dos principais catalisadores do pensamento
anti-Goulart e principalmente como intrumento
de financiamento do governo dos EUA, de
empresarios brasileiros e estadunidenses. A finalidade inicial era combater o estilo populista de JK e possíveis vestígios da
influência do comunismo no Brasil.
O
general Hélio Ibiapina revelou anos depois o que todos já sabiam: que o IBAD
possuía ligações com a CIA. Em Alagoas o IBAD foi dirigido por um colegiado − pelo menos oficialmente
− constituido pelos intelectuais Ib Gatto Falcão, Everaldo Macedo de Oliviera,
Hélio Ramalho Ferreira e Japson Macedo de Almeida (Dreifuss:
1987:648).
As
ações coordenadas pelo IBAD e pelo IPES são abrangentes e chegam até ao
financiamento de campanhas eleitorais de candidatos a governadores, deputados
estaduais e federais de vários partidos, como PDC, PRP, PSD, PTB, PR, mas é
notoria a vinculação com a União Democratica Nacional – UDN. Em Alagoas o IBAD financia
as campanhas de três deputados federais: a do padre Medeiros Neto, a de Oseas
Cardoso e a de Sigismundo Andrade (Dreifuss: 1987:334).
O
IBAD/IPES contava em 1962 com aproximadamente duzentos parlamentares, ou seja,
quase a metade da Câmara dos Deputados. Esse contigente de deputados se abrigava
num bloco denominado de amigos da Ação Democrática Parlamentar, todos
patrocinados pelo financiamento de campanhas eleitorais e publicidades na
grande mídia e entre intelecutais de direita pelas duas organizações.
A
estratégia posta em prática pelos golpistas para bloquear as ações políticas do
presidente João Goulart no Congresso Nacional, visando implantar as reformas de
bases, forçava o presidente a utilizar os decretos presidenciais como
instrumento de ação legislativa, fato gerador de impasses no Congresso
Nacional. Tendo em vista a fragilidade numerica da banda de apoio ao govenro
Jango.
As crises oriundas dos bloqueios processuais
nasciam da maioria parlamentar vinculada aos financiamentos norte-americanos e
do empresariado brasileiro e estrangeiro no Parlamento; eram amplificadas na
grande mídia, também financiada pelos golpistas, como sinais de crises de governabilidade.
(*) Historiador
Muito bom Geraldo!
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