terça-feira, 12 de outubro de 2010

Amigo Majella


(*) Carlito Lima


É quase meia-noite, 3 de outubro, resolvi lhe escrever, narrar os acontecimentos desse belo dia de eleição, significativo para a democracia. Pela manhã telefonei para sua filha, Isabella; ela deu-me boas notícias: breve você sai da UTI, um alívio. Seu infarto foi uma notícia apreensiva para os amigos, ainda bem que a equipe do Dr. Wanderley, Dr. Gilvan, resolveu seu problema. Cuide bem desse coração, tem um monte de mulheres bonitas para lhe dar trabalho. Ele deixou seus amigos preocupados.

Majella, você é uma figura especial nesta terra caeté. Saiu de Anadia jovem, em busca de ideais nas esquerdas da vida, lutou; batalhou pela redemocratização do Brasil e tem uma boa parcela nessa luta. Homem culto, eclético, você tem uma peculiaridade importante: detesta a hipocrisia. Podem dizer, sou suspeito para falar, mas amigo é para essas coisas: ver o lado bom; seus defeitos, deixo-os para os inimigos, aqueles mal- amados que destilam veneno, inveja.

A vida é bela, está esperando-o aqui fora. Contaram-me que três competentes enfermeiras fizeram raspagem antes dos procedimentos médicos; você se empolgou, se deliciou com seis mãos femininas alisando, raspando os pelos pubianos. O bom humor prevaleceu nesse momento difícil. Esse pequeno detalhe é sintomático nos grandes homens: encarar a morte com naturalidade e com coragem. Ainda bem que não chegou sua vez, pois temos ainda muitos papos divertidos na sorveteria Bali, olhando as belezas da Pajuçara. Você é um apreciador de mulheres, portanto, um apreciador da vida. Tenho certeza de sua breve recuperação. Mas vamos aos acontecimentos de hoje, motivo dessa carta à quase meia-noite.

Resolvi só votar pela tarde; na manhã fui ao acarajé da Irmã, praia da Jatiúca. Peguei mesa e cadeira, e saboreando o acarajé dei uma olhada em torno da praia. A meu lado, sozinha, embaixo de uma sombrinha, uma bela morena, biquíni azul-claro, tomava cerveja em lata. Em dia de eleição a lei seca não vale na praia; ainda bem que existem essas pequenas violações às pequenas leis. Não foi para me enxerir, puxar assunto, juro, a morena estava com uma filha de seis a sete anos dentro d’água. Adverti a moça, a maré enchendo, as ondas tornando-se bravas, era bom ficar de olhos abertos para a criança dentro do mar. Ela me agradeceu, levantou-se, trouxe a menina para mais perto, sentou-se novamente, tomando a cerveja na mão. Disse não ser sua filha, mas filha do homem com quem vivia; não parou mais de falar, contou a vida em três latinhas de cerveja. Por gentileza, dei atenção. Não faz mal ser gentil na praia quente, ao meio-dia.

Do outro lado, três senhores gordos discutiam sobre candidatos; o mais exaltado apelava pelo voto em branco, não havia mais esperança para o Brasil. Outro gordo interferiu; chamando-o de derrotado, citou políticos merecedores de votos, trabalhadores, que ele votaria no fulano e na sicrana. Discussão prolongada, todos falavam, ninguém ouvia; como futebol e religião.

Apareceram duas morenas, em minha frente estenderam suas toalhas. Bem devagar, num ritual sincronizado, as deusas tiraram short e blusa como se fosse um strip-tease particular. Eu acompanhei todos os detalhes daqueles movimentos corporais, lembrei-me dos versos de uma ciranda, “... Eu disse tem morena, mulata, dessa que a morte mata e depois chora com pena”. Ajeitaram o biquíni em cima, embaixo, deitaram-se, deixando o sol acariciar a pele morena da cor de mel de engenho. Lembrei-me de você, Majella, aí na UTI e eu, privilegiado, olhando as Vênus calipígias, morenas tropicanas. Logo chegaram dois atletas, sarados, sentaram-se a passar óleo nas costas das moças: eram os donos do pedaço.

Meia-noite, as eleições estão decididas, apuradas, contadas no computador, rápido; outros países não têm nossa tecnologia, o Brasil está na ponta. Há bem pouco tempo se passava um mês para finalizar uma apuração. Amigo Majella, por telefone eu não lhe passaria o resultado com medo de outro infarto. As pesquisas furaram! Lula havia preparado uma festa de arromba para a comemoração da vitória da Dilma no 1° turno, mas a Marina botou água no chope, aliás, no uísque, adiando a festa. Resta não morrer na praia.

Alguns “taturanas” foram eleitos, outros não. Um dia o povo vai acertar; não acertou ainda porque não chegou o dia. Injustiça sempre haverá, faz parte da democracia. Não conheço outro regime melhor. Um abraço, Majella. Restabeleça-se, pois os amigos exigem o retorno de sua alegria e de sua sabedoria. Você é um historiador importante para escrever a história política das Alagoas. Até mais ver!!!


Carlito Lima - escritor e Membro da Academia Alagoana de Letras.

3 comentários:

  1. Majjela,soube atrasado da sua enfermidade.Ainda bem pois,ao tomar conhecimento,soube que você já estava bem.Fique melhor ainda!
    Forte abraço,Antonio Carlos Quintiliano.

    ResponderExcluir
  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk eu me acabo com o carlito!
    Carlito Lima - escritor e membro da academia alagoana de letras.
    modesto todo ele. kkkkkkkkkkkkkk

    ResponderExcluir
  3. Caro Majella, se cuda hém! Só agora, lendo seu blog tomei conhecimento que andou tendo um piripaco...mas, infeliz daquele que não tem um amigo tão espirituoso qto o Carlitos Lima rsrs. Se cuida! Grande abraço.

    ResponderExcluir