sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Obrigado, pai


Flávio Gomes de Barros

Quando assumiu a Prefeitura de Joaquim Gomes, em janeiro de 1969, papai tinha como prioridade três metas: ampliar as ações na Educação, implantar o abastecimento d’água e pavimentar as vias principais (a cidade não tinha uma única rua calçada).

Era a síntese do que desejava a comunidade.

Na Educação, abriu escolas, adquiriu equipamentos e capacitou pessoal. Quanto às outras metas, encontrou dificuldades. Mesmo assim, no final do mandato conseguiu adquirir paralelepípedos, colocou meio-fio em algumas ruas, mas não fez a pavimentação.

Eu, então com 17 anos, via aquele monte de pedras amontoadas, próximas à Prefeitura, e ousei sugerir: “Pai, coloque o calçamento. Pelo menos terá feito a pavimentação. A água o futuro prefeito coloca.”

A resposta foi dura: “Se eu calçar agora, quando forem colocar água vão ter de quebrar tudo, para fazer de novo. Aí, a prefeitura irá gastar duas vezes. Seria irresponsabilidade e desperdício da minha parte gastar agora com calçamento. Isso eu não faço.”

Um exemplo que carrego para o resto da vida.

Poucos sabem desse episódio, no único mandato político exercido por papai. E muitos devem estar surpreendidos, ao saberem disso, pela sua maneira de ser.

Dou esse testemunho agora, após a sua morte, para mostrar que aquele sujeito bonachão, brincalhão, solidário, alegre, muitas vezes irresponsável com ele mesmo, era um cidadão decente.
Movido pelas circunstâncias, certamente falhou algumas vezes, algo inerente ao ser humano. Mas, na essência, Mário Calheiros Gomes de Barros, filho de Dona Linda e Seu Zé Gomes, era um homem bom, com um jeito bem peculiar de ser e de amar.

Do mesmo modo que era enfático ao enaltecer quem qualificava como “um homem de bem” era implacável com quem considerava “cabra safado”. Nada com ódio, apenas com rigor, para estabelecer a distinção entre o bem e o mal, dentro dos seus critérios.

O principal, na sua trajetória terrena, é que viveu a vida intensamente, amou, foi amado, praticou o bem e deixa uma saudade enorme entre os que com ele conviveram.

De minha parte, a manifestação maior é a constatação dos seus netos e bisnetos, meus filhos e netos, de que nunca me tinham visto chorar. E tenho chorado muito, para surpresa deles.

Todo o meu sentimento só pode se resumir numa expressão: obrigado, pai.

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