Sidney Wanderley na Peatonal Sarandí
Geraldo de Majella
A escolha do Uruguai para passar alguns dias nas férias, numa curtíssima passagem, não foi aleatória. O destino programado inicialmente era o Chile, mas o terremoto do início do ano fez com que mudássemos de roteiro. A viagem foi reprogramada; o poeta Sidney Wanderley e eu definimos que iríamos para Buenos Aires, a linda capital da Argentina, e em seguida, para duas outras bonitas cidades do Uruguai: Colônia do Sacramento e Montevidéu.
A escolha do Uruguai para passar alguns dias nas férias, numa curtíssima passagem, não foi aleatória. O destino programado inicialmente era o Chile, mas o terremoto do início do ano fez com que mudássemos de roteiro. A viagem foi reprogramada; o poeta Sidney Wanderley e eu definimos que iríamos para Buenos Aires, a linda capital da Argentina, e em seguida, para duas outras bonitas cidades do Uruguai: Colônia do Sacramento e Montevidéu.
A viagem foi planejada de forma tal que caberia um título: roteiro gastronômico-cultural e esportivo. Em Montevidéu o que me chamou particularmente a atenção foram as livrarias e os cafés. Deparamo-nos com uma forte tradição na capital uruguaia: os livros continuam sendo adquiridos em grande quantidade nas centenas de livrarias. Traçamos um roteiro sem qualquer sinal de rigidez. Partimos inicialmente da Avenida 18 de Julho e fizemos um périplo pelas livrarias que encontramos na majestosa avenida e adjacências.
As estatísticas do vizinho ao sul poderiam servir de espelho para o Brasil. A população do Uruguai é estimada em 3.399.237 habitantes, Montevidéu está em torno de 1,8 milhões. Acontece que 97,9% dos uruguaios são alfabetizados, a mortalidade infantil é de 13,1/ por mil nascidos e a expectativa de vida chega a 76,4 anos. Esses, entre outros indicadores, colocam o país na 47ª colocação entre as nações do mundo.
Mas quando se trata da tradição acadêmica o recuo alcança o século XIX, quando foram criadas as duas primeiras Universidades, a da República em 1849 e a do Trabalho do Uruguai em 1878. No campo das artes estão entre os principais teatros duas joias: a Casa de Comédias de 1795 e o teatro Solís, aberto ao público em 1856.
Caminhamos por algumas dezenas de ruas e avenidas na Ciudad Vieja, a principal delas a Avenida 18 de Julho. Andávamos olhando a maior parte do nosso tempo para o alto, observando as edificações. Sem medo de errar, afirmo: são centenas de imponentes edifícios construídos entre o século XIX e XX. As praças estão bem cuidadas e em todas há monumentos que homenageiam os heróis nacionais.
A Plaza Independência e o conjunto arquitetônico que a circunda merece a atenção, e por esse motivo a ela tornamos algumas vezes. O conjunto formado pelo Palácio Salvo, o Palácio Rinaldi e a Puerta de la Ciudadela, além do monumento central que está no centro da Plaza Independência com mais de 10 metros de altura, estonteiam qualquer visitante. A sede do governo uruguaio é uma edificação modernosa e espelhada, destoando do restante das edificações centenárias.
O presidente José Mojica – Pepe despacha na área central da capital, e o povo uruguaio não necessita andar muito para protestar, pois a Plaza Independência é ampla e comporta muita gente.
A busca incessante por livrarias e cafés foi o foco central de nossa estadia em Montevidéu. Estivemos em dezenas, nas grandes, de que já tínhamos alguma referência, em outras que fomos encontrando, e em pequenas, das quais já dispúnhamos de informações mais ou menos precisas.
Sidney se esbaldou em quase todas, comprou dezenas de livros, sobretudo poesia e livros de artes. O meu objetivo principal foi comprar cds e dvds de música latino- americana, tango e, pasmem!, de música brasileira. Encontrei relíquias de Pixinguinha, Clara Nunes, Jackson do Pandeiro, Garoto e Luiz Bonfá, estes últimos, dois gênios do violão; do alagoano Jacinto Silva, de Elis Regina, João Gilberto, Vinicius e Toquinho, dos argentinos Astor Piazzolla, Mercedes Sosa e Carlos Gardel, entre outros. Reconheço a extravagância e por pouco não me inviabilizo financeiramente.
A Librería La Lupa fica na Calle Bacacay, 1.318, vizinha ao Café Bacacay, um dos mais tradicionais da capital uruguaia. Entre tantas que visitamos esta foi a menor; uma livraria especializada e completamente diferenciada. O tamanho do empreendimento chama a atenção: são quatro metros de frente por cerca de onze ou doze metros de fundos, com um mezanino onde são expostos quadros de pintores e também se apresentam músicos, artistas plásticos e poetas performáticos.
Júlia Ortiz, uma bela jovem, torcedora do Nacional (evitem elogiar o Penharol em sua presença), em pouco tempo de conversa confessou: “Aqui não temos best-sellers nas estantes principais; eles estão em pequena quantidade, numa área separada, quase escondidos.” Os best-sellers na La Lupa ficam confinados numa espécie de calabouço. Essa fala foge a qualquer lógica empresarial e foi a abertura de uma longa conversa. Entramos na La Lupa porque estava chovendo e fazendo frio. Mas para nossa surpresa encontramos ótimos livros e bom papo.
Comprei alguns poucos livros, e novamente o poeta comprou um lote de obras de autores sul-americanos: Pablo Neruda, Gabriela Mistral, Mário Benedetti, Juan Carlos Onetti, Eduardo Galeano, Idea Vilariño.
A televisão ligada não me dizia muita coisa, um dvd tocava rock and roll e, na sequência, uma voz conhecida cantando em português: era Djavan. Mais um motivo para continuarmos a conversa com Júlia, que se declarou fã do cantor alagoano − para ela um brasileiro muito querido pelos uruguaios; para nós, orgulhosos, sorrisos largos, pois quem estava cantando era um conterrâneo, e dos mais ilustres.
Os clientes que chegaram enquanto estivemos na livraria vinham pegar as encomendas; Neruda, Benedetti, Saramago, esses eu observei bem, confesso que com bastante curiosidade. Os livros que estavam nas estantes para ser comercializados são rigorosamente selecionados; são livros de arte, literatura (lá se encontra, para nossa felicidade, praticamente toda a obra de Clarice Lispector e alguns dos clássicos de Gilberto Freyre), ciências sociais, gastronomia, música e raros best-sellers, estes invariavelmente escondidos.
Quando as lojas comerciais fecham suas portas, às 14 horas do sábado, a livraria La Lupa inicia a arrumação para as performances musicais. Todos os sábados, a partir das 18 horas, a música reina naquele pequeno espaço; os jovens lotam as dependências, chegando muitas vezes a ocorrer aglomeração na calçada.
Montevidéu tem mais de 100 livrarias, e a La Lupa vem sobrevivendo nesse mercado concorrido onde as gigantes do ramo dispõem de melhores condições tanto para comprar como para vender ou distribuir, usando e abusando da internet. Jorge Larrosa, o proprietário, e Júlia Ortiz, a funcionária, vão rompendo barreiras e conquistando novos clientes, incluindo os alagoanos.
Taí, gostei do texto, e principalmente com o roteiro das livrarias, diferente da nossa terra que ao invés de abrir mais livrarias fecham as existentes. Que o texto sirva de inspiração para que algum empresário possa abrir mais e mais livrarias. Um abraço.
ResponderExcluirola buen blog soy de Montevideo
ResponderExcluirDiego, a sua cidade é muito bonita e culturalmente é algo incomparável com muitas capitais de paises latino americanos. Gostei de Montevidéu e também adorei Colonia do Sacramento.
Excluirlindo blog te felicito http:// gargulasdark.blogspot,com.br
ResponderExcluirObrigado, Diego.
ExcluirMeu singelo elogio vai para a singularidade deste post, um dos únicos sobre Montevidéu que tem como foco livrarias. De fato, brasileiros se interessam pouco por livros. A maioria das dicas de viagem faz referência apenas a lugares históricos e comidas.
ResponderExcluirMuito legal o texto.Parabéns!
ResponderExcluirMuito legal o texto.Parabéns!
ResponderExcluirObrigado, Antonio.
ResponderExcluirObrigado pelo post, vou estudar em Montevidéu, e procurava algum sobre livros e livrarias...
ResponderExcluir