quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Diana rejeita a net

Geraldo de Majella

A humanidade como num passe de mágica se tornou devassável. As fofoqueiras que habitaram em tantos e tão distantes lugares hoje são figuras quase bizarras, perderam a razão de ser. O mundo virtual tem os olhos e os ouvidos conectados na rede mundial de computadores, a internet. Todos estamos expostos.

Quem não estiver conectado numa dessas redes sociais não é parte integrante desse universo fantástico chamado de humanidade.

Diana é economista, trabalha duro como consultora de empresas, era a última pessoa no trabalho e entre os amigos que não havia se familiarizado com as salas de bate-papo, os sites de relacionamentos, o orkut, o twitter e o facebook, as tais redes sociais.

As explicações usadas por ela sempre foram taxativas: “não tenho interesse em me relacionar com ninguém virtualmente”. De tanto ser cobrada pelos amigos e pelo chefe imediato, tinha sempre e invariavelmente a mesma resposta, um mantra: “não tenho interesse em me relacionar com ninguém virtualmente”. Resposta pronta para qualquer ocasião e pessoa. E ponto final. Dizia sem alterar a voz.

O dia a dia estressante fez com que as férias fossem antecipadas. Promoções de passagens aéreas e facilidades no pagamento, resultado óbvio da estabilização da economia, conduziram a dedicada profissional às praias de Alagoas.

Esse destino turístico não foi escolhido aleatoriamente nem foi indicação de agentes de viagens. Em Maceió, reside há muito tempo Ambrósio, o primo com quem Diana, desde a infância, se relaciona. Nunca brigaram, e mesmo vivendo afastados mantêm permanente contato, pois ela é madrinha de um dos seus filhos, Carmela.

A oportunidade apareceu, era baixa estação, preços acessíveis das passagens e ainda tinha hospedagem garantida na casa do primo querido. Esse conjunto de fatores foi determinante; restou tão somente arrumar a mala, colocar as roupas de banho e aterrissar em Jatiúca, bairro moderno que dá nome à praia. O metro quadrado mais bonito do litoral alagoano.

Todos esses atrativos e mais a companhia querida da família fizeram logo no primeiro dia com que ela esquecesse a pesada agenda de compromissos, o relógio, o celular, instrumento de escravização moderna, e pasmem: o notebook, máquina inseparável. A rotina dura de trabalho foi rapidamente substituída por copos de cervejas e petiscos. Exposição ao sol brilhante, compras rápidas de um novo guarda-roupa de praia. A consultoria de moda-praia foi feita pela “prima”, Ângela. Short colorido, coladinho na pele, camisetas decotadas, adereços para os cabelos foram algumas das compras feitas na primeira noite.

Passados alguns dias a conviver com os primos, um mundo novo começou a se descortinar para Diana: a companhia virtual através da internet. As salas de bate-papo. A capacidade de convencimento de Ângela, a mulher do primo, foi inegável. E somado aos argumentos da “prima”, o tempo livre, o lazer.

A fala mansa, meiga, mais que isso, a companhia da “prima”, observada sem a pressão ou obrigação de aderir às redes sociais, e o ambiente confortável do escritório do casal foram um grande estímulo.

Ângela entrou como de hábito numa sala de bate-papo, mas antes pediu a Diana que presenciasse o contato que ela iniciara. Tudo era estranho e certamente por isso rejeitado, criticado, principalmente para quem tem de aproveitar todos os minutos do escasso tempo de que dispõe para dedicar ao trabalho.

Diana nunca se imaginou horas a fio teclando com desconhecidos, um ato que beirava a insanidade − impensável. Mas nada como ficar de frente para o mar azul de Jatiúca e tomar cerveja sem compromissos, descobrir-se sem a obrigatoriedade de horários, escravizada pela agenda infernal. Observar a “prima” teclando na net seria um lazer, apenas. Nada mais que isso.
A cabeça de Diana estava na praia, na beleza do mar de Maceió. Ficar boa parte do dia com os pés na areia alva de Jatiúca, copos de cervejas e peixinhos assados eram um sonho que se realizava.
Juca é topógrafo, trabalha como autônomo, mas durante o verão desenvolve atividades paralelas: tem uma barraca na praia, onde serve sucos, caipiroscas de vodka com abacaxi, caqui, mangaba, pitanga e outras frutas da época. Mas quem toca o empreendimento é Amarílio, seu funcionário. Juca está permanentemente bronzeado. É desenrolado, bem-falante e tem a fama de ser um discreto conquistador, um pegador de praia.

Diana tem ficado de papo com Juca. Os dois andaram tomando banho de mar ao amanhecer sem que houvesse nenhuma combinação; logo às primeiras horas da manhã, entram no mar azul de Jatiúca e mergulham. Têm rolado uns beijos aquáticos. Até parecem dois golfinhos. Os olhares trocados vão criando um clima entre os dois. Acontece que ao tomar caipiroscas, Diana fica desinibida, num clima mais amistoso e fez um convite para saírem à noite. Era a despedida das férias.

Surpreendido com o convite, Juca diz que pode ir, mas que não é possível virar a noite, pois acorda cedinho, para montar o negócio à beira-mar. Trato feito. Foram para a noitada. Não jantaram, caminharam pela orla, sentaram numa das barracas com música ao vivo, tomaram cerveja, comeram petiscos, e Diana, desinibida, lhe pediu um beijo.

O casal ainda com roupa de praia, ela com biquíni e Juca de bermuda e chinelo de dedo, protagonizaram uma sessão cinematográfica. A noite passou e o casal nem se deu conta. Diana conduziu-o até a areia, onde se amaram e só se deixaram com o dia amanhecendo e o sol brilhando no céu de Jatiúca.

A despedida das férias foi tão espetacular que os primos não conseguiram dormir, imaginando que alguma coisa houvesse acontecido de errado. Nada de anormal ocorreu. Para Diana, foi uma das noites mais felizes que passara nos últimos anos. Ao chegar à casa dos primos pediu desculpas por ter “sumido”, e como a bagagem já estava arrumada, teve apenas o tempo necessário para tomar um banho rápido, vestir a calça jeans e uma camisa branca, calçar o tênis e se despedir. Agradeceu a acolhida e seguiu direto para o aeroporto, no carro do novo amor.

De volta ao trabalho, refeita do estresse, Diana passou a recorrer à internet, comunicando-se diariamente com o namorado alagoano, pela webcam. Desinibidamente vem realizando strip-tease para o namorado: coloca um fundo musical e tira lentamente as vestes. A timidez foi rapidamente superada, e o casal, mesmo distante, mantém uma desenvoltura como se já se conhecesse há muito tempo.

As opiniões sobre as redes sociais não mudaram. Os amigos de trabalho continuam insistindo para que Diana entre numa das redes sociais, pelo menos no facebook. Sem que ninguém saiba, no ambiente privado encontrou novas emoções durante as férias. A rejeição à internet como meio de comunicação pessoal se mantém para o consumo público, tolerando-a apenas como ferramenta de trabalho. Mantém a mesma opinião de antes.

Diana é misteriosa quando se trata de navegar na internet. Secretamente, vem se apresentando todas as noites para o namorado alagoano.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Buraco da Zefinha, território do samba e do amor

Geraldo de Majella

As rodas de samba aconteceram durante vários anos em Jaraguá, bairro boêmio de Maceió. O Buraco da Zefinha, botequim que reunia a fina flor da boemia do bairro e que atraiu uns tantos representantes da classe média, professores universitários, médicos, agrônomos, poetas, filósofos, arquitetos, assistentes sociais, nutricionistas, mas também acorriam para as rodas de sambas, trabalhadores, mecânicos, portuários, catraieiros, estivadores, motoristas e, vez por outra, apareciam umas meninas de profissão duvidosa, que eram aceitas sem nenhuma discriminação.
Para alegria geral eram elas as mais animadas. Tinham o samba no pé e o coração dadivoso, levando muitos dos marmanjos para dançar no apertado salão, entre as mesas.
Duas personalidades se destacavam no botequim: um era o cantor José Paulo, negro, voz grave; os óculos ray ban eram a sua identidade − aquele negrão alto se impunha pela elegância e pelo sorriso largo. O poeta Paulo Renault era o outro. Os dois, cada um a sua maneira, agregavam amigos, bambas para as tardes de sábado no Largo do Mercado de Jaraguá.
Ritinha, médica pediatra, era uma frequentadora assídua das tardes de samba no Buraco da Zefinha. Acostumada ao trabalho intenso no consultório e nos plantões em dois hospitais, de uma coisa ela não abre mão: das rodas de sambas nos dias de sábado. É o momento da sua vida em que ela se permite o prazer, sem que tenha possibilidade alguma de pensar em trabalho.
A profissão é tudo o que tem de mais significativo e importante para Ritinha e para a sua família. Nasceu numa família pobre, proletária; os pais são trabalhadores, a mãe, lavadeira, está aposentada por invalidez; adquiriu uma hérnia de disco que a incapacitou para o trabalho, inclusive o doméstico. O pai, que iniciou a vida como pedreiro, hoje é mestre de obras e anda cada vez mais animado com o boom da construção civil.
A única filha é médica – orgulho para os pais, uma espécie de troféu −, a única de toda a família. Bem-humorada, festeira, dança todos os ritmos, mas é o samba o ritmo de que mais gosta. É portelense como ninguém. Quando vai se aproximando o carnaval, procura aprender o samba-enredo da Portela, escola em que desfila há dez anos.
O seu jeito independente e alegre tem erguido barreiras entre os casais no botequim. As mulheres não costumavam lhe dar conversa, talvez por insegurança, medo, quem sabe, de que em algum momento um dos maridos possa ser fisgado pelos olhares e trejeitos da mulata fatal do Buraco da Zefinha.
Os olhos castanhos da mulata se fixaram num arquiteto-boêmio e poeta bissexto. Passaram muitos finais de semana um jogando com o outro. Houve um ex-militar e escritor que se jogou na direção de Ritinha, mas não logrou êxito. A pediatra fez a sua escolha, atendeu aos batimentos do coração: os olhares correspondidos entre ela e um negrão frequentador assíduo do botequim.
Florisvaldo é um malandro de fala mansa, conhecido na área, com anos de rodagem. Talvez por essas características tenha sido o escolhido pela pediatra, que deixa aos sábados o estetoscópio em casa e sai despojada com um tamborim para tocar na roda de samba. Fulô, como é conhecido por todos, é tido como um cara esperto, “safo”, um cobra-criada na roda da malandragem. Trabalhador, catraieiro, vive desde muito jovem no porto de Maceió. Acostumado às intempéries.
Mas foi pego de surpresa. Primeiro, não imaginou que Ritinha o chamasse para dançar, e muito menos, num segundo momento, lhe dissesse ao ouvido, sussurrando: “Você é meu, gatão. Estou de olho em você faz tempo”.
O samba entrou pela noite, cervejas e cachaças foram tomadas, elevando o grau alcoólico. No final, Ritinha pagou a conta integralmente e o convidou para sair pela noite. Outra surpresa, a terceira em poucas horas: foi levado do botequim para uma noitada a dois num dos motéis da cidade.
De encontro em encontro, os dois passaram a ter uma relação mais séria, mas cada um vivendo em sua casa. A pediatra mora no mais elegante bairro de Maceió, a Ponta Verde, e Florisvaldo de Jesus, numa casa de Cohab, no Jacintinho, bairro popular. O relacionamento impactou a vizinhança; o jeitão desleixado de Fulô logo caiu na boca dos porteiros e de algumas fofoqueiras de plantão do condomínio.
Nada que incomodasse a ilustre moradora. Pagava as suas contas em dia, para ela isso era o que importava. Acontece que o fato de ser bem-humorada e de bem com a vida, falar com todos indistintamente, para Florisvaldo, que não tinha esse tipo de relação com as suas outras namoradas e muito menos com a ex-mulher, passou a incomodar e não demorou a explodir uma tremenda crise de ciúmes.
Depois de cinco meses de namoro, um verão passado juntos, Ritinha, na roda de samba, fala para os amigos que vai novamente desfilar na sua escola do coração: a Portela. A partir desse momento o caldo foi entornando: olhares de desaprovação e cenas explícitas de ciúme se tornaram públicas.
Desavisado, Mário, amigo e ex-namorado, havia chegado de uma viagem; não sabia do namoro e não havia percebido o clima de ciúme explícito. Chamou-a para dançar, e o pedido foi prontamente aceito. Os dois foram acintosamente observados pelo namorado.
A cena foi vista, de longe, pelas despeitadas mulheres que acompanham os maridos, marcando-os severamente. Os comentários rapidamente foram feitos de mesa em mesa. A altivez da pediatra não permitia passar recibo; dura, enquadrou o namorado ciumento. E disse-lhe em voz alta que iria ao Rio de Janeiro, como já havia ido nos últimos nove anos. Fez questão de apresentar ao amigo o namorado e ressaltar a sua atitude infantil.
O carnaval estava próximo. As passagens estavam reservadas, inclusive a de Florisvado de Jesus, que nem sabia que seria presenteado. Era a surpresa que a amada iria lhe fazer.
A proximidade do carnaval foi aumentando o ciúme, e o clima piorou. Ritinha decidiu acabar com as cenas. Chamou-o para uma conversa e lhe disse que o amava, mas que era uma pessoa independente e que pagava um alto preço por ser assim. E não seria ele quem iria quebrar um compromisso com a sua escola e estragar o prazer em desfilar no carnaval carioca.
A reunião colocou um ponto final no namoro. As lágrimas correram dos olhos do casal. Mesmo diante de tanto choro, Ritinha foi desfilar. Antes, passou na sua cabeleira, se depilou, cortou os cabelos, fez massagens. Um pouco antes de viajar, passou na casa dos pais para se despedir e deixou dinheiro para eventualidades. Procurou ocupar o tempo, mas o seu negrão não lhe saía do pensamento. O avião voando a doze mil pés de altitude, e Ritinha chorando baixinho, quase soluçando, com lágrimas rolando pelo rosto, manchando a maquiagem, toma uma atitude. Batuca na mesinha e cantarola baixinho um samba preferido: “Vem, meu novo amor/Vou deixar a casa aberta/ Já escuto os teus passos/Procurando o meu abrigo”.

domingo, 23 de outubro de 2011

Uma tarde de samba


Geraldo de Majella
O crepúsculo todos os dias é inexorável. Ao passo que o sol vai se escondendo, magistralmente vem despontando a lua − senhora da noite e dama indispensável do amor. Mas naquela tarde de maio o samba era o senhor dos corações e aspergia alegria, contagiando a todos que estavam no salão, tanto os que dançavam quanto os que, sentados às mesas, bebiam, conversavam e namoravam.

Ao sair de casa, Romualdo pensou alto: “Vou em busca de uma namorada”. Talvez ficando plantado num local onde tivesse uma visão panorâmica do salão, por certo, lhe deixaria uma visão do alvo a ser escolhido. A batida do surdo era para ele o som que vinha do coração. A dupla de cantores interpretava músicas consagradas, e todos no salão, em uníssono, cantavam ou cantarolavam, o que só fazia crescer o clima de animação e alegria.

O Oráculo, faz tempo, se tornou um palco referencial para os sambistas e para os que curtem samba em Maceió. O clima de alegria é propicio para se dançar e também, quem sabe, para iniciar um namoro. Foi numa tarde de sábado, não sei precisar, que avistei uma bela mulher, que me chamou a atenção: dançava animadíssima, sorridente; fiquei olhando, acompanhando os seus movimentos, mas feito um raio em dia de céu aberto, sumiu e não consegui mais vê-la. Procurei por todos os cantos, me pus a andar, mesa por mesa, olhando atentamente. Perdi-a de vista.

Qual não foi a minha surpresa, no fundo do salão, quando a encontrei sentada, tomando água de coco, conversando animadamente com as amigas. Permaneci a meia distancia, novamente acompanhando os seus passos. O que me restava fazer era esperar a oportunidade para abordá-la.

A mulher ansiada tinha traços fisionômicos semelhantes aos de uma outra pessoa que não conseguia identificar com clareza. Será que realmente a conhecia? Será que ela é uma médica que trabalha numa casa de saúde onde faço exames regulares? Tudo ia ficando confuso, e a minha memória não ajudava. Chego a pensar que ela trabalha contra mim, pois quando eu mais necessito dela, como nesse momento, ela não é precisa, clara. Deixa-me ainda com mais dúvidas.
Romualdo resmunga, e diz: “Nada nessa hora pode me atrapalhar”. O que estava se desenhando em sua cabeça era encontrar um meio rápido para sentar àquela mesa com tantas mulheres bonitas e alegres. E entre elas a que lhe chamou a atenção, a que passou a ser desejada.

Os requebros, as pernas torneadas, olhar sensual, silhueta definida pelo vestido jeans azul, tudo enfim é motivo para fantasiar; e ela, leve, calma, risonha, não imaginava que houvesse olhos tão atentos e virados em sua direção.

Sumiu no meio da multidão. Foi embora para casa, saindo à francesa. Mas nada como a sorte: havia uma amiga comum que o socorreu, ao ser indagada sobre quem era e qual o nome da amiga. Os contatos foram feitos, números de telefones foram passados, e em poucos dias aconteceu o melhor: o encontro ansiado num restaurante.

A mulher até então desconhecida e que sambava passou a ser a senhora do coração de Romualdo.
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Daí em diante a vida é puro amor.

domingo, 16 de outubro de 2011

Mozart Damasceno, o bom burguês


Resgatando a Memória

História política de Alagoas está presente no livro Mozart Damasceno, o bom Burguês .

“Este livro narra a história de Mozart Damasceno (1925-87), próspero comerciante alagoano, natural de Murici, que durante a maior parte de sua vida adulta foi militante convicto do Partido Comunista Brasileiro (PCB)”, relata a historiadora Janaína Amado.

Escrito pelo historiador alagoano Geraldo de Majella e publicado pelas Edições Bagaço, o livro será lançando no dia 19 de outubro, às 19h, na pizzaria Armazém Guimarães, em Maceió.
A história se conta, se aprende e se ensina de várias maneiras. Este livro nasceu de uma entrevista realizada pelo Majella (e outros jovens militantes do PCB na década de 1980) com o Mozart, e através de uma prosa divertida deixa o leitor informado dos aspectos importantes da história do PCB em Alagoas. “O leitor conhece de perto alguns de seus militantes, tanto dirigentes como membros anônimos do partido, alguns deles figuras que parecem saídas de algum romance”, disse a historiadora Janaína Amado.
“O Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi a organização política que mais tempo atuou em Alagoas: de 1924, quando foi fundado, até ser extinto em 1991. Ao todo foram 67 anos de existência. Quem tiver acesso ao livro vai conhecer esta história, mas também conhecerá um pouco da vida e do homem Mozart Damasceno”, explicou o autor Geraldo Majella.
O historiador Geraldo de Majella tem se dedicado às pesquisas sobre a história do PCB em Alagoas há mais de 25 anos. O acervo do historiador passou a ser um grande referencial para os que pesquisam a história política recente do nosso estado e da esquerda.
O livro é prefaciado pela historiadora baiana Janaína Amado, e a orelha é assinada pelo historiador alagoano Osvaldo Maciel, professor da Ufal e da Uneal.

Sobre o autor

O historiador Geraldo de Majella, alagoano de Anadia, é formado pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac).

Foi durante vinte anos militante, dirigente estadual e nacional do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB), e por um curto período pertenceu à direção nacional do Partido Popular Socialista (PPS). Desde 1998 está filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Nas últimas décadas tem exercido funções públicas relevantes em São Paulo e em Alagoas. Atualmente é presidente do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) e membro do Conselho Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar.

SERVIÇO:

O QUÊ: LANÇAMENTO DO LIVRO Mozart Damasceno, o bom burguês
QUANDO: 19/10, às 19h
ONDE: PIZZARIA ARMAZÉM GUIMARÂES, Av. Amélia Rosa, 188, Jatiúca
Quanto Custa: 20,00

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A mulher do colante lilás

Geraldo de Majella

Os cuidados com a saúde têm sido assunto de todos em todos os locais, públicos e privados, nas empresas, botequins e nas fazendas, nas capitais e no interior. O Brasil é um país onde há uma real preocupação com a saúde. Os médicos não se cansam de recomendar os necessários cuidados para se ter uma vida saudável.

O bem não amanhece nas televisões. Podemos visualizar apresentadoras loiras e saradas dizendo o que devemos fazer para manter a saúde: caminhadas regulares, pelo menos três dias por semana, durante uma hora, de preferência em locais agradáveis. Além das providenciais recomendações de que teremos de reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas; gorduras trans, nem pensar, pois esses venenos matam o sujeito pelo simples fato de pensar em ingeri-los (o açúcar deve ser substituído por adoçantes), arrematando com a severa reprimenda: fumar faz mal, adverte o Ministério da Saúde.

Os programas não perdem o foco: vida saudável. A minha meta é alcançar, pelo menos, a metade da idade de Matusalém. Há programas nas tvs pagas exclusivos e destinados às diversas faixas etárias, seja melhor idade, crianças, adolescentes, bem como para os de meia-idade. Os que desejam viver bem têm de comer melhor. Aliás, essas são as condições sine qua non para atingirmos a melhor idade em boa forma.

Obediente às orientações médicas, tenho acordado cedo, disposto a superar qualquer tipo de obstáculo que venha a causar transtorno à minha frágil saúde. Nunca me imaginei tão frágil assim. Mas diante das consultas médicas a que venho sendo submetido anualmente fiquei com essa impressão, ou certeza, melhor dizendo. Tenho caminhado regularmente cerca de seis quilômetros nos sete dias da semana.

Sinto que tem havido melhoras consideráveis na minha condição física, mas o que mais me faz sentir bem é quando os meus olhos avistam a mulher de roupa colante. Não é mais uma ninfeta, está na casa dos quarenta; para ser mais preciso: passa dos quarenta e cinco anos.

A turma de cinquentões que caminha disciplinadamente todos os dias segue as recomendações dos cardiologistas: passos largos e olhos atentos ao movimento; o que faz mudar o papo descontraído é uma mulher que se veste sempre com colantes, variando apenas as cores. Para eles evidencia-se a preferência dela pelo lilás, embora todos estejam convictos de que ela tem mais de uma peça no seu guarda-roupa.

O corpo da mais admirada entre tantas mulheres que caminham na orla de Maceió, pelas manhãs, apresenta curvas perfeitas, bem definidas, e que são atraentes de longe ou quando se aproxima num cadenciado jogo de pernas e sensualidade que muitas vezes quebra o ritmo da caminhada dos seus indisfarçáveis admiradores matutinos.

A mulher de colante lilás não precisa seguir as recomendações das apresentadoras loiras das tvs; ela é sarada e cuida bem da saúde, não se deixar iludir pelo merchandising dos programas televisivos. O corpo escultural, cheio de sensualidade, que vem e passa todas as manhãs pela orla de Jatiúca é, para os cinquentões, o melhor remédio para o controle da pressão arterial, regula o colesterol nas suas duas vertentes, HDL e LDL, além de exercer um fantástico estímulo para se viver bem e com saúde.

Caminhar pela manhã faz bem à saúde − é uma recomendação do meu cardiologista.


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Mozart Damasceno, o bom burguês


Marcelo Vieira, Xavier, Neném, o advogado José Moura Rocha e Mozart Damasceno em Murici (Alaogas), na década de 1980.
O juiz de direito Paulo Mendes da Rocha, o ex-deputado Agostinho Dias de Oliveira (PCB-Pe) e Mozart Damasceno em frente ao antigo Bar das Ostras, em Maceió (Alagoas).

RESGATANDO A MEMÓRIA

Livro revela fatos importantes da história política de Alagoas

Texto de Clara Cavalcante

O historiador Geraldo de Majella, 50 anos, nascido em Anadia (AL), lançará o livro Mozart Damasceno, o bom burguês, que será publicado pela Edições Bagaço, no dia 19 de outubro, na Pizzaria Armazém Guimarães em Jatiuca. O livro traz um extenso relato da vida do empresário Mozart Damasceno, militante do Partido Comunista Brasileiro e um dos principais financiadores do PCB.
Mozart Damasceno nasceu em Murici em 1925 e faleceu no dia 2 de junho de 1987, em Maceió. A vida do empresário comunista é pontilhada de fatos interessantes como a viagem que realizou à União Soviética em companhia do dirigente comunista Jayme Miranda, do médico Edler Lins e do usineiro Napoleão Moreira, em 1958, e sobre sua prisão ocorrida nos primeiros dias de abril de 1964, pelos militares golpistas.
O historiador Geraldo de Majella tem se dedicando as pesquisas sobre a história do PCB em Alagoas há mais de vinte e cinco anos. O acervo do historiador passou a ser um grande referencial para os que pesquisam a história política recente do nosso estado e da esquerda.
O livro é prefaciado pela historiadora baiana Janaína Amado e a orelha pelo historiador alagoano Osvaldo Maciel professor da Ufal e da Uneal.

Sobre o autor

O historiador Geraldo de Majella é alagoano de Anadia, é formado pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac).

Foi durante vinte anos militante, dirigente estadual e nacional do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e por um curto período pertenceu à direção nacional do Partido Popular Socialista (PPS) e desde 1998 está filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Nas últimas décadas tem exercido funções públicas relevantes em São Paulo e em Alagoas. Atualmente é presidente do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) e membro do Conselho Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar.


Serviço:

O quê: Lançamento do livro Mozart Damasco, o bom burguês

Quando: 19/10/2011, às 19h

Onde: Armazém Guimarães, Av. Amélia Rosa, 188, Jatiúca.

domingo, 14 de agosto de 2011

Amizades

Geraldo de Majella

Amizades se fazem durante a infância e juventude. Pode parecer uma frase de efeito, mas não é, pelo menos eu penso assim. Durante a vida, longa ou breve, cada um de nós evidentemente que pode conquistar amizades, no trabalho, na vida militar – para os que foram ou são militares −, etc. É possível ficarmos muitos anos sem que encontremos um amigo sequer da juventude, quando vivíamos intensamente as farras, brincadeiras, viagens, peladas. E quando acontece o reencontro é como se retornássemos àqueles anos de convivência diária.

A vida nos obriga a tomarmos caminhos diferentes, e perdemos os laços que eram tão próximos, íntimos, até. Não temos notícias um do outro. O reencontro é algo renovador, restaurador. As lembranças dos anos em que fui estudante – nas três fases: primário, secundário e universitário – são recorrentes. Muitas vezes uma palavra nos transporta para um tempo que achávamos adormecido em nossas memórias.

Os quatro anos vividos como estudante no Colégio Marista de Maceió deixaram marcas em minha vida. Jamais os esquecerei por completo, a não ser que o Alzheimer, esse maldito alemão, se apodere de mim. Mas como o meu santo é forte, dou-lhe um pontapé no saco e ele sai rápido de perto. Vai baixar em outra freguesia.

Nunca participei de eventos nostálgicos, não sou dado a esse tipo de convivência. Mas como continuo morando em Maceió, e morar em cidade pequena significa, entre outras coisas, encontrar com pessoas conhecidas, vez por outra me encontro com o Waldson Peixoto, amigo desse tempo. Em geral, na sorveteria Bali. E ele sempre com a ideia de reunir a turma, pois anos se passaram sem que nos encontrássemos com frequência.

A minha resposta foi sempre afirmativa, mas intimamente não me via presente nesse tipo de ação. Até que o mundo virtual do Facebook me aproximou de inúmeros amigos de quem não ouvia falar e de alguns de quem não me lembrava. A minha memória nunca foi boa o suficiente para memorizar nomes de pessoas, e quando se trata de quantidade. então me sinto órfão. Recorro à malandragem, do tipo: “e aí, tudo bem, meu irmão”. Ou à mais usual: “Ah, quanto tempo não nos vemos, vamos marcar um encontro”. E não passava disso.

Agora me vejo completamente comprometido com um ambiente que já não é mais virtual, mas real. O primeiro encontro, que denominamos de preparatório do Encontrão, foi uma maravilha de rememoração de acontecimentos. Creio, até, que foi um estagio de regressão, não digo ao útero, mas à infância e à adolescência, já tão distantes. Afinal, somos mulheres e homens, alguns avôs, outras avós, uns casados, outros descasados, outros casados por mais de uma vez, mas todos ávidos por lembranças de fatos comuns às nossas vidas de adolescentes.

No dia do encontro preparatório, Alagoas ficou submersa; mesmo assim um grupo de cerca de 20 pessoas saiu, cada um em seu bote, e foi ao Divina Gula, beber e comer e jogar conversa fora.

O incrível de tudo isso, pouco ou quase nada tratamos de nossas vidas pessoais ou profissionais na atualidade. Quanto a essa fase, sinto não ter criado nenhum tipo de curiosidade ou mesmo de interesse. Queríamos era reviver um tempo a que jamais voltaremos, a não ser quando o rememoramos, e nada mais.

A página criada no Facebook, Alunos do Marista 1979, tem sido alimentada com avidez, e para minha surpresa, muitos comentários sugerindo como devemos realizar o Encontrão. Preciso ressaltar o papel de duas figuras que no meu entendimento têm sido fundamentais para agregar os amigos: o Waldson Peixoto e a Thereza Vieira.

Há também os que mantêm acesa a chama: é o caso do Omar Coelho, do Plínio Goes, da Tereza Holanda, da Aline Marta, do Sérgio Costa, do Alberto Jorge, do Sérgio Quintela, do Aderson Mendonça e do Elton Rocha, entre outros.

Enquanto não chega o dia do Encontrão, continuaremos a brincar como se fossemos adolescentes, através do Facebook, prosseguindo na busca dos amigos que ainda não foram contatados.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Gildo Marçal Brandão




Geraldo de Majella

Ontem (domingo, 7/8), no final da tarde, o mar azul da Barra de São Miguel recebeu as cinzas do jornalista e professor alagoano Gildo Marçal Brandão [19 -2010], falecido no dia 15 de fevereiro de 2010, em São Paulo. Atendendo a um dos seus desejos, foi cremado, e na tarde de ontem as cinzas foram lançadas ao mar. Mas antes pediu a sua companheira Simone Coelho que as jogasse num local especifico, onde sempre tomava banho, quando vinha durante as férias anuais ou em passagem por Alagoas. Estiveram presentes os seus familiares: pais, tia, irmãos, filhos, sobrinhos, neto, a mulher e amigos, que fizeram a entrega das cinzas ao mar, numa tarde ensolarada.

Saí da Barra de São Miguel com a certeza a de que todas as vezes que voltar àquele ponto da praia vou me banhar na mais bela e ampla sepultura que um ser humano desejou e conquistou. E logo ele, Gildo, nascido no alto sertão em Mata Grande, que havia andado por muitos lugares no Brasil e em outros países, optou pelo mar azul da Barra de São Miguel. De uma coisa não posso discordar: da sua escolha, pois o litoral da Barra de São Miguel é excepcionalmente belo. E o Gildo, cá pra nós, tinha muito bom gosto.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A música e o violão de José Luiz Pompe










Geraldo de Majella

José Luiz Pompe [1955], jornalista e músico, nasceu em Sorocaba−SP, no dia 6 de março de 1955, filho de Oscar Pompe e Anna Christina Leite Pompe. O casal teve cinco filhos: Terezinha, Hélio, José Luiz, Carlos e Maria Aparecida. A música, quando José Luiz nasceu, era uma atividade amadora na família Pompe, mas aos sete anos de idade, ao passo que era matriculado na escola primária, passou a ter aulas de piano clássico, sob os cuidados da primogênita Terezinha Pompe.
Porém o que lhe chamou a atenção foi “seu” Oscar dedilhando no violão “Abismo de Rosas” e “Marcha dos Marinheiros”. O tempo foi passando, e o violão se tornou uma grande paixão, agora sob a influência de Hélio, seu irmão, que toca baixo no conjunto de bailes do Seminário de Sorocaba. Desistiu das aulas de piano com Terezinha, adotou o violão, instrumento que, junto com outro irmão, Carlos, passou a estudar.
A decisão de aprofundar os estudos de violão foi tomada na certeza de que poderia se aprimorar no domínio do instrumento e, quem sabe, se tornar um violonista profissional. Mas para tanto haveria de sair da então tranquila Sorocaba e do convívio familiar, no início da década de 1970, para se matricular no respeitável Conservatório Carlos Gomes, de Tatuí (SP).
Quando adolescente, em Sorocaba, reunia os amigos em torno de seu violão, numa atitude de contestação política à ditadura militar, cantando músicas como “Calabouço”, do paulista Sérgio Ricardo, “Apesar de você”, de Chico Buarque, “Viola enluarada”, dos irmãos Marcos e Sérgio Valle, e muitas outras do gênero. Tocar violão e cantar passaram a ser desde muito cedo uma atividade lúdica e quase profissional.
Antes de 1978, ano em que veio morar em Maceió, participou de festivais de música no interior de São Paulo, musicou − em Curitiba (PR) − a trilha do filme “Catadores de papel”, de Homero Carvalho (premiado em Fortaleza como a melhor trilha sonora), e também compôs para peças de teatro, entre elas o jogral “Cantaremos”, de Walmor Marcelino.
“Enfrentávamos então o frio de Curitiba, quando revi um postal da ensolarada Maceió enviado pelo nosso amigo Mauro Braga, ator teatral alagoano que morou em Sorocaba e que tinha retornado a Maceió. Decidimos visitá-lo na capital alagoana, onde continuo até hoje (meu irmão Carlos Pompe voltou para São Paulo em 1981 e atualmente mora em Brasília)”, revela Pompe.
Em 1977, morando em Curitiba, passa a ter militância política ingressando no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), organização em que militou até 1983. Continua com militância na esquerda, mas sem filiação partidária.
Fez parte da direção executiva do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas em dois períodos seguidos, nas gestões de Dênis Agra como presidente, no início dos anos 1980.
As influências musicais mais significativas são obras de Chico Buarque, Beatles, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Gil, Tom Jobim e Erasmo Carlos. A beleza da composição desses artistas brasileiros que ganharam dimensão internacional está aliada ao sentido de contestação da ordem vigente tanto no Brasil, que vivia sob uma ditadura militar desde 1º de abril de 1964, como no mundo, onde a guerra do Vietnã se tornou uma fonte de contestação à política belicista norte-americana.

As noites nos bares

O trabalho como músico nas noites de Maceió começou em meados da década de 80, quando integrou o grupo Opsom Quatro, que contava ainda com Almir Lopes, Aécio e Ferreirinha. Esse período foi de grande efervescência nas noites e na boemia de Maceió. Tocou no Caldo Verde e, entre tantos mais, em três dos mais frequentados bares com música ao vivo: London London, Calabar e Marina Morena.
Ao lado do parceiro Ricardo Mota, com quem compôs algumas músicas e para quem fez alguns arranjos, participou do III Festival de Música da Ufal, defendendo “Legião dos condenados” (música incluída no LP gravado na Rosenblit, em Recife). Uma das parcerias com Mota é “Bossa incidental”, incluída no repertório do show “Bossa Nova”, ao lado da consagrada Hilda Costa, intérprete que cantou com grandes nomes como Vinícius de Moraes e Toquinho.
O músico carioca Mauricio Tapajós o convidou para participar, no Rio de Janeiro, em 85, do III Congresso Nacional de Músicos, evento competentemente comandado pelo músico Aquiles, do MPB4. Esse foi um momento muito importante em sua carreira artística.
Em mais de trinta anos de atividade profissional em Alagoas, fez parte de vários grupos, como o Quinteto Harmonia, que teve a seguinte formação: Beto Batera, Everaldo Borges, Paulão do Baixo e João Teba, que tocava instrumentais, MPB e músicas internacionais.
O trio “PAZ” (Pompe, Almir e Zailton) foi outro grupo, também nos anos 80, que cantava canções dos Beatles entremeadas por versos narrados por Paulo [Poeta] Pedrosa.
No grupo acústico “Violas são da lei”, a voz e o violão de Luiz Pompe interpretam rock’n’roll e baladas nacionais acompanhados por Marco Túlio (violão doze cordas), João Paulo (violão seis cordas), Leo (baixo) e Orris (bateria).
A vida profissional foi sempre dividida entre as redações de jornais e assessorias e a atividade como músico Na condição de assíduo frequentador do Babasom, flertou com o rock’n’roll e manteve a música popular como uma constante em sua vida. Em companhia de Allan Bastos, montou o show cover “Chico & Caetano”; e com João Paulo o cover “Chico & Beatles”; com Lene, Zé Português, Zailton e Carlos Bala, interpretou “Duetos de Chico”.
Em 2009 levou ao palco do Teatro Linda Mascarenhas com o parceiro Rui Agostinho um show com músicas próprias e de outros autores. “Samba & tango”, com Pompe e o argentino Nestor Dalmao − consagrado pianista que acompanhou Astor Piazzola em discos e turnês – mesclou clássicos argentinos e brasileiros numa mesma apresentação.

Parceiros
As parcerias que mantém são com o poeta Pablo Carvalho, com o jornalista, cantor e compositor Ricardo Mota, com o cantor e compositor Macléim Carneiro, com o compositor e publicitário Herman Torres e com José Pedro Antunes e Rui Agostinho.
As composições que se destacam são: “Debaixo de chuva” (samba de breque), “De máscara na cara” (frevo), “Regional” (chorinho), “Negra cela”, “Elenira”, “Bossa incidental” (Pompe/ Ricardo Mota), “No rojão do mundo” (Pompe/Pablo Carvalho), “Disco-voador e rock’n’roll” (Antunes/Oscar/Pompe), “Solo de coração”, “Ainda é tempo” (Pompe/Rui Agostinho), “Merecimento” (Pompe/Macléim).
As suas muitas composições, embora apresentadas com frequência em shows, ainda não foram gravadas, mas o serão em breve e farão parte do CD que está sendo produzido sob direção de Allan Bastos.
Tem participado de alguns trabalhos como vocal e acompanhado o solo de violão de dois CDs de Ricardo Mota.

Jornalismo
Iniciou-se no jornalismo como editor nacional /internacional do Jornal da Indústria e do Comércio do Paraná Ltda., no período de fevereiro de 1977 a dezembro de 1977, em Curitiba. Em Alagoas trabalhou em vários jornais impressos, diários e semanários, revistas e rádios, nas funções de repórter, redator noticiarista, editor setorial e editor. Trabalhou na redação da Gazeta de Alagoas, Tribuna de Alagoas, Jornal de Alagoas, O Jornal e semanário Extra, e foi editor da Revista Alagoas. Ainda trabalhou como assessor de imprensa do Instituto do Álcool e do Açúcar, e desde 2009 é o editor do Portal de Blogs e Notícias Tudo Global. Foi assessor parlamentar no Senado Federal, de dezembro de 2001 a janeiro de 2007.

Fontes:

Arquivo do Autor
José Luiz Pompe

quarta-feira, 8 de junho de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Antonio Torres, o escritor e seu ofício

Texto de Luiz Nassif
Coluna Econômica - 06/06/2011


O grande escritor é ele e seu ofício solitário, ele com ele. Não ambiciona riqueza ou poder. Sua ambição é o reconhecimento dos leitores e dos iguais, os demais escritores. Muitos escrevem pensando apenas no reconhecimento posterior; outros ambicionam o reconhecimento imediato. Mas seu mote, sua seiva vital é o reconhecimento de seus pares.
***
Um grande escritor não nasce, é construído ao longo de décadas e de livros, de personagens que cria, de tramas que tece, de sentimentos que explora, na solidão intermitente de seu quarto, raras vezes nos salões dos poderosos. Explora novas formas de conhecimento, a atualização permanente da leitura e da análise de pessoas e circunstâncias.
Não busca a popularidade fácil dos jornalistas, a exploração do factual, do imediato, o atendimento da catarse dos leitores. O grande escritor ambiciona a eternidade. Para os de família quatrocentona, a eternidade pode ser um mausoléu no Cemitério da Consolidação; para os muitos ricos letrados, uma fundação que leve seu nome; para o provincianismo brasileiro, um nome de rua.
Para o grande escritor, deveria ser a Academia Brasileira de Letras (ABL). Mas não é.
***
A ABL, a casa de Machado de Assis, que deveria ser a guardiã implacável dos valores da literatura, a defensora intransigente da meritocracia, a defensora dos escritores, o selo de qualidade, o passaporte final para a posteridade, é uma casa menor, em alguns momentos parecendo mais uma cloaca de fazenda do que um lugar de luzes e de letras.
***
Ao preterir o escritor Antônio Torres em favor do jornalista Merval Pereira, a ABL demonstrou a pequenez não propriamente dela, mas de uma certa elite superficial brasileira, provinciana, atrasada.
De pouco adiantou o fato de que os livros de Torres ajudaram o Brasil a ser mais conhecido por leitores da Itália, Argentina, México, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Bélgica, Holanda, Israel, Bulgária. Ou o fato de dois livros seus – Um táxi para Viena D’Áustria e Essa Terra - traduzidos na França, terem levado o governo francês, em 1999, a lhe conferir o título de "Cavaleiro das Artes e das Letras”.
***
Merval tem a visibilidade e o poder proporcionados pela Rede Globo. Tem moeda de troca – o espaço na Globo, podendo abastecer o ego de seus pares e as demandas da ABL. Poderia até ganhar prêmios jornalísticos, jamais a maior condecoração da literatura brasileira.
Tem apenas dois livros, um de 1979, feito a quatro mãos, outro mais recente, mera compilação de artigos que escreve para o jornal “O Globo”.
Mas representa poder – no caso, a mídia -, assim como, em outros tempos, o poder era o general Lyra Tavares, Getúlio Vargas, Roberto Marinho, ao quais também se curvou a ABL.
***
De Merval, duas declarações de endosso. Da indescritível Nelida Piñon, enaltecendo seu... cavalheirismo. E a informação de que, dos acadêmicos, conhece apenas João Ubaldo Ribeiro – colunista de “O Globo”.
***
Nos grandes jornais, nenhuma crítica. Inúmeros colunistas tiveram cócegas nos dedos, para denunciar o ridículo. Mas o corporativismo falou mais alto.

terça-feira, 31 de maio de 2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Música pra Celebrar o Cinema


Cine Sesi comemora aniversário com programação especial

Música pra Celebrar o Cinema

Uma dobradinha de shows e filmes com temática musical

29/05- domingo

Programa 6

16h – Filme: O Samba que Mora em Mim

17h30 – Show: Gustavo Gomes e Convidados

Depois de Solidão, Nunca Mais!, lançado em 2009, o cantor, compositor, ator e aspirante a dramaturgo (segundo suas próprias palavras) está de volta com Gustavo Gomes de Xameguinho com a Sanfona, que tem show de lançamento no dia 31 de maio no teatro do Espaço Cultural Linda Mascarenhas, no Farol. Originalmente pensado na forma de um musical dramático, o segundo álbum do compositor acabou assumindo contornos de registro fonográfico à medida que ele ia encontrando seus parceiros musicais, entre eles o próprio Xameguinho. Espaço Cultural Linda Mascarenhas. Av. Fernandes Lima, 1047, Farol. No dia 31 de maio, a partir das 20h. Mais informações: 9972-1985 e 9933-0128

terça-feira, 3 de maio de 2011

O cinéfilo das Alagoas

Elinaldo Barros
Antigo Cine Penedo
Elinaldo Barros e o cineasta alagoano Pedro Rocha

Geraldo de Majella
Elinaldo Soares Barros [1947], crítico de cinema, cinéfilo, jornalista e professor de educação artística, nasceu em Maceió, dois dias antes do natal de 1947, no dia 23 de dezembro, filho do casal José Soares Filho e Elita Soares Barros. Estudou no Colégio Estadual e na Universidade Federal de Alagoas, onde iniciou as suas atividades político-culturais, sendo eleito segundo secretário do Centro Acadêmico do Instituto de Letras e Artes (ILA), na gestão de Élcio Verçosa, no biênio 1968/69.
Licenciado em Letras pela Ufal em 1970, trabalhou como professor do Colégio Guido de Fontgalland e a partir de 1974 no Curso de Educação Artística do Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac).

A segunda metade da década de 1960 foi o período em que a ditadura militar recrudesceu e a censura às manifestações artísticas e políticas atingiu o seu ápice. Nesse momento difícil, um grupo de jovens cinéfilos organiza o Cinema de Artes em Maceió, tendo à frente Radjalma Cavalcanti, Gildo Marçal Brandão e Imanoel Caldas.

Todos esses jovens tinham em comum o gosto pelo cinema e pelas artes, alguns também pela política. Nem todos eram vinculados à política, mas ao movimento estudantil e suas vertentes.
Elinaldo, estudante de Letras e já cinéfilo, frequentava desde a infância os cinema de bairro, que existiam naquela época: o cine Lux, na Ponta Grossa, o Ideal, na Levada, e o Royal, no centro. Integrou essa turma de difusores da sétima arte em Maceió.

O jornalismo na década de 1960 em Alagoas ainda tinha um aspecto romântico e boêmio. Nem todas as seções do jornal eram profissionalizadas; o caderno de cultura era uma dessas áreas do jornalismo que necessitavam de colaboradores, e foi a partir da critica de cinema e até mesmo das crônicas esportivas que intelectuais e jovens universitários passaram a colaborar mais assiduamente.

Os primeiros trabalhos publicados de sua autoria foram crônicas esportivas no Diário de Alagoas. Com o fim desse jornal, passou a escrever criticas de cinema no Jornal de Alagoas, que na naquela época era o mais antigo jornal do Estado, órgão de comunicação impressa onde mais publicou, inclusive assinando uma coluna chamada “Cinema”.

Colaborou ainda em outros jornais diários e semanais como: Gazeta de Alagoas, Tribuna de Alagoas, O Jornal e O Diário. Escreveu em 1985, para o jornal do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Voz da Unidade, o artigo “Uma Visão Histórica do Cinema de Alagoas”. Ainda escreveu nos jornais e revistas que foram surgindo e logo em seguida despareciam, em alguns casos sendo obrigados a fechar por força da pressão econômica. Foi o caso da revista Última Palavra. Versátil, também colaborou com o jornal semanal da arquidiocese de Maceió, O Semeador.

A longeva atividade de critico de cinema, toda ela exercida como colaborador nos jornais e nas televisões de Alagoas, o coloca na condição do mais influente intelectual nessa área. Formou várias gerações de professores, jornalistas e de espectadores.

Foi comentarista de cinema na Tv Gazeta, afiliada da Rede Globo. Atualmente é comentarista da Tv Pajuçara, afiliada da Rede Record em Alagoas. Em companhia do médico e acadêmico Ismar Gatto e de Maria Flora de Melo Soares, sua esposa, produziu um programa que marcou época no rádio alagoano: “Difusão Cultural”, veiculado pela Radio Educativa FM.

Na década de 1970 o Diretório Central dos Estudantes da Ufal organizou alguns Festivais Estudantis de Música Popular. Imediatamente foi convocado pelas lideranças estudantis para colaborar.

Na condição de funcionário da Secretaria de Cultura participou da organização de outros eventos importantes, como o Festival de Fotografia, o Salão de Humor, o Festival de Verão de Marechal Deodoro e vários Seminários de Literatura. Ainda foi diretor, por dois anos, do Museu da Imagem e do Som (Misa).

O maior e mais significativo momento do cinema alagoano ocorreu entre 1975 e 1982, período em que foi criado o Festival do Cinema Brasileiro de Penedo (AL), um evento de excepcional importância para os cineastas locais e também para a produção nacional, com sede na cidade barroca ribeirinha de Alagoas. Os festivais atraíram público, cineastas e produtores de várias partes do país e passou a ser uma das referências do cinema nacional. Em todos os festivais de cinema trabalhou na organização, pois na época era funcionário do Departamento de Assuntos Culturais (DAC) da Secretaria de Educação do Estado de Alagoas.

É critico de cinema em Alagoas desde 1969. São 42 anos de atividades ininterruptas. Em 2010, foi relançado em segunda edição o livro Panorama do Cinema Alagoano, sob o patrocínio do Cesmac.

Obras de Elinaldo Barros: Panorama do Cinema Alagoano, apresentação de Jorge Barbosa, capa e montagem fotográfica de Esdras Gomes, Maceió, DAC/Senec/Sergasa, 1983; Cine Lux: Recordações de um Cinema de Bairro, Maceió, Edicult/Secult, 1987 (prêmio da AAL em 1988); Rogato: a Aventura do Sonho das Imagens em Alagoas, com uma Apresentação Quase Desnecessária, de José Maria Tenório Rocha, Maceió, Secult [1994]; O Povo Diante das Lentes, in Arte Popular de Alagoas, de Tânia Pedrosa, p. 105.

Palco Aberto



quinta-feira, 31 de março de 2011

O Golpe Militar, 47 anos depois



O Golpe Militar, 47 anos depois

Rubens Colaço, Jayme Miranda com amigos em Jaraguá (Maceió)


O sindicalista Roland Benamor, o advogado Rubem Ângelo e outros lideres sindicais e Rubens Colaço discursando em março de 1964.


Roland Benamor discursando na sede do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) em março de 1964, na sede do CGT.

O ditador João Figueiredo tentando cumprimentar uma criança


Repressão




A primeria dama Maria Tereza e o presidente João Goulart



Tanques nas ruas




(*) Emilia Bezerra


O historiador Geraldo de Majella concedeu entrevista exclusiva à Tribuna Independente, na qual revela fatos importantes sobre o golpe militar de 1964.


O historiador Geraldo de Majella, 50 anos, em 1964 tinha apenas três anos de vida. Nascido em Anadia, distante 90 km de Maceió, a cidade discretamente “contribuiu” com cinco presos políticos, nos primeiros dias de abril de 64. Desde criança conviveu com ex-presos: eram pessoas comuns, do convívio familiar e que nunca lhe chamaram a atenção, pelo menos como os militares golpistas acreditavam ou fingiam acreditar se tratar de gente perigosa.


O interesse pelo golpe militar de 1964 e seus desdobramentos tem início antes mesmo de quando decidiu, em 1981, fazer vestibular para o curso de história na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Maceió. Bem-humorado, fala dos ex-presos, seus conterrâneos: “um advogado no exercício do mandato de deputado estadual, um motorista de caminhão, um ferroviário, um trabalhador rural e um açougueiro que exercia o mandato de vereador. Mas de uma hora para outra foram transformados em agentes de Moscou e de Havana em Anadia, uma piada quando observamos com a distância de quase meio século”. Desenvolveu um trabalho meticuloso e constante à procura de documentos – nas suas mais variadas formas: fotografias, recortes de jornais, documentos pessoais de militantes políticos e ou sindicais, gravações de depoimentos.


Passados tantos anos do início da pesquisa, “etapa que ainda não foi concluída, e não sabe se algum dia será concluída, visto que os estudos históricos são permanentes, não há prazo definido para acabar”, diz o sorridente Majella.


Rubens Colaço: Paixão e vida – A trajetória de um líder sindical [Edições Bagaço, 2010, 252 páginas] é o primeiro volume da série de depoimentos. O segundo volume: Mozart Damasceno, o bom burguês, já esta na editora, com lançamento previsto para o mês de junho.


O historiador, demonstrando uma intimidade invejável com o tema – o golpe militar e a história política de Alagoas −, prepara o terceiro volume: Nilson Miranda, uma cabeça a prêmio, que será lançado em março de 2012.


“O golpe militar de 1964 em Alagoas é pouco estudado ou, para ser cauteloso, pouco se publicou sobre esse evento tão importante na história republicana nacional e sobre suas consequências no estado”. Os motivos apontados pelo historiador Geraldo de Majella são claros e diversos.


Na sua ótica, “os historiadores que escreviam até 1964 e depois do golpe estiveram de um modo geral ligados às instituições estatais ou estavam de acordo com os militares. Passado quase meio século do evento, novos historiadores inauguraram novas linhas de pesquisas; os trabalhadores passaram a ser sujeitos da nossa história, a alagoana, e os movimentos sociais também começaram a ser pesquisados. Com isso, “descobertas” importantes foram reveladas. Trata-se de uma novíssima perspectiva”, sentencia Majella.


Como foi organizado o golpe militar em Alagoas? Quais forças políticas estiveram diretamente envolvidas?


O golpe militar que depôs o presidente constitucionalmente eleito João [Jango] Goulart foi organizado longe daqui de Alagoas e até mesmo longe do Brasil. Tudo se iniciou e tomou forma a partir de Washington. Foi lá que o embaixador Lincoln Gordon, reunido com o presidente John Kennedy, decidiu que iriam bloquear o governo democrático e popular do presidente João Goulart. O jornalista Élio Gaspari, no livro A Ditadura Envergonhada, transcreve parte da reunião do embaixador americano no Brasil [Lincoln Gordon] com o presidente Kennedy, na qual a intervenção militar é posta sobre a mesa da Casa Branca como uma possibilidade real, fato que os documentos depois comprovaram, passando a ser uma decisão do governo americano. Não só para o Brasil, mas para vários países da América Central, Caribe e América do Sul.


Isso é visto por alguns como uma criação, uma invenção.


Para alguns desinformados, eu creio que o golpe e todas as articulações conspirativas internacionais e nacionais, podem ser ainda hoje, pois se recusam a reconhecer a verdade dos fatos históricos. Isso não pode ser visto, nunca, como uma criação espetacular de historiadores de esquerda.


O senhor acha provável que isso tenha ocorrido?


Uma criação por parte dos historiadores? Nunca. Veja bem. O mundo, desde o final da Segunda Guerra Mundial [1939-1945], passou a viver uma nova fase, a da Guerra Fria. As duas superpotências mundiais, os Estados Unidos e a então União Soviética, disputavam em todos os campos, desde a corrida armamentista, onde as duas super- potências brigavam pelo desenvolvimento de armas atômicas, e pela corrida ao espaço. Os russos haviam colocado em órbita o primeiro satélite, o Sputnik. Essa disputa militar, política e ideológica se desdobrava, chegando ao campo de batalha clássico: apoio logístico aos movimentos guerrilheiros africanos, que vinham lutando pela independência nacional. Foi o caso do Congo, com Patrice Lumumba. Por sua vez, os EUA procuravam financiar organizações mercenárias ou não, mas que derrotassem os aliados ou os possíveis aliados de Moscou. Esse teatro macabro de fato foi encenado inúmeras vezes.


E o Brasil, como ficou diante dessa conjuntura?


Os EUA passaram a trabalhar mais próximo das forças armadas brasileiras, dos civis udenistas, principalmente penetrando fortemente no meio empresarial e fazendo política, tendo como base o Congresso Nacional. O governo norte-americano, através de suas agências, inclusive a Agência de Inteligência, a CIA, ampliou as suas ações de cooptação de membros do Congresso Nacional, deputados e senadores, financiando campanhas eleitorais em Alagoas, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, em São Paulo, enfim, por todo o país. Nada disso é invenção ou criação; são os documentos produzidos pelos americanos e por brasileiros que denunciam. Cooptaram lideranças dos movimentos sociais, camponeses em Pernambuco, por exemplo. Também financiaram lideranças dos movimentos organizados na área militar; o cabo Anselmo é o caso mais visível, mas houve outros.


Em Alagoas, os EUA estiveram presentes, ou foi apenas em Pernambuco?


Alagoas passou a ser uma cunha entre Sergipe e Pernambuco. Em Sergipe o governador Seixas Dórea, era aliado do presidente João Goulart; Miguel Arraes de Alencar, governador de Pernambuco, era o mais importante aliado do presidente da República no Nordeste. Alagoas, governada por Luiz Cavalcante, passou a ser o campo avançado de apoio, fora do território pernambucano, dos conspiradores, inclusive dos norte-americanos. É bom lembrar que a Vila Kennedy, conjunto residencial, construído no Vergel do Lago com dinheiro da Aliança para o Progresso, foi inaugurado no dia 31 de março, e quem esteve em nome do embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, foi o diplomata Jack Kubish, coordenador da Aliança para o Progresso.


O que o senhor sabe desse diplomata?


Esse diplomata teve participação em vários movimentos conspirativos e golpistas nas Américas. Conspirou no Brasil, pois sabemos de suas atividades em Alagoas, sendo inclusive hóspede do Dr. Ib Gatto Falcão, ele e a esposa. Em 1973, conspirou abertamente contra o presidente Salvador Allende, conforme podemos ler nos documentos que foram dados a conhecimento público pelo Departamento de Estado dos EUA.


A CIA teve seus agentes visitando Alagoas no período pré-64?


Olha, a CIA financiou um exército de mercenários. Essa operação custou 100 milhões de cruzeiros, e o coordenador dessas ações era o secretário de Segurança Pública de Alagoas, coronel João Mendes de Mendonça. Foram armados 10.000 homens, treinados para a sabotagem e a luta de guerrilhas. O governador Luiz Cavalcante apoiava esse empreendimento, que contou com know-how da CIA. Os documentos que comprovam essa revelação foram publicados pelo eminente pesquisador Luiz Alberto Moniz Bandeira, no seu livro A Presença dos Estados Unidos no Brasil. Os golpistas daqui eram meros instrumentos da política norte-americana no Brasil e nas Américas.


Além da CIA, quem mais atuou em Alagoas?


O Instituto Brasileiro de ação Democrática (IBAD), essa organização formada como mais um braço da conspiração no país, em Alagoas, foi conduzida por: Ib Gatto Falcão, Everaldo Macedo de Oliveira, Hélio Ramalho Ferreira e Japson Macedo de Almeida, conforme ofício datado de 15 de agosto de 1962, publicado no livro 1964: A Conquista do Estado, de René Armand Dreifuss. Essas articulações não aconteceram durante os últimos dias antes do golpe, mas vinham sendo gestadas há alguns anos no país e principalmente a partir de Washington. Os estudos relativos ao golpe militar em Alagoas ainda estão por ser feitos. Muitos personagens vão ter seus atos revelados, por- que a história tarda, mas não falha. Isso não tem nada com a Bíblia, mas com as possibilidades alcançadas pelas pesquisas históricas.


Quais as consequências do golpe em Alagoas e no Brasil?


Foram catastróficas. Milhares de cidadãos brasileiros foram presos; outros tantos, torturados ou mortos; centenas de desaparecidos políticos; parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal, cassados e aposentados compulsoriamente. Uma desgraça! O povo brasileiro passou a viver durante 21 anos sob o signo da opressão; não havia liberdade, o bem maior dos seres humanos, depois da vida. Em Alagoas, as principais lideranças de oposição foram podadas, foram obrigadas a abandonar qualquer veleidade política. Grandes lideranças do movimento sindical foram cassadas, impedidas de atuar politicamente. Abriu-se uma enorme avenida para a deduragem e a mediocridade. Prosperaram muitos políticos subservientes aos militares. Gerações de novos quadros foram formadas para dirigir o Estado, e muitos deles se postaram ao lado do que havia de pior naqueles tempos sombrios em que o país vivia a terrível ditadura militar.


E de que maneira sobreviveu a oposição ao regime militar?


As oposições, melhor situando a questão. Os oposicionistas que detinham mandato parlamentar tiveram os seus mandatos parlamentares e os direitos políticos cassados por dez anos. Essa oposição era formada de personalidades dos vários campos da política alagoana. Os mais importantes, como Abrahão Fidélis de Moura, que resistiu desde as primeiras horas, logo teve o mandato cassado. O deputado Rubens Canuto, uma dessas lideranças que vinham se firmando, faleceu alguns anos depois. Moacir Lopes de Andrade, eleito nas eleições de 1966, foi cassado; era um jovem destacado, naquela época. O advogado Mendes de Barros e o professor Aurélio Viana, bravamente enfrentaram os dois aliados dos militares em Alagoas, Arnon de Mello e Luiz Cavalcante, na disputa para o Senado em 1970. Em 1974, o advogado José Costa foi candidato a deputado federal pelo MDB e ganhou espetacularmente as eleições, assim como o jornalista Mendonça Neto. Ambos cumpriram a importante missão de denunciar as violências da ditadura militar em Alagoas e nacionalmente. Esses dois parlamentares devem sempre ser lembrados pela coragem cívica de terem enfrentado os ditadores locais e nacionais com altivez.


O MDB foi o partido político a que os oposicionistas se filiavam e resistiam à ditadura militar?


Era. E foi dentro do MDB que os militantes de esquerda e os democratas de várias tendências se organizavam, resistindo à ditadura militar. Claro que havia as organizações de esquerda que atuavam na clandestinidade, o PCBR, o PCR, o PCdoB, o PCB. Esses partidos, com maior ou menor atividade, atuaram principalmente no movimento estudantil. Tiveram importantes atuações. Mas foi a oposição [legal] que mais mobilizou e chegou a eleger vários deputados, como José Costa [federal], Mendonça Neto [estadual], Renan Calheiros [estadual]. Aliás, diga-se com justiça que o mandato de deputado estadual exercido pelo Renan Calheiros foi muito importante, corajoso e muito contribuiu com as lutas antiditatoriais. Bem como a candidatura de José Moura Rocha para o Senado em 1978. Essas sequências de ações políticas ajudaram a enterrar a ditadura em Alagoas. Na década de 1980 tivemos vários mandatos parlamentares comprometidos com a luta pela liberdade: Selma Bandeira, Ronaldo Lessa, Mendonça Neto, Eduardo Bomfim, Moacir Andrade, Alcides Falcão, todos na Assembleia Legislativa. Na Câmara de Vereadores foram eleitos: Freitas Neto, Edberto Ticianeli, Kátia Born, Jarede Viana, Fernando Costa, Guilherme Falcão; esses eram os vereadores mais afinados com as propostas das esquerdas. O movimento estudantil foi a principal fonte de formação de quadros e quem efetivamente dirigiu as ações de massas contra a ditadura em Alagoas.


Qual o papel do senador Teotônio Vilela na luta pelas liberdades democráticas?


O senador Teotônio Vilela é um dos políticos mais importantes que Alagoas já teve na sua fase republicana. Toda personalidade tem seus caminhos e descaminhos. Teotônio Vilela apoiou o golpe militar, em companhia dos seus aliados da época; não poderia ser diferente. Toda a UDN, partido a que Teotônio pertencia, esteve envolvida com as conspirações golpistas. Mas também temos de reconhecer que ele foi o primeiro político em Alagoas e um dos primeiros políticos vinculados à Arena a denunciar os abusos do regime militar. As consequências das suas atitudes políticas causaram mal-estar e chegaram ao ponto da ruptura com o governo. Filiou-se ao PMDB, foi o relator do Projeto de Anistia e cumpriu um dos mais belos e significativos papéis que um político brasileiro poderia cumprir naquele momento histórico. Liderou a campanha pela anistia, visitando todos os presídios onde estavam encarcerados os presos políticos. Essa é a mais bela e digna autocrítica que um homem público de caráter poderia realizar. Por isso Teotônio Vilela se transformou no Menestrel das Alagoas e numa grande figura da política nacional.


(*) entrevista publicada na edição de 27 de março de 2011.