terça-feira, 11 de março de 2014

Viçosa Cheia de Graça


 

 O poeta Sidney Wanderley
 

Por: ANTONIO SAPUCAIA − desembargador aposentado

Recebi, li e gostei enormemente de Cidade, o mais recente trabalho de Sidney Wanderley. Seu livro é uma metrópole de bom humor, além de retratar, em pedaços e com jocosidade, a cidade a que mais amo depois da Pilar em que nasci: Viçosa de Alagoas. A hilaridade de que está impregnada cada crônica traduz-se em meizinha predisposta a curar desânimo, fígado doentio, qualquer tipo de melancolia e tristeza, salvo aqueles que exigem tratamento psiquiátrico. Teria sido influência do farmacêutico Zé Aragão ou do médico José Pimentel de Amorim?

Conhecia o poeta de Chuva e não, Dias de sim e poemas outros espalhados em jornais da terra; conhecia o corregedor de textos e, em raras e felizes oportunidades, cheguei a conhecer um pouco o divertido orador. Mas esse cronista que nos arranca da mais arraigada casmurrice, que nos alegra e faz festa para a nossa alma, foi-me agradável surpresa. Restituiu-me ele, em lembranças, figuras como Zé Aragão, Zé do Cavaquinho, Sinésio Rodrigues, padre Jatobá, Manoel Acioli, com o seu andar desleixado que fazia coro com o paletó que lhe caía pelos ombros, e de quem adquiri alguns livros fiado, sobretudo exemplares da “Revista Forense”.

 

A leitura de Cidade me foi benéfica, em termos de recordações, merecendo destaque a “Feira de Viçosa”, que expõe um retrato sem retoques, fotografada que foi com muita fidelidade. Lamentei não encontrar uma crônica específica sobre o rio Paraíba, com as suas pedras enormes e expostas em tempo de escassas chuvas, escondendo o Schistosoma invisível que só iria dar sinal de vida em alguns ventres inchados, que nele se banhavam. “Conversa de suicidas”, que mistura o trágico e o cômico, é coisa de causar inveja a Machado de Assis nalguns momentos de fina ironia. Que conselheiro fabuloso revela-se o Sidney Wanderley numa rápida troca de correspondência com um candidato ao suicídio! Nem mesmo os padres escaparam do chiste bem construído pelo autor.

 

O bom mesmo é ler o livro todo num só deitar de rede, como eu fiz, sem deixar para depois as “Coisas de jornal”, que foram pescadas pelo autor em antigos jornais da cidade. Sidney Wanderley pintou Viçosa usando vívida tinta de recordações e pincéis de graciosidade, o que deixa o leitor de mão no queixo diante de Cidade, já agora erguido nas livrarias.

 Gazeta de Alagoas -5/3/2014 - p. 4.
 
 

Um comentário:

  1. Bom que o livro do Sidney, que vou correndo comprar, agora, nos revela esse excelente crítico literário, Antonio Sapucaia, que é coisa que faz muita falta na imprensa daqui. Parabéns para os dois.

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