(*)
Geraldo de Majella
As informações a
respeito das prisões em Alagoas, entre 1964 e 1985, ainda não estão consolidadas.
Algumas relações de presos os jornais publicaram nos primeiros meses de 1964,
período em que se verificou o maior contingente de pessoas presas.
Os presos na cadeia pública de
Maceió passaram por triagens. Muitos dos detidos sob qualquer pretexto ou
acusação sem “justificativa” tinham sido vítimas de alcagüetes e foram soltos; outros
responderam a Inquérito Policial Militar [IPM], sobretudo os dirigentes
sindicais, trabalhadores rurais, operários, portuários, jornalistas, dirigentes
comunistas, estudantes, proprietários rurais e comerciantes.
Quem era funcionário público e estava
preso, era demitido, sem possibilidade de defesa. O historiador Dirceu Accioly
Lindoso, funcionário do Departamento de Cooperativismo da Secretaria de Agricultura,
tomou conhecimento de que havia sido publicada no Diário Oficial a sua demissão
por ato do governador Luís Cavalcante.
De uma das relações divulgadas pelos jornais
constam as seguintes pessoas: Alan Rodrigues Brandão, Alcides Correia do
Nascimento, Amaro Bezerra Cavalcante, Antônio Pinheiro de Almeida, Antônio
Saturnino do Nascimento, Auro Calazans de Albuquerque, Avelino Francisco da
Silva, Cícero Martins de Oliveira, Dirceu Lindoso, Dorival de Araújo Lins,
Eliezer Francisco de Lira, Ernande Maia Lopes, Etevaldo Dantas dos Santos,
Etiene Pires de Melo, Gerson Ferreira de Souza, Gerson Rolim de Moura, Gilberto
Soares Pinto, Jair Braga, Jayme Miranda, João Araújo, Jonas Paulino de
Oliveira, Jorge Lamenha Lins (Marreco), José Alípio Vieira, José Cabral Irmão,
José de Sá Cavalcante, José Gomes da Silva, José Gonçalves de Lima, José
Graciano dos Santos, José Lopes da Rocha, José Moura Rocha, José Nunes de
Almeida, Josenildo Ferreira, Luiz Gonzaga Alves, Luiz Silva Barros, Manoel
Hermógenes Gomes da Silva, Manoel Lisboa Filho, Manoel Moreira da Silva, Maria
Augusta Neves de Miranda, Marinete de Araújo Neves, Mário César Viana de Melo,
Mário Correia da Silva, Mário Rodrigues Calheiros, Miguel Bertoldo da Silva,
Ogelson Acioly Gama, Pedro Epifânio dos
Santos, Petrúcio Lages, Renalvo Siqueira, Roland Bittar Benamor, Rholine Sonde
Cavalcanti Silva, Rubens Colaço, Teófilo Alves Lins, Waldomiro Pedro da Silva e
Walter Pedrosa.[1]
Os últimos presos, soltos em fevereiro
de 1965, oito meses depois do golpe, foram: o jornalista e secretário-geral do
PCB Jayme Amorim de Miranda, o líder sindical bancário Roland Bittar Benamor, o
advogado José Moura Rocha, o historiador e dirigente estadual do PCB Dirceu
Accioly Lindoso, o líder sindical e dirigente comunista Rubens Colaço
Rodrigues, o funcionário público José Alípio Vieira Pinto e o trabalhador
têxtil João Moura (Cotó).
Dos primeiros registros de tortura em Alagoas, entre
os presos políticos, o mais conhecido é o do líder sindical Rubens Colaço, torturado
fisicamente pela equipe do delegado da Polinter Rubens Quintella. Colaço teve
as unhas dos pés e das mãos arrancadas por alicates, foi submetido a sessões de
afogamentos e à simulação de fuzilamento.
Os golpistas ocuparam as ruas centrais de Maceió. As manifestações
de apoio ao golpe haviam acontecido no dia 29 de março, sob a liderança da
Igreja Católica, à frente o arcebispo de Maceió, Dom Adelmo Machado.
Engrossavam a passeata senhoras católicas e representações da elite política e
econômica de Alagoas. Ao consolidar o golpe, sem que houvesse nenhuma reação, as
mesmas forças sociais e econômicas voltaram
às ruas, com entusiasmo ainda maior, como publica o jornal “Gazeta de Alagoas”
na edição do dia 3 de abril, com a manchete de primeira página: “Maceioense
festejou a vitória da Democracia”.
O arcebispo metropolitano Dom Adelmo Machado celebrou
uma missa em ação de graças após a passeata que contou com o apoio das
entidades representativas da indústria e do comércio. Tais entidades eram: o
Movimento Democrático Feminino, colégios católicos, Conservatório Brasileiro de
Música (secção Alagoas), Patrulha Nacional Cristã, Associação Comercial,
Federação das Indústrias e Clube dos Lojistas.
Prisões no pós-64 aconteceram em 1968 na cidade de Água
Branca, no povoado de Pariconha (hoje município). Um grupo de militantes da
Ação Popular (AP) foi preso quando ainda se achava no processo de estruturação para
a formação de quadros destinados à guerrilha rural.
Estavam entre os presos o dirigente nacional da AP e
ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Aldo Arantes, Gilberto
Franco Teixeira, ex-dirigente da UNE-Goiás, Maria Auxiliadora Arantes, Rosa
Teixeira e três crianças, filhos dos dois casais. Também foram presos os camponeses
José Correia, Josué Correia, José Gomes Novaes e José Quintino.
Em Maceió foi presa a assistente social Maria Lúcia
Ferreira, levada para o presídio feminino na cidade de Pilar (AL), onde ficou
alguns meses. Ao ser solta, passou a viver na clandestinidade em Salvador, São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e só reapareceu em Alagoas após a
anistia, em 1979.
O estudante de engenharia e professor Ronaldo Lessa foi
preso em dois momentos, em 1969 e em 1971. Foi processado e absolvido na 7ª
auditoria militar em Recife. O presidente do Diretório Central dos Estudantes
da UFAL, Jailson Boia Rocha, estudante de engenharia, havia sido preso a
primeira vez em 1964; em 1970 é preso pela segunda vez, afastado do DCE, enquadrado
na Lei de Segurança Nacional (LSN) e condenado a seis meses de reclusão, pena
cumprida na Penitenciária São Leonardo, em Maceió.
Os militantes
do Partido Comunista Revolucionário (PCR), estudantes, profissionais liberais,
parentes e amigos foram presos pelo Exército em 1973, em Maceió. Foram eles: os
irmãos Denis e Breno Jatobá Agra, os irmãos Jeferson e Fernando Barros Costa,
Denisson Cerqueira Menezes, Norton de Morais Sarmento, Flávio Lima e Silva,
Hélia Mendes, Luiz Barros Nogueira, Maria Helena da Silva, José Mário
Cavalcante e Vera Costa.
As pesquisas a serem realizadas na imprensa alagoana,
na 7ª Auditoria Militar e no setor de cartório da Polícia Federal, revelarão o
número exato e as circunstâncias em que foram presos durante a ditadura
civil-militar.
Fontes:
Majella, Geraldo de. Rubens
Colaço: Paixão e vida – A trajetória de um líder sindical. Recife, Edições
Bagaço, 2010.
Ticianeli, Edberto. Especial para o “Repórter Alagoas”, 31 de março de 1964.
Silva, Amaro Hélio Leite da. Serra dos Perigosos – Guerrilha e índio no
sertão de Alagoas. Maceió, Edufal, 2007.
Oliveira, José
Alberto Saldanha de. A Mitologia
Estudantil, Uma Abordagem sobre o Movimento
Estudantil Alagoano. Maceió, Secretaria de Comunicação Social do Governo de
Alagoas/Sergasa, 1994.
(*)
Historiador
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