segunda-feira, 14 de abril de 2014

50 anos do golpe militar (IV)


                                 

(*) Geraldo de Majella

O historiador uruguaio René Armand Dreifuss, em 1987, publicou 1964: A Conquista do Estado – Ação Política, Poder e Golpe de Classe. Logo se tornou uma referência para os estudiosos do golpe civil-militar brasileiro. As revelações contidas nas 814 páginas desnudaram os golpistas brasileiros, civis e militares e os norte-americanos estimuladores e mantenedores do golpe.

Dreifuss mosta os caminhos, veredas e as veias que irrigaram as redações de jornais e rádios, as campanhas eleitorais, os militares, num mergulho profundo em  fontes documentais até então inéditas. O centro de financiamento da conspiração foi exposto como nunca havia sido antes. O que se sabia eram apenas indicativos. Dreifuss disponibiliza com suas pesquisas as comprovações.

Em seu livro constam a contabilidade e as atividades do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), organização anticomunista fundada em maio de 1959 por Ivan Hasslocher. O IBAD contava com  inumeros empresários brasileiros e estrangeiros como membros, apoiadores, contribuintes e outros como ativistas full time.  

O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), fundado em novembro de 1961, dois anos e meio depois do IBAD, por  Antônio Gallotti e Augusto Trajano de Azevedo Antunes e outros, serviu como um dos principais catalisadores do pensamento anti-Goulart e principalmente como intrumento de financiamento do governo dos EUA,  de empresarios brasileiros e estadunidenses. A finalidade inicial era combater o estilo populista de JK e possíveis vestígios da influência do comunismo no Brasil.

            O general Hélio Ibiapina revelou anos depois o que todos já sabiam: que o IBAD possuía ligações com a CIA. Em Alagoas o IBAD foi dirigido por um colegiado − pelo menos oficialmente − constituido pelos intelectuais Ib Gatto Falcão, Everaldo Macedo de Oliviera, Hélio Ramalho Ferreira e Japson Macedo de Almeida (Dreifuss: 1987:648).

            As ações coordenadas pelo IBAD e pelo IPES são abrangentes e chegam até ao financiamento de campanhas eleitorais de candidatos a governadores, deputados estaduais e federais de vários partidos, como PDC, PRP, PSD, PTB, PR, mas é notoria a vinculação com a União Democratica Nacional – UDN. Em Alagoas o IBAD financia as campanhas de três deputados federais: a do padre Medeiros Neto, a de Oseas Cardoso e a de Sigismundo Andrade (Dreifuss: 1987:334).  

            O IBAD/IPES contava em 1962 com aproximadamente duzentos parlamentares, ou seja, quase a metade da Câmara dos Deputados. Esse contigente de deputados se abrigava num bloco denominado de amigos da Ação Democrática Parlamentar, todos patrocinados pelo financiamento de campanhas eleitorais e publicidades na grande mídia e entre intelecutais de direita pelas duas organizações.

            A estratégia posta em prática pelos golpistas para bloquear as ações políticas do presidente João Goulart no Congresso Nacional, visando implantar as reformas de bases, forçava o presidente a utilizar os decretos presidenciais como instrumento de ação legislativa, fato gerador de impasses no Congresso Nacional. Tendo em vista a fragilidade numerica da banda de apoio ao govenro Jango.

 As crises oriundas dos bloqueios processuais nasciam da maioria parlamentar vinculada aos financiamentos norte-americanos e do empresariado brasileiro e estrangeiro no Parlamento; eram amplificadas na grande mídia, também financiada pelos golpistas, como sinais de crises de governabilidade.

 

(*) Historiador

  

 

 

 

             


 

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