domingo, 23 de outubro de 2011

Uma tarde de samba


Geraldo de Majella
O crepúsculo todos os dias é inexorável. Ao passo que o sol vai se escondendo, magistralmente vem despontando a lua − senhora da noite e dama indispensável do amor. Mas naquela tarde de maio o samba era o senhor dos corações e aspergia alegria, contagiando a todos que estavam no salão, tanto os que dançavam quanto os que, sentados às mesas, bebiam, conversavam e namoravam.

Ao sair de casa, Romualdo pensou alto: “Vou em busca de uma namorada”. Talvez ficando plantado num local onde tivesse uma visão panorâmica do salão, por certo, lhe deixaria uma visão do alvo a ser escolhido. A batida do surdo era para ele o som que vinha do coração. A dupla de cantores interpretava músicas consagradas, e todos no salão, em uníssono, cantavam ou cantarolavam, o que só fazia crescer o clima de animação e alegria.

O Oráculo, faz tempo, se tornou um palco referencial para os sambistas e para os que curtem samba em Maceió. O clima de alegria é propicio para se dançar e também, quem sabe, para iniciar um namoro. Foi numa tarde de sábado, não sei precisar, que avistei uma bela mulher, que me chamou a atenção: dançava animadíssima, sorridente; fiquei olhando, acompanhando os seus movimentos, mas feito um raio em dia de céu aberto, sumiu e não consegui mais vê-la. Procurei por todos os cantos, me pus a andar, mesa por mesa, olhando atentamente. Perdi-a de vista.

Qual não foi a minha surpresa, no fundo do salão, quando a encontrei sentada, tomando água de coco, conversando animadamente com as amigas. Permaneci a meia distancia, novamente acompanhando os seus passos. O que me restava fazer era esperar a oportunidade para abordá-la.

A mulher ansiada tinha traços fisionômicos semelhantes aos de uma outra pessoa que não conseguia identificar com clareza. Será que realmente a conhecia? Será que ela é uma médica que trabalha numa casa de saúde onde faço exames regulares? Tudo ia ficando confuso, e a minha memória não ajudava. Chego a pensar que ela trabalha contra mim, pois quando eu mais necessito dela, como nesse momento, ela não é precisa, clara. Deixa-me ainda com mais dúvidas.
Romualdo resmunga, e diz: “Nada nessa hora pode me atrapalhar”. O que estava se desenhando em sua cabeça era encontrar um meio rápido para sentar àquela mesa com tantas mulheres bonitas e alegres. E entre elas a que lhe chamou a atenção, a que passou a ser desejada.

Os requebros, as pernas torneadas, olhar sensual, silhueta definida pelo vestido jeans azul, tudo enfim é motivo para fantasiar; e ela, leve, calma, risonha, não imaginava que houvesse olhos tão atentos e virados em sua direção.

Sumiu no meio da multidão. Foi embora para casa, saindo à francesa. Mas nada como a sorte: havia uma amiga comum que o socorreu, ao ser indagada sobre quem era e qual o nome da amiga. Os contatos foram feitos, números de telefones foram passados, e em poucos dias aconteceu o melhor: o encontro ansiado num restaurante.

A mulher até então desconhecida e que sambava passou a ser a senhora do coração de Romualdo.
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Daí em diante a vida é puro amor.

Um comentário:

  1. Nayara, seguirei o seu blog. Obrigado pelos comentários.
    Geraldo de Majella

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