Ana Maria Rocha e Jorge Oliviera recebendo mais um prêmio
Jorge Oliviera pensativo
Geraldo de Majella
Jorge Oliveira é jornalista profissional há 46 anos; nasceu em 1948 no bairro do Prado, na cidade de Maceió. Iniciou a carreira como repórter em Alagoas, passou pelas principais redações dos jornais impressos e rádio: Diário de Alagoas, Gazeta de Alagoas e Jornal de Alagoas e Rádio Difusora. Na década de 1970, muda-se para o Rio de Janeiro, onde vai trabalhar nas redações do Correio da Manhã, O Globo, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Folha de São Paulo, Última Hora, Tribuna da Imprensa, Jornal de Brasília, Rádio Nacional, Radio JB e Radio MEC.
O espírito irrequieto − uma das suas características − e a disposição incansável de repórter, frequentou quase todas as editorias. Em 1973, com pouco mais de três anos no Rio de Janeiro, ganhou o prêmio DER de reportagem − o primeiro da carreira −, quando trabalhava no jornal O Globo.
O prêmio Esso é o mais cobiçado dos prêmios pelos jornalistas; Jorge ganhou dois. O primeiro em 1980, com uma série de reportagens sobre energia nuclear, pelo Jornal de Brasília. Em 1981 ganhou novamente o prêmio Esso, desta vez em equipe e pelo Jornal do Brasil.
Em 1978 foi enviado pela Editora Três a Alagoas para fazer uma reportagem sobre o “Sindicato do Crime”, organização criminosa com longa atuação no Estado. Nesta oportunidade, foi preso por policiais civis e levado para uma Delegacia de Polícia, onde foi barbaramente torturado.
Quando foi solto, recebeu a solidariedade de amigos jornalistas, apesar de continuar recebendo ameaças dos policiais. Sua família também foi ameaçada, numa clara indicação de descontrole do aparelho de segurança.
O Coojornal, jornal mensal editado em Porto Alegre pela Cooperativa dos jornalistas do Rio Grande do Sul, publicou a reportagem; o Jornal de Alagoas e o semanário Desafio republicaram a matéria. Nessa época andava em curso uma intensa atividade criminosa com origem na cúpula da Secretaria de Segurança Pública.
O governador de então, Divaldo Suruagy [1975-1978], diante da repercussão negativa do fato criminoso ocorrido contra o jornalista alagoano, convidou formalmente o torturado para um almoço em palácio. No dia agendado para o almoço, ocorreu o inesperado: o governador havia concedido uma audiência à cúpula do “Sindicato do Crime,” que às portas fechadas discutia amistosamente, e ao final os “dirigentes do Sindicato do Crime” são recepcionados pelo Chefe do Executivo. Num clima descontraído o jornalista é formalmente apresentado aos “capos” alagoanos.
A “audiência de desagravo” foi a fonte inspiradora para Jorge Oliveira descrever o “casual encontro” entre o jornalista, o “Sindicato do Crime” e o governador de Alagoas. O texto é uma peça histórica que, passados tantos anos, continua atual, com pequenas modificações. O que não se alterou foi a presença de criminosos investidos de mandatos parlamentares transitando pelos corredores palacianos nas Alagoas do século XXI.
O governador Divaldo Suruagy, após o almoço, despede-se dos “coronéis”, conduz o jornalista até o seu gabinete e sentencia:
− Veja só, como podemos acabar com o Sindicato do Crime? Acabamos de almoçar com ele.
Retrucou o jornalista:
− Mas, Governador, não existe uma maneira de sanar esse problema, uma velha mancha em Alagoas?
Arremata o Governador:
− É muito difícil. O Sindicato é composto de chefes políticos influentes em regiões importantes do Estado, com os quais precisamos nos relacionar para fazer política.
As providencias que o governador disse a Jorge Oliveira que seriam tomadas foram duas: primeira, a punição para os policiais que o torturaram; segunda, a destruição do tanque em que o “afogaram.
O semanário Desafio, edição de 20 a 27 de março de 1978, constata que: “Até o momento em que se fechava esta edição, nenhuma providência havia sido tomada”. Ou seja: a tortura continuou a ser praticada em Alagoas, e o tanque não foi destruído.
O jornalismo é um tipo específico de vírus que contaminou Jorge Oliveira ainda muito jovem, pois até hoje, aos 62 anos de idade, mesmo sem estar trabalhando em redações, continua escrevendo semanalmente num semanário de Maceió. Respira jornalismo. Tem escrito alguns livros que são grandes e importantes reportagens, nos quais o tema é Alagoas.
As mudanças ocorridas na carreira e na vida do jornalista foram significativas e positivas. Primeiro, por ter casado com uma colega de profissão, a jornalista Ana Maria Rocha; segundo, porque o casal mudou o rumo de suas vidas mergulhando no mundo do marketing político., atividade em que têm alcançado sucesso − isso vem sendo feito há cerca de 20 anos. O terceiro salto na vida do casal foi em direção ao cinema.
Como diretor de cinema, é uma grata revelação – quem diz não sou eu, apenas −-, mas a critica nacional. Em 1985 recebeu Menção Honrosa pelo filme “O poeta e o Capitão”, no 38º Festival de Cinema de Brasília. Esse filme trata da histórica passagem do poeta chileno Pablo Neruda por São Paulo em 1945, para participar de um comício realizado no estádio de futebol do Pacaembu, juntamente com Luiz Carlos Prestes, líder dos comunistas brasileiros.
Outros filmes foram produzidos e dirigidos por Jorge Oliveira, Ana Maria Rocha, sua assistente de direção, e mais recentemente pelo filho do casal, Pedro Zoca. Os filmes “Mestre Graça”, sobre o escritor Graciliano Ramos, e os documentários “A Esfinge - Floriano Peixoto”, “A Resistência de Marechal” e “Perdão, Mister Fiel” [2010], longa-metragem que conta a história do operário alagoano, militante do Partido Comunista Brasileiro – PCB, Manoel Fiel Filho, torturado até a morte nas dependências do DOI-CODI de São Paulo, em 1975.
“Perdão, Mister Fiel”, recém-lançado, já ganhou oito prêmios em diversos festivais e em categorias diferentes no Brasil. É um filme que ainda vai rodar muito pelo Brasil e no exterior.
A experiência como repórter tem sido bem utilizada por Jorge Oliveira em várias áreas. O livro Eu não Matei Delmiro Gouveia é uma reportagem histórica, e mais uma vez o objeto de estudo é a História de Alagoas. Em Curral da Morte [2010], livro publicado pela editora Record, leem-se as palavras do jornalista Domingos Meireles: “Ao exumar fragmentos de episódios desconcertantes, deliberadamente confinados nos cantos escuros do passado pela historiografia oficial, Jorge Oliveira produz uma obra fascinante, que desvenda a aspereza dos conflitos sociais de uma região marcada pelo atraso e pela barbárie”.
No trabalho de marketing político, além das 16 campanhas eleitorais em que trabalhou, produziu o livro Campanha Política: como ganhar uma eleição – Regras e Dicas, obra que tem sido uma eficaz ferramenta de consulta dos iniciados e dos profissionais da área, mas principalmente dos candidatos.
Múltiplo, como em geral são os jornalistas, foi diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Federação Nacional dos Jornalistas e da Cooperativa dos Jornalistas do Rio de Janeiro.
Jorge Oliviera pensativo
Desafio, edição de 20/27 de março de 1978, p. 7
Geraldo de Majella
Jorge Oliveira é jornalista profissional há 46 anos; nasceu em 1948 no bairro do Prado, na cidade de Maceió. Iniciou a carreira como repórter em Alagoas, passou pelas principais redações dos jornais impressos e rádio: Diário de Alagoas, Gazeta de Alagoas e Jornal de Alagoas e Rádio Difusora. Na década de 1970, muda-se para o Rio de Janeiro, onde vai trabalhar nas redações do Correio da Manhã, O Globo, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Folha de São Paulo, Última Hora, Tribuna da Imprensa, Jornal de Brasília, Rádio Nacional, Radio JB e Radio MEC.
O espírito irrequieto − uma das suas características − e a disposição incansável de repórter, frequentou quase todas as editorias. Em 1973, com pouco mais de três anos no Rio de Janeiro, ganhou o prêmio DER de reportagem − o primeiro da carreira −, quando trabalhava no jornal O Globo.
O prêmio Esso é o mais cobiçado dos prêmios pelos jornalistas; Jorge ganhou dois. O primeiro em 1980, com uma série de reportagens sobre energia nuclear, pelo Jornal de Brasília. Em 1981 ganhou novamente o prêmio Esso, desta vez em equipe e pelo Jornal do Brasil.
Em 1978 foi enviado pela Editora Três a Alagoas para fazer uma reportagem sobre o “Sindicato do Crime”, organização criminosa com longa atuação no Estado. Nesta oportunidade, foi preso por policiais civis e levado para uma Delegacia de Polícia, onde foi barbaramente torturado.
Quando foi solto, recebeu a solidariedade de amigos jornalistas, apesar de continuar recebendo ameaças dos policiais. Sua família também foi ameaçada, numa clara indicação de descontrole do aparelho de segurança.
O Coojornal, jornal mensal editado em Porto Alegre pela Cooperativa dos jornalistas do Rio Grande do Sul, publicou a reportagem; o Jornal de Alagoas e o semanário Desafio republicaram a matéria. Nessa época andava em curso uma intensa atividade criminosa com origem na cúpula da Secretaria de Segurança Pública.
O governador de então, Divaldo Suruagy [1975-1978], diante da repercussão negativa do fato criminoso ocorrido contra o jornalista alagoano, convidou formalmente o torturado para um almoço em palácio. No dia agendado para o almoço, ocorreu o inesperado: o governador havia concedido uma audiência à cúpula do “Sindicato do Crime,” que às portas fechadas discutia amistosamente, e ao final os “dirigentes do Sindicato do Crime” são recepcionados pelo Chefe do Executivo. Num clima descontraído o jornalista é formalmente apresentado aos “capos” alagoanos.
A “audiência de desagravo” foi a fonte inspiradora para Jorge Oliveira descrever o “casual encontro” entre o jornalista, o “Sindicato do Crime” e o governador de Alagoas. O texto é uma peça histórica que, passados tantos anos, continua atual, com pequenas modificações. O que não se alterou foi a presença de criminosos investidos de mandatos parlamentares transitando pelos corredores palacianos nas Alagoas do século XXI.
O governador Divaldo Suruagy, após o almoço, despede-se dos “coronéis”, conduz o jornalista até o seu gabinete e sentencia:
− Veja só, como podemos acabar com o Sindicato do Crime? Acabamos de almoçar com ele.
Retrucou o jornalista:
− Mas, Governador, não existe uma maneira de sanar esse problema, uma velha mancha em Alagoas?
Arremata o Governador:
− É muito difícil. O Sindicato é composto de chefes políticos influentes em regiões importantes do Estado, com os quais precisamos nos relacionar para fazer política.
As providencias que o governador disse a Jorge Oliveira que seriam tomadas foram duas: primeira, a punição para os policiais que o torturaram; segunda, a destruição do tanque em que o “afogaram.
O semanário Desafio, edição de 20 a 27 de março de 1978, constata que: “Até o momento em que se fechava esta edição, nenhuma providência havia sido tomada”. Ou seja: a tortura continuou a ser praticada em Alagoas, e o tanque não foi destruído.
O jornalismo é um tipo específico de vírus que contaminou Jorge Oliveira ainda muito jovem, pois até hoje, aos 62 anos de idade, mesmo sem estar trabalhando em redações, continua escrevendo semanalmente num semanário de Maceió. Respira jornalismo. Tem escrito alguns livros que são grandes e importantes reportagens, nos quais o tema é Alagoas.
As mudanças ocorridas na carreira e na vida do jornalista foram significativas e positivas. Primeiro, por ter casado com uma colega de profissão, a jornalista Ana Maria Rocha; segundo, porque o casal mudou o rumo de suas vidas mergulhando no mundo do marketing político., atividade em que têm alcançado sucesso − isso vem sendo feito há cerca de 20 anos. O terceiro salto na vida do casal foi em direção ao cinema.
Como diretor de cinema, é uma grata revelação – quem diz não sou eu, apenas −-, mas a critica nacional. Em 1985 recebeu Menção Honrosa pelo filme “O poeta e o Capitão”, no 38º Festival de Cinema de Brasília. Esse filme trata da histórica passagem do poeta chileno Pablo Neruda por São Paulo em 1945, para participar de um comício realizado no estádio de futebol do Pacaembu, juntamente com Luiz Carlos Prestes, líder dos comunistas brasileiros.
Outros filmes foram produzidos e dirigidos por Jorge Oliveira, Ana Maria Rocha, sua assistente de direção, e mais recentemente pelo filho do casal, Pedro Zoca. Os filmes “Mestre Graça”, sobre o escritor Graciliano Ramos, e os documentários “A Esfinge - Floriano Peixoto”, “A Resistência de Marechal” e “Perdão, Mister Fiel” [2010], longa-metragem que conta a história do operário alagoano, militante do Partido Comunista Brasileiro – PCB, Manoel Fiel Filho, torturado até a morte nas dependências do DOI-CODI de São Paulo, em 1975.
“Perdão, Mister Fiel”, recém-lançado, já ganhou oito prêmios em diversos festivais e em categorias diferentes no Brasil. É um filme que ainda vai rodar muito pelo Brasil e no exterior.
A experiência como repórter tem sido bem utilizada por Jorge Oliveira em várias áreas. O livro Eu não Matei Delmiro Gouveia é uma reportagem histórica, e mais uma vez o objeto de estudo é a História de Alagoas. Em Curral da Morte [2010], livro publicado pela editora Record, leem-se as palavras do jornalista Domingos Meireles: “Ao exumar fragmentos de episódios desconcertantes, deliberadamente confinados nos cantos escuros do passado pela historiografia oficial, Jorge Oliveira produz uma obra fascinante, que desvenda a aspereza dos conflitos sociais de uma região marcada pelo atraso e pela barbárie”.
No trabalho de marketing político, além das 16 campanhas eleitorais em que trabalhou, produziu o livro Campanha Política: como ganhar uma eleição – Regras e Dicas, obra que tem sido uma eficaz ferramenta de consulta dos iniciados e dos profissionais da área, mas principalmente dos candidatos.
Múltiplo, como em geral são os jornalistas, foi diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Federação Nacional dos Jornalistas e da Cooperativa dos Jornalistas do Rio de Janeiro.
Bastante interessante a biografia em breves palavras do Jorge Oliveira, pena que Alagoas não tenha consciência de sua própria história, mas, com a persistência de algumas pessoas que teimam em registrar a historia de Alagoas, como o blogeiro, podemos sair desse marasmo.....um dia. Parabéns pelo registro.
ResponderExcluirJorge Oliveira, tem uma obra que a historia agradece. Homem de talento tanto na escrita quanto no áudiovisual. Conta Jorge Oliveira a história de sua terra como poucos; cheia de veracidade e criatividade sendo respeitado pelo mundo á fora. Seu trabalho audiovisual, tem enfocado Alagoas com um realismo pertinente. Pouco trabalhei com ele; mas o admiro como homem, jornalista e cineasta.
ResponderExcluirParbéns Majela, seu blog cumpre um grande papel
no registro histórico.
Um generoso abraço.
Chico de Assis
Parabéns pelo registro, Majella. Acabo de ler o
ResponderExcluirCurral da Morte. Excelente!
olá jorge oliveira "arapiraca" parabéns pelo seu trabalho, fiel, como manoel fiel foi ao pcb.
ResponderExcluirpreciso do seu e-mail ou contato telefônico.
um abraço,
joão de castro - ou joão grandão - ou joão da ema - joaocastro1959@gmail.com
O que mais admiro em Jorge Oliveira é a coragem pessoal. Estava com ele numa cobertura de acidente em Três Rios, Estado do Rio, enviados pelo Jornal do Brasil, quando ele percebeu que um policial estava roubando o dinheiro do bolso das pessoas cujos corpos estavam sendo resgatados de um ônibus que afundou num rio. Ele avançou sobre o cara, que estava armado, provocou um bafafá enorme - porque todos corremos para ajudá-lo - e ali se acabou o saque ignóbil dos mortos, apesar das ameaças dos colegas desse policial, que era filho do delegado de polícia local. Jorge não se intimidou em nenhum momento. Eu, que já gostava dele, passei a admirá-lo ainda mais. Essa admiração atravessou os anos, e eu tive o prazer de cumprimentá-lo este ano em Maceió na exibição de "~Perdão, Mister Fiel", obra que retrata com fidelidade o que vivemos naquele início de Governo Geisel, o estertor da ditadura.
ResponderExcluirPesquisando sobre o beato Antonio Francisco de amorim chego na entrevista que G. Sampaio deu ao Jorge. Em 1972 lí Curral Novo do Aldaberon Cavalcante Lins e agora vou ler Curral da Morte.
ResponderExcluirParabéns pelo seu trabalho de pesquisa. Sucesso.