O senador Paulo Brossard, Moura Rocha e José Costa, em 1978.
(*)
Geraldo de Majella
O golpe civil-militar de 1º de abril foi
a porta de entrada para os vinte e um anos de ditadura que o Brasil viveu. Os
primeiros atos de toda ditadura são atos de violência e de supressão das
liberdades. A ditadura brasileira não seria diferente; em Maceió, as prisões
começaram ainda na madrugada do dia 1º de abril. Ao amanhecer do dia, a polícia
foi até a sede do semanário comunista A
Voz do Povo, na rua do Comércio, invadindo, depredando e sequestrando os
bens e documentos.
A sanha violenta continua, e no dia 3 de
abril o Comandante da guarnição federal, o 20º Batalhão de Caçadores (20 BC),
envia ao presidente da Câmara Municipal um ofício exigindo a cassação dos
vereadores Nilson Miranda, Jorge Lamenha (Marreco) e Claudionor Sampaio. O
sinal de domínio do Parlamento é dado através de um ofício, ao exigir a
cassação sumária de mandatos parlamentares conquistados através do voto
popular.
O presidente da República deposto e a
caminho do exílio, milhares de presos políticos confinados em cadeias em todas
as unidades de federação. Os militares tomam o poder pela força, e uma sucessão
de Atos Institucionais (Ais) foi editada, todos com a marca expressa de violência,
cassando mandatos parlamentares e executivos (governadores, prefeitos e o
presidente João Goulart), extinguindo os partidos políticos e impondo a censura
à imprensa.
Em Alagoas, após as cassações dos vereadores
de Maceió e de algumas cidades do interior, é chegada a vez dos deputados
estaduais Cláudio Albuquerque, Claudenor Albuquerque, Sebastião Barbosa de
Araújo, Pedro Temóteo, e dos suplentes Jayme Miranda e Cyro Casado Rocha.
O prefeito Sandoval Caju foi destituído
do cargo e teve o mandato cassado e os direitos políticos suspensos por dez
anos, assim como os demais cassados. Os deputados federais Abrahão Fidelis de
Moura, Aloísio Nonô e o general Henrique Cordeiro Oest, suplente no exercício
do mandato, foram cassados ainda no mês de abril.
O segundo momento de cassações se deu após
as eleições de 1965. O governador eleito, Sebastião Marinho Muniz Falcão, foi
impedido de assumir o cargo por artifícios casuísticos. Assume como interventor
o general João José Batista Tubino, de 1º de fevereiro a 15 de setembro de 1966.
O estudante de medicina Moacir Andrade,
representando a cidade de Penedo, tido como uma promessa política, eleito
deputado estadual em 1965, é cassado. O conhecido coronel e chefe político de
Pão de Açúcar Elísio Maia, Luiz Coutinho e Roberto Mendes tiveram os mandatos
cassados e os direitos políticos suspensos por dez anos.
O Parlamento foi durante os 21 anos de
ditadura uma trincheira importante de luta legal. As perdas dos mandatos nos
primeiros anos de implantação da ditadura e os bons mandatos que foram
conquistados não podem ser esquecidos.
A ação parlamentar de Rubens Canuto,
deputado estadual prematuramente morto, é merecedora de registro. Rubens Canuto
se comprometeu com a articulação do partido de oposição possível, o MDB, ainda
na década de 1960, no pós-golpe. O advogado de presos políticos, José Costa, o
jornalista Mendonça Neto, o estudante Renan Calheiros, os irmãos Djalma Falcão,
Pedro Camucé Falcão e Alcides Falcão, herdeiros do legado político do
ex-governador Muniz Falcão, todos estes fizeram a oposição possível pela
legenda do MDB, e depois, do PMDB.
Os candidatos ao Senado Mendes de Barros
e Aurélio Viana, nas eleições de 1970, enfrentam as maiores máquinas
eleitorais: Arnon de Mello e Luiz Cavalcante, dois ex-governadores e homens da
confiança dos militares e da elite. Os oposicionistas perdem as eleições, mas
cumprem um papel importante ao ajudar na estruturação do MDB estadual.
Em 1974 o vereador por Maceió, Pedro
Marinho Muniz Falcão (Camucé), é destacado pelo MDB para concorrer à única vaga
para senador contra Teotônio Vilela (Arena), recebendo em Maceió, o maior
colégio eleitoral de Alagoas, uma votação extraordinária. Perde a eleição, mas
faz com que a oposição se consolide na capital e em algumas cidades do
interior.
Os mandatos conquistados nas eleições de
1974 e 1978 fizeram do MDB, depois PMDB, a organização social mais importante
na luta de resistência à ditadura militar em Alagoas. Os deputados José Costa
(federal) e Mendonça Meto (estadual) emergiram das urnas em 1974. Em 1978, a
ditadura usou de mais um artifício casuístico, a eleição indireta de um terço
dos senadores, instituindo o senador biônico. Arnon de Mello recebeu o mandato
da Assembleia Legislativa, dócil e castrada nas suas prerrogativas.
O MDB obteve uma votação consagradora
nas eleições para o Senado com o nome do advogado e ex-preso político José
Moura Rocha. A legislação casuística, criada para tentar manter a maioria
parlamentar no Congresso Nacional, reelegeu o general Luiz Cavalcante ao Senado,
derrotando Moura Rocha. A legislação eleitoral dificulta a eleição da oposição,
o instituto da sublegenda e a proibição dos candidatos se apresentar nos
programas de televisão e rádio durante a campanha eleitoral foi mais um
artifício restritivo para a oposição a ditadura.
O advogado e deputado federal José Costa
é reeleito, Mendonça Neto é eleito deputado federal e um jovem estudante de
direito, presidente do diretório Acadêmico da Área III da UFAL, Renan
Calheiros, elege-se deputado estadual, passando a representar na Assembleia
Legislativa as lutas estudantis e os alagoanos que lutavam contra a ditadura
militar.
As eleições de 1982 devolveram à
Assembleia Legislativa a condição de Parlamento com representação dos segmentos
sociais que resistiam à ditadura. Dos deputados eleitos pela oposição (PMDB),
vários deles tinham compromissos com as lutas democráticas: Agripino Alexandre,
Ismael Pereira, Ronaldo Lessa (ex-preso político), Eduardo Bomfim, Selma
Bandeira (ex-presa política), Mendonça Neto (que desistiu de ser deputado
federal para se candidatar a deputado estadual) e Moacir Andrade (que
recuperara o mandato quase duas décadas depois da cassação do seu primeiro
mandato, em 1966).
O senador Teotônio Vilela é a
personalidade em nível federal que mais se aproxima dos que lutavam pela
redemocratização do país. A voz do senador alagoano tem destaque no Congresso
Nacional e nas ruas, praças e universidades pelo país afora. Desde 1975 o
Menestrel da Alagoas passou mais acentuadamente a discordar da política
econômica da ditadura militar.
A defesa do Programa Nacional do Álcool,
da matriz energética nacional e renovável, e principalmente da redemocratização
do Brasil, é encampada por Teotônio. Mas é no final do governo Geisel que a
proposta de abertura política toma dimensão e significado. O senador Teotônio
Vilela converte-se no defensor da abertura e da anistia para os presos,
exilados, banidos e perseguidos políticos.
O senador procura os mais autênticos
deputados da oposição para levar adiante a campanha pela anistia; passa a
viajar pelo país, visitando centenas de presos políticos nos presídios, e a
partir desse momento a defesa da anistia ganha as ruas do Brasil. Em 1979, no
dia 24 de agosto, o Congresso Nacional aprova a Lei da Anistia. Não é a
proposta de Teotônio Vilela e da oposição, mas é a proposta possível naquele
momento da vida nacional.
O Parlamento, com todas as limitações
impostas pela ditadura civil-militar, tem em Alagoas, e em todos os estados,
vozes altivas combatendo os ditadores e seus aliados civis. Esses não podem ser
esquecidos, nunca!
(*)
Historiador
Nossa! Quando a gente observa o que a exposição ao Poder faz com o ser humano... Percebe que Moacir Andrade, Moura Rocha e Renan Calheiros já estiveram em boas trincheiras... Hoje: "Guardado por Deus, contando o vil metal..".
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