quarta-feira, 5 de junho de 2013

Resistência à ditadura em Alagoas I


 
Freitas Neto e Lula em 1979 no salão Nobre da Academia Alagoana de Letras


O golpe civil-militar de 1º de abril de 1964 atingiu a todos, parlamentares, juízes, ministros, religiosos,  advogados, operários, trabalhadores rurais, portuários. Em Alagoas a antiga Cadeia Pública “hospedou” centenas de patriotas, homens e mulheres. As prisões, as cassações de mandatos parlamentares, a suspensão dos direitos políticos e as torturas tiveram início nas primeiras horas e se seguiram por 21 anos [1964-1985]. O jornal A Voz do Povo foi destruído, os jornalistas, gráficos e diretores foram presos e outros passaram a viver na clandestinidade. É o caso de Silvio Lira, secretário de organização do PCB e diretor do semanário comunista.  
 

O Sindicato dos Jornalistas, fundado em 1958, havia elegido diretores comprometidos com as causas democráticas e favoráveis às reformas de base, inclusive a reforma agrária. O golpe prendeu os principais dirigentes; a Delegacia Regional do Trabalho [DRT] e o comando golpista em Alagoas passaram a controlar as atividades sindicais dos jornalistas. Não só dos jornalistas, mas de todos os sindicatos.
 

Em dezembro de 1968, quando entra em vigor o Ato Institucional nº 5 [AI-5], o terror é estendido para todos os setores, e só em 1978/1979 os jornalistas mais comprometidos com as liberdades democráticas retomam o controle político do sindicato ao eleger uma diretoria negociada, na base, entre os jornalistas conservadores e os combativos. O jornalista João Vicente Freitas Neto é o nome escolhido pelos seus companheiros.

É o passo inicial para as mudanças na categoria e na campanha por liberdades em Alagoas. Nesse mesmo período os radialistas também conseguiram se articular e retomam a diretoria das mãos pelegas. Os radialistas elegeram Adelmo dos Santos e uma diretoria combativa. Os dois principais dirigentes sindicais das categorias (jornalistas e radialistas) se tornaram em poucos meses as referências para os democratas que estavam se rearticulando na Universidade Federal (movimento estudantil) e em várias categorias de trabalhadores. É o caso dos urbanitários, que elegem Pedro Luiz da Silva para presidir o Sindicado dos Urbanitários de Alagoas.

Outros sindicatos foram ressurgindo das cinzas. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Viçosa e Capela, cujos presidentes foram assassinados por motivação política. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pão de Açúcar é outro bom exemplo de resistência. O fato de estar localizado numa região violenta e onde a última liderança do coronelismo dominava a cidade e uma imensa região do sertão alagoano diz bem de sua relevância. 

Os jornalistas, em 1979, realizaram em Maceió o XVII Congresso Nacional da categoria. Este evento converteu-se num importante palanque para que fosse denunciada a censura à imprensa e as prisões de jornalistas; no encerramento do congresso foi lida a Carta de Maceió. O jornalista e radialista Haroldo Miranda, irmão mais velho do dirigente do PCB, jornalista Jayme Miranda, leu uma carta em nome da família, na qual denunciava o desaparecimento do líder comunista.  

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário