segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cantoria, casa de bamba



O samba é a maior expressão da música brasileira. No entanto, os locais para ouvir e dançar são restritos em Maceió. O Bar Cantoria tem sido, nos últimos cinco anos, o palco onde o samba desfila e os sambistas têm o abrigo necessário na cidade. Encravado entre casas e quintais, bambas catam e tocam samba em Mangabeiras.

Nelson Sargento, compositor carioca diz que: “o samba agoniza, mas não morre”. Isto tem sido observado ao longo dos tempos: as modas aparecem do nada e abafam o samba momentaneamente. Mas, a exemplo da Fenix, o samba reaparece, emerge do mergulho imposto, volta garboso aos palcos, aos botequins, no carnaval. É exaltado nas ruas, nas rodas de sambas, em casas pobres bambas mantém a tradição, renovando-o, sempre.

É nesta fase de afirmação que se encontra o samba em Maceió. A resistência é explícita. Diante da segregação das mídias, tem sido tocado e cantado durantes as tardes, noites e pelas madrugadas no Bar Cantoria.

O bar sobrevive faz cinco anos, comemorados no último 25 de outubro. Música ao vivo tem em muitos lugares, nos quatro cantos da cidade e em quase todas as encruzilhadas, mas é raro um cantinho como o Cantoria.
As mesas espalhadas pela rua formam um ambiente descontraído, cerveja gelada, tira-gosto. Aos poucos vão chegando boêmios, músicos dispostos a cantar, oferecendo canjas semanais.

Há entre os assíduos freqüentadores um que se destaca sem fazer força, é o infant terrible, Marcos Farias Costa, poeta, compositor e pesquisador de música popular.

Marcos pode ser considerado - sem que tenha reivindicado - o compositor da casa. Suas músicas, gravadas por Ibs Maceió, são cantadas. Tudo transcorre num clima de camaradagem. Boêmios de várias gerações sentam lado a lado, alguns cantam, outros bebem, mas há um traço comum entre todos: o samba, a boa música.

O poeta Fernando Fiúza, larga a lide acadêmica e vem sorver cerveja gelada ao som de cavaquinho e violão numa mesa que nos Clubes é denominada como: “da diretoria”, a que fica em frente aos músicos.

A proprietária da Casa é a cantora Ismair Martins. Não é raro ouvi-la cantando entre o fechamento de uma conta e outra do freguês que se vai. Mas, quando o santo baixa, Ismair solta a voz e canta sambas que consagraram Clara Nunes. Nesse momento Iansã, rainha dos raios, das ventanias e do tempo que se fecha sem chover, em forma de tempestade, é a própria Santa Bárbara que baixa. Axé!
O cantor e engenheiro Robson (Robinho) Melo é outra figura ligada ao samba que invariavelmente comparece ao Cantoria e solta a voz em canjas concorridas. O repertório escolhido tem músicas de Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho, Cartola, Noel Rosa, dos compositores alagoanos e as suas próprias composições, a motivação principal.

A voz abaritonada de Agildo Alves, coronel reformado da PM alagoana, é por todos admirada. O afinado cantor castrense traz no seu repertório preciosidades musicais de Augusto Calheiros, Francisco Alves, Ataulfo Alves e dos contemporâneos. Podemos afiançar que é a voz mais potente do pedaço. Discreto, mas presente nas rodas de bambas de Maceió, é um dos canjeiros do Cantoria.

A presença da psicóloga Lurdes Tenório acalma o Cantoria com choros, frevos canções e sambas. A sua voz afinada e cadenciada encanta a todos, atrai os olhares e faz bem aos ouvidos dos freqüentadores. Outra cantora que levanta a galera é a professora Gabriela. Cantando músicas imortalizadas na voz de Elis Regina, o seu tipo físico lembra a saudosa cantora gaúcha.

E o que dizer de Tebas? Vetusto boêmio, do alto dos setenta e nove anos é o mais assíduo. A ginga de boêmio afeito a noite e ao samba é disparado o mais alegre e o mais elegante entre os homens.
Tebas, trás no bolso um ganzá, instrumento de sua predileção e a sua marca de boêmio das noites maceioenses. As duas mãos sempre estão ocupadas: em uma o instrumento e na outra o sagrado copo com uísque. Quando descansa, acende um cigarro numa animação quase juvenil. Este é o honorável Tebas.

O samba é embalado por Clóvis (Zé Coió) no surdo; Josenildo (Manga de Eixo) no violão 7 cordas; Deda no pandeiro; Wellington alterna no cavaquinho e também no bandolim, é a sagração de um grande músico e o deleite dos fregueses é uma atração à parte; Castanha (ex-massagista do CSA) se destaca como malabarista ao tocar afoxé, dá canja todas as sexta-feira.

O Cantoria é para curtir e amar nas luas minguantes, cheias, crescentes e novas. Como diz Martinho da Vila: “ o samba é o Pai da alegria.”

Bar Cantoria
Onde fica: Rua Desembargador Osório Valente de Lima, 23
Mangabeiras – Maceió – Alagoas.
Fones: 99186745 – 91545683 - 88859992
Horário de funcionamento: sexta, à noite e sábado a partir das 15 horas.




Ismair Martins.

Sonia, o poeta e compositor Marcos de Farias Costa e Lurdinha

12 comentários:

  1. Parabéns pelo blog,Majella! Parabéns pela criação de mais um veículo cultural na internet!


    Cidinha Madeiro

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  2. Parabéns pelo blog! Você sempre uma surpresa.

    Parabéns pelo texto apaixonado. Fiquei com vontade de ir, ainda não conheço, mas vou conferir.

    Grande abraço.

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  3. Olá Majella,

    Da próxima que eu for a Maceió você tem que prometer que me levará a essa casa para ouvir esse samba. Faço samba de gafieira e adoraria ir dançar lá.
    Enorme abraço
    Rosilã
    Brasília

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  4. Parabéns pelo Blog, não lembrava mais desse bar. Abraços,

    Ranulfo Paranhos

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  5. OLÁ MAJELA PARABENS PELO Blog camarada voce precisa me levar lá ,preciso conhecer. bjs , Eliane Silva conselho das associaçoes comunitaria do Benedito Bentes( conj prof Paulo Bandeira)

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  6. Vida longa ao blog, Majella! Com essa apresentação tão simpática, fiquei com vontade de ir ao Cantoria.

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  7. Majellinha, meu camarada!
    Parabéns, parabéns! Texto fino, saboroso, estimulante. Todos ao Cantoria, já! E o blog do Majella? Pode chegar.
    Bj
    Bleine Oliveira

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  8. Coloquei um link do seu blog no meu acreditandonotruque.

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  9. Painho, você fecha sem ser feriado! Agora não diga a idade do cara não que queima, pô! Você e a sua mania de achar lindo o cara ter que ler com o dicionário do lado! (Isso foi um elogio)
    A matéria ficou ótima, apesar de mais ou menos umas 10 mil palavras que eu não intendi (sim, eu fiquei com preguiça de olhar no dicionário), parabéns!
    beijo, te amo ♥

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  10. Parabéns, Parabéns! Ta muito legal, o texto tem mesmo a sua cara, o seu olhar observador de sempre. Eu como carioca me senti em casa faz lembrar o botequim da Portela.

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  11. Parabéns, Majella. Vida longa para este blog.
    Um abraço,
    Zealberto

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