quinta-feira, 31 de março de 2011

O Golpe Militar, 47 anos depois



O Golpe Militar, 47 anos depois

Rubens Colaço, Jayme Miranda com amigos em Jaraguá (Maceió)


O sindicalista Roland Benamor, o advogado Rubem Ângelo e outros lideres sindicais e Rubens Colaço discursando em março de 1964.


Roland Benamor discursando na sede do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) em março de 1964, na sede do CGT.

O ditador João Figueiredo tentando cumprimentar uma criança


Repressão




A primeria dama Maria Tereza e o presidente João Goulart



Tanques nas ruas




(*) Emilia Bezerra


O historiador Geraldo de Majella concedeu entrevista exclusiva à Tribuna Independente, na qual revela fatos importantes sobre o golpe militar de 1964.


O historiador Geraldo de Majella, 50 anos, em 1964 tinha apenas três anos de vida. Nascido em Anadia, distante 90 km de Maceió, a cidade discretamente “contribuiu” com cinco presos políticos, nos primeiros dias de abril de 64. Desde criança conviveu com ex-presos: eram pessoas comuns, do convívio familiar e que nunca lhe chamaram a atenção, pelo menos como os militares golpistas acreditavam ou fingiam acreditar se tratar de gente perigosa.


O interesse pelo golpe militar de 1964 e seus desdobramentos tem início antes mesmo de quando decidiu, em 1981, fazer vestibular para o curso de história na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Maceió. Bem-humorado, fala dos ex-presos, seus conterrâneos: “um advogado no exercício do mandato de deputado estadual, um motorista de caminhão, um ferroviário, um trabalhador rural e um açougueiro que exercia o mandato de vereador. Mas de uma hora para outra foram transformados em agentes de Moscou e de Havana em Anadia, uma piada quando observamos com a distância de quase meio século”. Desenvolveu um trabalho meticuloso e constante à procura de documentos – nas suas mais variadas formas: fotografias, recortes de jornais, documentos pessoais de militantes políticos e ou sindicais, gravações de depoimentos.


Passados tantos anos do início da pesquisa, “etapa que ainda não foi concluída, e não sabe se algum dia será concluída, visto que os estudos históricos são permanentes, não há prazo definido para acabar”, diz o sorridente Majella.


Rubens Colaço: Paixão e vida – A trajetória de um líder sindical [Edições Bagaço, 2010, 252 páginas] é o primeiro volume da série de depoimentos. O segundo volume: Mozart Damasceno, o bom burguês, já esta na editora, com lançamento previsto para o mês de junho.


O historiador, demonstrando uma intimidade invejável com o tema – o golpe militar e a história política de Alagoas −, prepara o terceiro volume: Nilson Miranda, uma cabeça a prêmio, que será lançado em março de 2012.


“O golpe militar de 1964 em Alagoas é pouco estudado ou, para ser cauteloso, pouco se publicou sobre esse evento tão importante na história republicana nacional e sobre suas consequências no estado”. Os motivos apontados pelo historiador Geraldo de Majella são claros e diversos.


Na sua ótica, “os historiadores que escreviam até 1964 e depois do golpe estiveram de um modo geral ligados às instituições estatais ou estavam de acordo com os militares. Passado quase meio século do evento, novos historiadores inauguraram novas linhas de pesquisas; os trabalhadores passaram a ser sujeitos da nossa história, a alagoana, e os movimentos sociais também começaram a ser pesquisados. Com isso, “descobertas” importantes foram reveladas. Trata-se de uma novíssima perspectiva”, sentencia Majella.


Como foi organizado o golpe militar em Alagoas? Quais forças políticas estiveram diretamente envolvidas?


O golpe militar que depôs o presidente constitucionalmente eleito João [Jango] Goulart foi organizado longe daqui de Alagoas e até mesmo longe do Brasil. Tudo se iniciou e tomou forma a partir de Washington. Foi lá que o embaixador Lincoln Gordon, reunido com o presidente John Kennedy, decidiu que iriam bloquear o governo democrático e popular do presidente João Goulart. O jornalista Élio Gaspari, no livro A Ditadura Envergonhada, transcreve parte da reunião do embaixador americano no Brasil [Lincoln Gordon] com o presidente Kennedy, na qual a intervenção militar é posta sobre a mesa da Casa Branca como uma possibilidade real, fato que os documentos depois comprovaram, passando a ser uma decisão do governo americano. Não só para o Brasil, mas para vários países da América Central, Caribe e América do Sul.


Isso é visto por alguns como uma criação, uma invenção.


Para alguns desinformados, eu creio que o golpe e todas as articulações conspirativas internacionais e nacionais, podem ser ainda hoje, pois se recusam a reconhecer a verdade dos fatos históricos. Isso não pode ser visto, nunca, como uma criação espetacular de historiadores de esquerda.


O senhor acha provável que isso tenha ocorrido?


Uma criação por parte dos historiadores? Nunca. Veja bem. O mundo, desde o final da Segunda Guerra Mundial [1939-1945], passou a viver uma nova fase, a da Guerra Fria. As duas superpotências mundiais, os Estados Unidos e a então União Soviética, disputavam em todos os campos, desde a corrida armamentista, onde as duas super- potências brigavam pelo desenvolvimento de armas atômicas, e pela corrida ao espaço. Os russos haviam colocado em órbita o primeiro satélite, o Sputnik. Essa disputa militar, política e ideológica se desdobrava, chegando ao campo de batalha clássico: apoio logístico aos movimentos guerrilheiros africanos, que vinham lutando pela independência nacional. Foi o caso do Congo, com Patrice Lumumba. Por sua vez, os EUA procuravam financiar organizações mercenárias ou não, mas que derrotassem os aliados ou os possíveis aliados de Moscou. Esse teatro macabro de fato foi encenado inúmeras vezes.


E o Brasil, como ficou diante dessa conjuntura?


Os EUA passaram a trabalhar mais próximo das forças armadas brasileiras, dos civis udenistas, principalmente penetrando fortemente no meio empresarial e fazendo política, tendo como base o Congresso Nacional. O governo norte-americano, através de suas agências, inclusive a Agência de Inteligência, a CIA, ampliou as suas ações de cooptação de membros do Congresso Nacional, deputados e senadores, financiando campanhas eleitorais em Alagoas, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, em São Paulo, enfim, por todo o país. Nada disso é invenção ou criação; são os documentos produzidos pelos americanos e por brasileiros que denunciam. Cooptaram lideranças dos movimentos sociais, camponeses em Pernambuco, por exemplo. Também financiaram lideranças dos movimentos organizados na área militar; o cabo Anselmo é o caso mais visível, mas houve outros.


Em Alagoas, os EUA estiveram presentes, ou foi apenas em Pernambuco?


Alagoas passou a ser uma cunha entre Sergipe e Pernambuco. Em Sergipe o governador Seixas Dórea, era aliado do presidente João Goulart; Miguel Arraes de Alencar, governador de Pernambuco, era o mais importante aliado do presidente da República no Nordeste. Alagoas, governada por Luiz Cavalcante, passou a ser o campo avançado de apoio, fora do território pernambucano, dos conspiradores, inclusive dos norte-americanos. É bom lembrar que a Vila Kennedy, conjunto residencial, construído no Vergel do Lago com dinheiro da Aliança para o Progresso, foi inaugurado no dia 31 de março, e quem esteve em nome do embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, foi o diplomata Jack Kubish, coordenador da Aliança para o Progresso.


O que o senhor sabe desse diplomata?


Esse diplomata teve participação em vários movimentos conspirativos e golpistas nas Américas. Conspirou no Brasil, pois sabemos de suas atividades em Alagoas, sendo inclusive hóspede do Dr. Ib Gatto Falcão, ele e a esposa. Em 1973, conspirou abertamente contra o presidente Salvador Allende, conforme podemos ler nos documentos que foram dados a conhecimento público pelo Departamento de Estado dos EUA.


A CIA teve seus agentes visitando Alagoas no período pré-64?


Olha, a CIA financiou um exército de mercenários. Essa operação custou 100 milhões de cruzeiros, e o coordenador dessas ações era o secretário de Segurança Pública de Alagoas, coronel João Mendes de Mendonça. Foram armados 10.000 homens, treinados para a sabotagem e a luta de guerrilhas. O governador Luiz Cavalcante apoiava esse empreendimento, que contou com know-how da CIA. Os documentos que comprovam essa revelação foram publicados pelo eminente pesquisador Luiz Alberto Moniz Bandeira, no seu livro A Presença dos Estados Unidos no Brasil. Os golpistas daqui eram meros instrumentos da política norte-americana no Brasil e nas Américas.


Além da CIA, quem mais atuou em Alagoas?


O Instituto Brasileiro de ação Democrática (IBAD), essa organização formada como mais um braço da conspiração no país, em Alagoas, foi conduzida por: Ib Gatto Falcão, Everaldo Macedo de Oliveira, Hélio Ramalho Ferreira e Japson Macedo de Almeida, conforme ofício datado de 15 de agosto de 1962, publicado no livro 1964: A Conquista do Estado, de René Armand Dreifuss. Essas articulações não aconteceram durante os últimos dias antes do golpe, mas vinham sendo gestadas há alguns anos no país e principalmente a partir de Washington. Os estudos relativos ao golpe militar em Alagoas ainda estão por ser feitos. Muitos personagens vão ter seus atos revelados, por- que a história tarda, mas não falha. Isso não tem nada com a Bíblia, mas com as possibilidades alcançadas pelas pesquisas históricas.


Quais as consequências do golpe em Alagoas e no Brasil?


Foram catastróficas. Milhares de cidadãos brasileiros foram presos; outros tantos, torturados ou mortos; centenas de desaparecidos políticos; parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal, cassados e aposentados compulsoriamente. Uma desgraça! O povo brasileiro passou a viver durante 21 anos sob o signo da opressão; não havia liberdade, o bem maior dos seres humanos, depois da vida. Em Alagoas, as principais lideranças de oposição foram podadas, foram obrigadas a abandonar qualquer veleidade política. Grandes lideranças do movimento sindical foram cassadas, impedidas de atuar politicamente. Abriu-se uma enorme avenida para a deduragem e a mediocridade. Prosperaram muitos políticos subservientes aos militares. Gerações de novos quadros foram formadas para dirigir o Estado, e muitos deles se postaram ao lado do que havia de pior naqueles tempos sombrios em que o país vivia a terrível ditadura militar.


E de que maneira sobreviveu a oposição ao regime militar?


As oposições, melhor situando a questão. Os oposicionistas que detinham mandato parlamentar tiveram os seus mandatos parlamentares e os direitos políticos cassados por dez anos. Essa oposição era formada de personalidades dos vários campos da política alagoana. Os mais importantes, como Abrahão Fidélis de Moura, que resistiu desde as primeiras horas, logo teve o mandato cassado. O deputado Rubens Canuto, uma dessas lideranças que vinham se firmando, faleceu alguns anos depois. Moacir Lopes de Andrade, eleito nas eleições de 1966, foi cassado; era um jovem destacado, naquela época. O advogado Mendes de Barros e o professor Aurélio Viana, bravamente enfrentaram os dois aliados dos militares em Alagoas, Arnon de Mello e Luiz Cavalcante, na disputa para o Senado em 1970. Em 1974, o advogado José Costa foi candidato a deputado federal pelo MDB e ganhou espetacularmente as eleições, assim como o jornalista Mendonça Neto. Ambos cumpriram a importante missão de denunciar as violências da ditadura militar em Alagoas e nacionalmente. Esses dois parlamentares devem sempre ser lembrados pela coragem cívica de terem enfrentado os ditadores locais e nacionais com altivez.


O MDB foi o partido político a que os oposicionistas se filiavam e resistiam à ditadura militar?


Era. E foi dentro do MDB que os militantes de esquerda e os democratas de várias tendências se organizavam, resistindo à ditadura militar. Claro que havia as organizações de esquerda que atuavam na clandestinidade, o PCBR, o PCR, o PCdoB, o PCB. Esses partidos, com maior ou menor atividade, atuaram principalmente no movimento estudantil. Tiveram importantes atuações. Mas foi a oposição [legal] que mais mobilizou e chegou a eleger vários deputados, como José Costa [federal], Mendonça Neto [estadual], Renan Calheiros [estadual]. Aliás, diga-se com justiça que o mandato de deputado estadual exercido pelo Renan Calheiros foi muito importante, corajoso e muito contribuiu com as lutas antiditatoriais. Bem como a candidatura de José Moura Rocha para o Senado em 1978. Essas sequências de ações políticas ajudaram a enterrar a ditadura em Alagoas. Na década de 1980 tivemos vários mandatos parlamentares comprometidos com a luta pela liberdade: Selma Bandeira, Ronaldo Lessa, Mendonça Neto, Eduardo Bomfim, Moacir Andrade, Alcides Falcão, todos na Assembleia Legislativa. Na Câmara de Vereadores foram eleitos: Freitas Neto, Edberto Ticianeli, Kátia Born, Jarede Viana, Fernando Costa, Guilherme Falcão; esses eram os vereadores mais afinados com as propostas das esquerdas. O movimento estudantil foi a principal fonte de formação de quadros e quem efetivamente dirigiu as ações de massas contra a ditadura em Alagoas.


Qual o papel do senador Teotônio Vilela na luta pelas liberdades democráticas?


O senador Teotônio Vilela é um dos políticos mais importantes que Alagoas já teve na sua fase republicana. Toda personalidade tem seus caminhos e descaminhos. Teotônio Vilela apoiou o golpe militar, em companhia dos seus aliados da época; não poderia ser diferente. Toda a UDN, partido a que Teotônio pertencia, esteve envolvida com as conspirações golpistas. Mas também temos de reconhecer que ele foi o primeiro político em Alagoas e um dos primeiros políticos vinculados à Arena a denunciar os abusos do regime militar. As consequências das suas atitudes políticas causaram mal-estar e chegaram ao ponto da ruptura com o governo. Filiou-se ao PMDB, foi o relator do Projeto de Anistia e cumpriu um dos mais belos e significativos papéis que um político brasileiro poderia cumprir naquele momento histórico. Liderou a campanha pela anistia, visitando todos os presídios onde estavam encarcerados os presos políticos. Essa é a mais bela e digna autocrítica que um homem público de caráter poderia realizar. Por isso Teotônio Vilela se transformou no Menestrel das Alagoas e numa grande figura da política nacional.


(*) entrevista publicada na edição de 27 de março de 2011.

sábado, 26 de março de 2011

Um poeta em movimento

José Paulo trabalhando


O poeta declamando no Teatro Sete de Setembro em Penedo-Alagoas



Geraldo de Majella

José Paulo da Silva Ferreira, poeta, ex-funcionário público, nasceu em Pão de Açúcar (AL), no dia 29 de junho de 1962, filho de Otacílio Ferreira e Ubaldina Bezerra da Silva. Estudou sempre em escolas públicas em sua cidade natal e foi lá que iniciou as suas atividades como poeta e publicista, escrevendo poemas e também contribuindo na imprensa sindical com textos políticos, sendo o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Pão de Açúcar o seu bunker.

Os jornais mimeografados eram produzidos e distribuídos para os estudantes no Colégio São Vicente. No final da década de 1970, tem início a reorganização da União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas (UESA), em Maceió, mas logo o trabalho foi ampliado para algumas cidades do interior onde havia contatos e estudantes com disposição para participar da luta estudantil. Foi o seu caso.

Como já havia um desejo, mais que um desejo, um trabalho de divulgação poética e político na cidade, principalmente entre os estudantes secundaristas, logo esse contato se materializou por intermédio dos estudantes de Pão de Açúcar que já moravam em Maceió e tinham participação no movimento estudantil. Não demorou muito tempo para que viesse morar em Maceió, numa das tantas residências alugadas por estudantes de Pão de Açúcar.

Descortina-se um novo horizonte na vida do poeta. Participa ativamente do movimento estudantil. Novos contatos são feitos, quando então passa a escrever em jornais de estudantes, tanto secundaristas como universitários, e se transforma num colaborador permanente dessas publicações alternativas.

O movimento estudantil cresce e assume papel cada vez de maior destaque, gerando um ambiente cultural novo para a Maceió da década de 1980 e para Alagoas.

O trabalho intelectual, antes publicado em mimeógrafo, toma um novo rumo, passa a ser editado em off set, uma nova tecnologia. Agora, já não são mais os livros artesanais, mas publicações modernas e em série.

A vida de estudante ficou para trás. Uma nova perspectiva é traçada. Era chegada a vez da poesia em sua plenitude: saraus em bares, encontros estudantis, participação em festivais de música. Em decorrência do seu engajamento é convidado para o seu primeiro trabalho formal, como servidor público, na Fundação Teatro Deodoro (Funted).

As enormes tarefas que se apresentam, como reorganizar e repensar uma instituição quase centenária como o Teatro Deodoro, foram um dos desafios naquele momento da vida cultural alagoana, mas não era evidentemente um trabalho individual em que um jovem poeta e outros tantos artistas e profissionais das artes cênicas se apresentaram como gestores públicos da área cultural, nem o momento concebia o mundo a partir da ótica de militante político, pois mantinha então vínculos com o Partido Comunista do Brasil (PC do B).

O jornal Boca de Estudante, órgão oficial do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), certamente foi o jornal que mais publicou poemas de Zé Paulo (como ficou conhecido e como assinava, também), mas foi na antologia Oficina de Poesia Opus-5, editada pelo DCE−UFAL, em 1986, que se revelou com maior destaque, ao lado de vários outros poetas, todos envolvidos com o movimento de renovação cultural em Alagoas e que tinham − pelo menos naquele momento histórico, a década de 1980 − o movimento estudantil como propulsor de ações artístico-culturais diferenciadas, recebendo influências do PC do B.

O Oficina de Poesia Opus-5 conta com poemas e textos de Cláudio Manoel, Deyves, Edvaldo Damião, Jorge Barbosa, José Duarte, Zé Paulo e Sidney Wanderley, numa edição com 76 páginas, pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal).

Os seus poemas vão sendo publicados sempre em antologias ou ainda nos jornais do DCE e dos Centros Acadêmicos. Em 1987, a Secretaria de Cultura de Alagoas, pela sua editora, a Ediculte, lança a Coletânea Caeté do Poema Alagoano, com a colaboração de 43 poetas, entre eles, Zé Paulo.

A Fundação Cultural Cidade de Maceió (FCCM) seleciona centenas de poemas de dezenas de poetas alagoanos ou que em Alagoas vivem, e publica a Antologia dos Poetas Alagoanos. Mais uma vez poemas da autoria de Zé Paulo são publicados. Mas um fato persiste: o poeta não tem um livro autoral que reúna os seus poemas. Permanece em movimento pela cidade de Maceió, recitando nos bares, nos logradouros públicos, nos salões, nas manifestações estudantis e políticas.

O poeta, certo dia, encontra uma musa e se muda de mala e bagagem, em 1988, para Curitiba (PR), onde permanece até 1991. Continua publicando os seus trabalhos em obras coletivas; uma dessas foi o programa da coreografia Brasil, um país de cores, do Ballet Morozowicz. Expõe ainda no Sesc e no espaço Cultural da Caixa Econômica Federal (CEF), tendo participação ativa na Feira do Poeta.

Hoje o poeta José Paulo vive em Pão de Açúcar, à beira do rio São Francisco, olhando todos os dias o curso do rio, conversando com a sua gente, sertaneja como ele, fonte de sua inspiração e razão da sua existência.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Pauline Alencar

Pauline Alencar
Em comemoração ao aniversário de 125 anos, a Avon lançou em 2011 o concurso cultural “Busca de Talento no Canto Avon Voices”, que pretende lançar a nova sensação da música mundial. Mais de 5 mil cantoras foram avaliadas e apenas 197 passaram para a próxima fase que será realizada no Rio de Janeiro. A alagoana Pauline Alencar é uma das 12 cantoras brasileiras a ter seu talento reconhecido pelos jurados da Avon Voices, dentre eles Ivete Sangalo, que usou como critério para avaliação a melhor voz, interpretação, apresentação, carisma e autenticidade. A condição para que Pauline Alencar represente a musicalidade brasileira em Hollywood, é fazer um rápido registro no site www.avonvoices.com e votar muito durante o período que vai de 22 de abril a 20 de maio. O prêmio para quem vencer o concurso é a gravação de um disco profissional nos Estados Unidos. “Se é pra realizar meu sonho, corro atrás mesmo das oportunidades. Participar de um concurso deste porte pra mim já está sendo muito valioso.”
Para assistir ao vídeo acesse http://www.avonvoices.com/profile/6jennY.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Octávio Brandão

Laura e Octávio Brandão


João Cândido, o almirante negro e Octávio Brandão




O Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a Fundação Dinarco Reis (FDR) convidam para a homenagem de entrega da Medalha Dinarco Reis, em memória, a Octávio Brandão

Octávio Brandão, teórico e dirigente comunista, teve sua vida vinculada à luta dos trabalhadores. Tendo contato com a classe operária desde a infância, Brandão foi um dos primeiros marxistas a olhar para a formação da sociedade brasileira e suas contradições.

No Brasil, foi o primeiro tradutor d’ O Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels. Sua atuação no PCB data o início de sua construção enquanto partido de vanguarda. Já em 1928, foi eleito para o Conselho Municipal do Rio de Janeiro, atual Câmara dos Vereadores, pelo Bloco Operário Camponês (BOC). Juntamente com Minervino de Oliveira, é reconhecido como pioneiro na representação parlamentar comunista no Brasil.

Durante o governo de Getulio Vargas, no ano de 1931, foi deportado para a Alemanha em consequência de suas atividades políticas. No entanto, conseguiu rumar para a União Soviética, onde permaneceu exilado por 15 anos.

De volta ao Brasil, venceu as eleições de 1947, conquistando um novo mandato na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Assim como toda a bancada do PCB, Brandão foi cassado um ano depois, refletindo as opções feitas pelo governo Dutra em relação à Guerra Fria.

Apesar das perseguições, continuou lutando em prol do povo brasileiro. Em 1916‑1917, publicou material (em 1919 transformado no livro Canais e Lagoas) onde defendeu a tese da existência de petróleo no território brasileiro, tendo sido por isso homenageado, em 1937, pelo escritor Monteiro Lobato.


A Vida e a Luta de Octávio Brandão estão intimamente ligadas à luta dos trabalhadores brasileiros.


"No final de tantos combates, vitórias e reveses, reafirmo categoricamente: a causa pela qual me bati é ideologicamente justa e moralmente nobre." (Octávio Brandão, 1970)


"Contra a Burguesia. Contra o Imperialismo. Contra o Latifúndio. As três desgraças do Brasil!!"

Octávio Brandão e as Lutas do Seu Tempo (Documentário – 1978)


Ato com a presença de Antonio Carlos Mazzeo, João Quartim de Moraes, Mauricio Azedo, Vereador Eliomar Coelho (PSOL), Partido Comunista Brasileiro, Fundação Dinarco Reis e Centro Cultural Octávio Brandão

Plenário da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, dia 18 de Março às 18:00 - Cinelândia, Centro.

Dirceu Lindoso

Ciclo de Debates em torno da Obra de Dirceu Lindoso
Data: 24/03/2011 Horário: 14h00 às 19h00 Local: Auditório do LCCV/UFAL

Promoção: Programa de Pós-Graduação em Sociologia – PPGS/ICS/UFAL
Laboratório da Cidade e do Contemporâneo – LACC/ICS/UFAL
Pró-Reitoria de Extensão – PROEX/UFAL

P R O G R A M A Ç Ã O
14h00: Abertura oficial

14h20: Considerações sobre aspectos da obra de Dirceu Lindoso a partir de “As Invenções da Escrita”
Palestrante: Profº. Emérito Dr. Otávio Velho (Museu Nacional/UFRJ)

15h00: Título da palestra: Antropologia e Literatura: duas escritas?
Palestrante: Profº. Dr. Moacir Palmeira (Museu Nacional/UFRJ)

15h40: Uma Identidade em Questão: a alagoana
Palestrante: Profº. Dr. Osvaldo Maciel (ICHCA/UFAL)

17h20: Debate aberto com o público
18h00: Lançamento do livro A Razão Quilombola, de Dirceu Lindoso, pela EDUFAL, no hall do LCCV

*Serão fornecidos certificados da PROEX, com carga horária de 5 horas, aos participantes. Inscrições na Secretaria do ICS

Ybys Maceioh


SERVIÇO:

PROJETO PALCO ABERTO – 6ª EDIÇÃO

Dia: 24 de março

Local: Espaço Cultural Linda Mascarenhas

Programação:

• A partir das 18:00h – Estrutura de Bar; Exposições, Apresentação de Folguedo.

• Às 20:00h – Show com IBYS MACEIOH

Ingressos:

• R$ 10,00

• ½ entrada (estudantes e melhor idade) e aquisição antecipada: R$ 5,00

Vendas de Ingressos Antecipados:

• Banca Centenário e Banca Porto Seguro (Praça Centenário)

Informações: 8833 8420 – 9936 2133

Realização: BOIBUMBARTE

Parceria: : IZP – Instituto Zumbi dos Palmares

Apoio Cultural: Santoregano



quinta-feira, 17 de março de 2011

Oráculo, casa da boa música

Banda Gato Zarollo





Geraldo de Majella

Há dez anos o Oráculo tem sido a casa da boa música em Jaraguá, território de sambistas, chorões, roqueiros e frevos. Os que gostam de samba não precisam consultar as divindades, pois os oráculos indicarão aos sábados, no crepúsculo da tarde, o caminho alegre dessa casa de música, na praça do Rayol.

Jaraguá é território da boêmia desde que Maceió nasceu com altos e baixos. Muitas vezes pensamos que tudo vai se acabar, e num outro instante o bairro ressurge das cinzas ou dos escombros.

Ainda moram, no bairro, figuras expressivas da boêmia como Etevaldo Cavalcante, o Tebas, que é um dos mais antigos e também um dos mais assíduos às tardes de samba e choro no Oráculo. Animado, dançarino e tomador de uísque, do alto dos seus 79 anos de idade e com mais da metade da vida ativa como boêmio, um incansável.

O escritor Carlito Lima, boêmio declarado, especialista em Jaraguá, afirma com conhecimento de causa que nessa região se concentra, aos sábados, principalmente, a maior quantidade de mulheres bonitas de Maceió.

Daí, suponho ser o motivo de haver tantos admiradores de samba e boêmios dançando no salão daquela casa, que podemos batizá-lo templo da boa música.

O antigo casarão onde se localiza o Oráculo propicia um excelente local para o público: amplo, arborizado e revitalizado como foi toda a região de Jaraguá. As gerações vão se misturando na praça e dentro da casa de música sem divergências; tudo acontece em harmonia. Quando termina a noitada de samba abre-se um outro espaço, o dos roqueiros.

Aos sábados, depois das vinte e duas horas, são os jovens amantes do velho rock and roll que dominam o pedaço. Os cabelos arrepiados, calças cortadas, correntes, óculos extravagantes, os tipos acrescidos ou ornados com muitas e visíveis tatuagens, fumam e dançam até a madrugada.

O idealizador dessa obra, o Oráculo, é Wagner Almeida, filho de um também boêmio, Valter Almeida, que no final da década de 1970 abriu a primeira boate de Anadia (AL), a Zueira Dancing Bar. Essa obra tem tido vida prolongada, sendo talvez o Oráculo a sua continuidade.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Dia Nacional da Poesia

Ferreira Gullar

Maanoel Bandeira

Marcus de Farias Costa e Robson Amorim, no violão


Sidney Wanderley


Carlos Drumonnd de Andrade

Jorge Cooper, esposa e o filho Charles



Clarice Lispector



Ana Cristina César

Lêdo Ivo



















domingo, 13 de março de 2011

Carnaval em Maceió, por que, não?










OH! BELA

Frevo-canção de Capiba

Você diz que ela é bela,
Ela é bela, sim, senhor,
Porém poderia ser mais bela
Se ela tivesse meu amor, meu amor.
Bela é toda a natureza, ô bela,
Bela é tudo que é belo, ô bela,
O sorriso da criança,
O perfume de uma rosa,
O que fica na lembrança.
Belo é ver o passarinho, ô bela,
Indo em busca do seu ninho, ô bela.
Todo mundo se amando
Com amor e com carinho
Uns sorrindo outros chorando
De amor.



Geraldo de Majella

“Maceió é a cidade para se descansar durante o carnaval.” Todos sabemos que uma mentira, depois de ser muitas vezes repetidas, acaba passando como se fosse um fato verdadeiro. Mas quem são os interessados na difusão dessa mentira? Os hoteleiros? Nego-me a acreditar em tão risível coisa. Não consigo entender e muito menos achar que isso é algo inteligente para ser dito.
Mas já ouvi muitas vezes autoridades em público categoricamente afirmarem tal coisa. Dos empresários ouvi sutilmente dizerem que durante os festejos momescos, os hotéis estão ocupados. Menos mal.

As festas em todos os lugares do mundo são caminhos certos de atração de rendas, de riquezas, além, óbvio, de prazer e alegria. Com o carnaval não é diferente. Mas parece que em Maceió estão – e não é de hoje, já faz bastante tempo − querendo cristalizar uma grande mentira, e o povo em boa hora está dando sucessivas respostas, que são sinais de vitalidade a cada ano.

As prévias carnavalescas estão crescendo ano após ano; antes, na cidade, tínhamos os famosos banhos de mar à fantasia, sempre no domingo que antecedia o sábado de carnaval.

Blocos animando milhares de foliões que, frevando no asfalto da avenida da Paz e na areia branca da praia, se esbaldavam. O Poder Público apoiava, mas era a espontaneidade do povão, com toda a irreverência possível, que alegrava e abria triunfalmente o nosso carnaval.

A Polícia Militar, através do Bloco Vulcão, animava o Banho de Mar à Fantasia. Dito assim parece que estou sendo saudosista, mas não. Estou apenas trazendo uma referência histórica. Essas eram as prévias − como o nome sugere era assim que se abriam os carnavais de Maceió, durante muitas décadas, desde tempos imemoriais.

Evidentemente que houve mudanças, tanto de local como no modo de a população brincar no carnaval. O corso, por exemplo, existiu numa época em que o automóvel era uma novidade na sociedade alagoana e brasileira. Hoje, certamente, o corso não teria o apelo que já teve no passado.

A conversa, hoje, é outra. O Pinto da Madrugada, o maior e mais famoso bloco de Alagoas, tem levado para a avenida Antonio Gouveia, na Pajuçara, milhares de foliões. Nunca na história dos nossos carnavais tamanha multidão acompanhou animadamente um bloco de carnaval.

O Pinto é o maior e o mais encantador, mas o que dizer de dezenas de outros blocos que desfilam garbosamente pelas ruas de Jaraguá e pelos bairros da capital? Os Desempregados, bloco organizado pelos moradores do Benedito Bentes, tem desfilado com milhares de foliões, moradores do bairro.

O que eu denomino de circuito Jatiúca−Santo Eduardo tem os seus blocos tradicionais: Os Inocentes e o Bloco da Gal, em Jatiúca, a Confraria do Rei, no Santo Eduardo, arrastam foliões dançando pelas ruas dos bairros.

O presidente da Liga dos Blocos de Maceió, Edberto Ticianelli, vem se dedicado desde a sua fundação, em 1991, para que na cidade se organize o carnaval, antecedido pelas tradicionais prévias.

Mas existe algo ainda não identificado, pelo menos por mim, que trabalha ferozmente contra a ideia saudável de em Maceió haver carnaval com blocos, orquestras, grupos de maracatus, cirandas, bois, onde o frevo seja o ritmo predominante durante os festejos de Momo.

Atentem bem. Se existem e desfilam em Jaraguá, e em outras áreas da cidade, cerca de 130 blocos – esses são os inscritos na Liga −, sem que houvesse qualquer apoio significativo do poder público, imaginemos com o mínimo de apoio efetivo.

E o que dizem os gestores públicos da área? Turismo e cultura andam juntos em todos os lugares do mundo, mas aqui em Alagoas estão dissociados. Esse divórcio vem provocando sistematicamente o empobrecimento da população.

A racionalidade econômica diz que os empresários deveriam ser os principais interessados, creio que indo além do Poder Público, da prefeitura e do governo do Estado. Os hoteleiros podem ampliar os seus negócios, os distribuidores de bebidas e refrigerantes, água mineral, sucos etc., também certamente ampliariam os seus negócios. Os varejistas de um modo geral, os supermercados, para ficar nesses apenas, ganhariam bem mais.

A economia advinda do carnaval seria robustecida em Maceió e em Alagoas. Os ambulantes ganhariam porque comprariam mais produtos industrializados nas redes varejistas e, após os festejos do carnaval, suas contas bancárias estariam mais recheadas.

A municipalidade e o governo do Estado, destino natural dos impostos, certamente ficariam mais bem colocadas na fotografia do carnaval de Maceió e de Alagoas.

O fio condutor, para mim, é a economia. A Liga dos Blocos, blocos individualmente e até figuras de expressão da cidade, devem se unir para apresentar uma proposta de organização do carnaval de 2012 aos representantes das entidades do comércio e das indústrias de Alagoas. Em seguida seria a vez desse grupo procurar o Poder Público.

Recife: 474 anos

O poeta Carlos Pena Filho com a filha Clara Maria



CHOPP

Carlos Pena Filho

Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.
Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados

Carlos Pena Filho (Recife, 17 de maio de 1929 — Recife, 1 de julho de 1960) foi um poeta brasileiro, considerado um dos mais importantes poetas pernambucanos da segunda metade do século XX depois de João Cabral de Melo Neto.
Formado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, em frente à qual hoje se encontra o busto do poeta. Teve sua carreira prematuramente encerrada em virtude de sua inesperada morte em 1960, quando ele ainda estava com 31 anos de idade.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Pena_Filho