(*) Luiz Carlos Figueiredo
Os novos poemas de Marcos de 
Farias Costa, em “O Jardim Selvagem”, vejam bem, leitores, nasceram em velhos 
tempos, nos momentos de etílica vigília, durante quarenta anos molhados em 
cachaça. Nada de falação boêmia. Entre um gole e outro, o silêncio, a conversa 
interior, viagem interna do eu-poético na maçaranduba do tempo. Daí resultaram 
os quase quatro elementos fundamentais do nosso cosmos: a água, a terra, o fogo 
e o éden (céu? ar?).  Mas o que 
impressiona é esse Marcos Farias Costa, gigante do eterno inconformismo contra 
as injustiças, a hipocrisia, a gatunagem, os preconceitos, toda essa miséria 
humana – do aqui e do agora, do passado e do lá fora –, mostrar descara-damente, 
apesar dos aparentes escudos, a sua fraqueza. Não nos calcanhares ou no 
cotovelo, mas no coração, nos sen-timentos românticos e nobres, principalmente 
ao fazer rasgada e doce declaração de amor a Maceió: Pertenço a Maceió, sou o 
seu marido, somente nesta terra encontro abrigo... Em vez de caçador, serei a 
caça da cidade que fisgou meu coração. Que belo! Invejosamente, repito a mesma 
coisa. E tem mais: As ruas de Maceió agitam-se dentro de mim, com um barulho 
maior que a popu-lação de Pequim. Não desespera-damente, mas conscientemente, 
Marcos de Farias Costa desata-se em paixão pela água – vida – gentil que se 
bebe... Tudo enfim é água, e sem água tudo é fim, porém nas águas de mim, toda 
água é feliz.
Nem sempre Marcos de  Farias é sincero, ou se comporta 
exageradamente irônico. Ele adora livros, vive entre livros, certamente deve 
acariciá-los, beijá-los ou lambê-los, quando ninguém, nem mesmo a Soninha, 
estiver por perto. Vejam, leitores, se tem cabimento o Marcos cantar: Seja o 
Bluteau ou o Moraes, dos livros já me escafedo, e falo, morrendo de medo: quem 
morou não mora mais! No fim, ele acaba confessando, já sincero, por que foge dos 
livros, glossários ou dicionários: Desculpe a sinceridade, mas é que o meu 
salário, de tão chinfrim, na verdade, nem dá pra comprar dicionário. Este aí, 
que está dentro deste livro, é um pedaço falante do interior do Marcos de Farias 
Costa, ora esperneando quase contra tudo, ora abrindo uma porta generosa, boa, 
romântica, numa voz que me lembra o tão querido e vibrante Orlando Silva. 
(*) jornalista e escritor.